Depois de 80 anos, a primeira candidata a vacina contra a tuberculose será testada em humanos até o fim do ano, tentando driblar os mecanismos estratégicos da infecção (foto: OMS)
Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro
Agência FAPESP – Elaborada a partir de uma bactéria atenuada de origem bovina (Mycobacterium bovis) semelhante ao microrganismo causador da tuberculose (Mycobacterium tuberculosi), a vacina BCG foi lançada em 1922 e não impede a infecção nem o desenvolvimento da tuberculose pulmonar. Até hoje não se desenvolveu qualquer imunizante contra a doença, embora cerca de um terço da população mundial seja portador do bacilo de Koch.
No entanto, como a doença tem se tornado uma das prioridades da Organização Mundial de Saúde (OMS), nos últimos anos pelo menos nove vacinas se encontram em fase de ensaios clínicos. Cinco delas estão sendo desenvolvidas pela Fundação Aeras, nos Estados Unidos, uma para ser dada ao nascer – assim como a BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) – e as demais como imunizantes na fase adulta.
Quatro vacinas estão sendo testadas e deverão passar este ano por testes de eficácia em humanos. “Não sabemos se as respostas que obtivemos nos testes com animais vão prever o que irá ocorrer nas pessoas”, disse Jerald Sadoff, chefe executivo do projeto da Aeras, à Agência FAPESP.
Devido a essa dificuldade, a primeira das candidatas – a Aeras 427, chamada por Sadoff de “nova BCG” – ainda nem entrou em testes clínicos. A estratégia de outra candidata, a Aeras 402, é induzir a produção das células T – linfócitos T-4, também chamados CD4 (células de defesa, que lideram o ataque contra as infecções), e as células T-8 (ou CD8+), supressoras que terminam a resposta imune.
“Não sabemos qual delas irá proteger melhor. Os organismos da tuberculose vivem conosco há 500 mil anos”, disse o cientista que esteve no Rio de Janeiro para participar do 3º Fórum Mundial de Parceiros Stop TB.
Segundo ele, além da falta de investimento no estudo da doença, é difícil desenvolver vacinas contra a tuberculose devido aos estratagemas próprios da doença: seus organismos se escondem dentro das células humanas e podem fazer com que uma vacina direcione uma resposta imune na direção errada.
“Para fazer uma vacina eficaz, precisamos induzir uma resposta celular. O problema é que o bacilo da tuberculose se esconde na célula humana. É difícil fazer vacinas contra a tuberculose exatamente porque não sabemos que tipo de resposta podemos provocar e que tipos de células precisamos”, explicou.
Em uma visão otimista, de acordo com Sadoff, a primeira das cinco candidatas deve estar pronta em 2013 e as outras em 2016. Cerca de US$ 200 milhões serão gastos com os experimentos.
“Mas, daqui a dois anos, precisaremos de mais dinheiro para prosseguir com os testes”, afirmou o também presidente da Fundação Aeras, que tem entre seus financiadores a Fundação Bill e Melinda Gates.
“Para vermos se estas vacinas vão funcionar em humanos, temos que testar em cerca de 2 mil pessoas. Apesar das dificuldades, aprendemos muito sobre imunologia, então o momento é agora”, ressaltou.
Fonte: FAPESP
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)