Domingo, 20 de maio de 2018 - 05h16
A disparada do dólar pode tornar as viagens ao exterior muito mais caras. Por isso, especialistas acreditam que consumidores devem trocar viagens para Estados Unidos e Europa pelo turismo interno ou escolher países da América do Sul.
Na última sexta-feira (18), o dólar turismo chegou a R$ 3,95, com alta de 1,02%, enquanto o dólar comercial, usado no comércio exterior, fechou o dia cotado a R$ 3,74, com um aumento de 1,04% em relação ao dia anterior. A alta acumulada da semana chegou a 3,85%. O euro fechou a sexta-feira cotado a R$ 4,40, com alta de 0,9%.
O professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fábio Gallo acredita que haverá uma mudança efetiva no patamar do dólar. “O rally do dólar começou pesado. No primeiro momento, o dólar sobe bastante e depois se acomoda em um patamar mais baixo do que está hoje, mas deve ficar em algo perto de R$ 3,50. Não volta ao que era antes. Isso afeta de imediato a área de turismo, porque está muito caro”, disse.
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav Nacional), Gervásio Tanabe, acredita que os brasileiros que planejaram a viagem com meses ou anos de antecedência devem seguir com os planos de viajar. “Nesse caso, há sim uma preocupação de quanto vai gastar em função da alta dólar porque não é só passagem e hotel. Tem o consumo, as compras. Então, ele pensa em economizar um pouco mais”, disse.
Mas, na avaliação de Tanabe, se a ideia era viajar no próximo período de férias, em julho, pode haver mudança de destino. “Os destinos brasileiros têm muito a ganhar com essa alta do dólar”, disse.
De acordo com dados do Banco Central (BC), os gastos de brasileiros no exterior chegaram a US$ 4,932 bilhões no primeiro trimestre deste ano, com crescimento de 10,2% em relação ao mesmo período do ano passado (US$ 4,474 bilhões). Esse foi o maior resultado para o primeiro trimestre desde 2015, quando foram registrados US$ 5,232 bilhões. No final de março, a cotação do dólar estava mais baixa do que a atual, em R$ 3,44.
Com a alta do dólar, Gallo acredita que os gastos no exterior não devem seguir nesse ritmo. “Isso [a alta do dólar] sem dúvida afeta o cenário das empresas de turismo”, disse o professor.
Tanabe, entretanto, disse que a projeção de crescimento do turismo, neste ano, no país e no exterior, se mantém entre 8% e 10%. O diretor-executivo da Abav acredita que o setor deve adotar estratégias para tentar manter o ritmo de consumo de viagens internacionais. “As agências são muito criativas. Vão buscar mecanismos de fazer com que diminua pouco [as viagens ao exterior], facilitando o prazo de pagamentos para o consumidor, congelando o câmbio”, disse. Por outro lado, avalia, os gastos de estrangeiros no Brasil devem aumentar. “O Brasil fica mais barato ainda para os estrangeiros”, destacou.
Despesas
O professor da FGV recomenda a quem ainda está pensando em viajar ao exterior a analisar alternativas, como países da América Latina. “Se está pensando, o melhor é fazer outra opção. Quem viaja ao exterior leva uma parte dos recursos em moeda, outra em cartão de débito pré-pago e outra no cartão de crédito. Tudo isso pode ficar muito caro, principalmente no cartão de crédito porque o turista não sabe onde vai parar o dólar”, disse Gallo.
No caso de quem já está com a viagem agendada, a estratégia sugerida por Gallo é planejar as despesas em detalhes. “Tem fazer um plano de viagens muito bem. Planeje todos os dias, por período da manhã, tarde e noite. Considere todos os gastos com transporte e gorjeta, por exemplo. Antes de sair do país, compre os ingressos dos passeios pela internet”, recomendou.
Tahiana D'Egmont, sócia de uma plataforma que vende passagens aéreas com milhas, disse que com a alta do dólar os consumidores estão buscando meios de economizar nas viagens. A plataforma permite a compra e venda de milhas. Assim, é possível vender passagens com descontos.
Ela acredita que haverá crescimento das vendas desse tipo de passagens aéreas, mesmo com a alta do dólar porque, com as milhas, os clientes conseguem descontos. “O preço das passagens é baseado em dólar, já as passagens por milhas seguem uma tabela paralela. De janeiro para agora o preço médio das milhas até diminuiu em 5%. Nossa projeção de crescimento é muito agressiva porque como nós somos uma startup [empresa emergente], a gente ainda cresce muito rápido. Este ano gente deve quase triplicar de tamanho em relação ao ano passado”, disse.
Tahiana sugeriu aos clientes com viagem planejada a longo prazo a aplicar uma reserva em um fundo cambial, para se proteger da alta do dólar. Ela sugeriu ainda usar aplicativos de transporte e trocar o hotel por aluguel de quartos e apartamentos feito por donos de imóveis, por meio da internet.
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