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Turismo

Com mais de um bilhão de turistas viajando pelo mundo – em 2030, atingirá o marco de dois bilhões



Dom Irineu Roman
Bispo auxiliar de Belém do Pará
e referencial da Pastoral do Turismo

 

“Turismo Sustentável: um instrumento ao serviço do progresso”

Tomando como referência a Mensagem lançada pelo Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson – Prefeito, vamos abordar e comentar o tema “Turismo sustentável: um instrumento ao serviço do progresso”. Pela primeira vez, esta mensagem é publicada pelo novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, como parte de sua missão, sendo que, a Igreja se une à sociedade civil na abordagem do fenômeno convencida de que toda atividade genuinamente humana deve encontrar lugar no coração dos discípulos de Cristo. (cf.CONCÍLIO VATICANO II, Constituição pastoral Gaudium et Spes, 7 de dezembro de 1965, n.1)

Convém esclarecer que, turismo sustentável é aquele que busca minimizar impactos negativos ambientais e socioculturais. Ao mesmo tempo promove benefícios econômicos para pessoas, comunidades locais e seus destinos. Ecoturismo é turismo sustentável em áreas naturais. Beneficia o meio ambiente, pessoas e comunidades visitadas. Promove o aprendizado, respeito e consciência sobre aspectos humanos, ambientais e culturais.

Com mais de um bilhão de turistas viajando pelo mundo – em 2030, atingirá o marco de dois bilhões -, o turismo é uma força poderosa e transformadora do ponto de vista religioso, econômico, social e cultural que faz toda a diferença no cotidiano de nossas vidas. Todo esse potencial, com enfoque no turismo sustentável, é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos principais setores de geração de emprego no mundo. Por isso, decretou 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável.

O Cardeal Turkson nos lembra de que o turismo é um fenômeno de grande importância, seja pelo número de pessoas que ele envolve (viajantes e trabalhadores), seja pelos numerosos benefícios que ele pode oferecer (…), ou ainda, pelos riscos e perigos que ele pode representar, em muitos âmbitos. Segundo a Doutrina Social da Igreja, o verdadeiro desenvolvimento “não se reduz a um simples crescimento econômico”, mas “deve ser integral”, ou seja, “promover todos os homens e o homem todo”, como ressalta a Carta Encíclica Populorum Progressio.  (cf. Mensagem para o Dia Mundial do Turismo, n.2 e 3)

A atividade turística oferece oportunidade de subsistência, ajuda a reduzir a pobreza e direciona as atividades produtivas para o desenvolvimento e inclusão social. A meta da Organização Mundial do Turismo (OMT), braço direito da ONU, é ampliar a compreensão e conscientização da importância do turismo no compartilhamento do patrimônio natural, cultural e distribuição da riqueza proporcionada pelas viagens.

O Turismo sustentável também valoriza as diferenças culturais e contribui para o fortalecimento da paz no mundo. A sustentabilidade definida pela ONU tem como base três pilares: econômico, social e ambiental. O turismo, se bem concebido e gerido, proporciona emprego e renda em harmonia com a natureza, a cultura e a economia dos destinos. O consumo responsável dos serviços turísticos também minimiza impactos negativos ambientais e socioculturais e, ao mesmo tempo, promove benefícios econômicos para as comunidades locais e no entorno dos destinos.

Na adoção dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela ONU e que têm por horizonte o ano de 2030, o turismo foi inserido em três deles: a) promover crescimento econômico sustentável e inclusivo, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos; b) consumo e produção sustentável; c) e conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e fontes marinhas para o desenvolvimento sustentável. (cf. CORREIO RIOGRANDENSE, Caxias do Sul, 11 de janeiro de 2017, Reportagem 6)

O Cardeal Peter Turkson comenta em sua Mensagem que para promover o turismo Sustentável, entendemos que deve ser responsável, não destrutivo nem prejudicial para o meio ambiente; particularmente respeitoso pelas populações e seu patrimônio, visar à salvaguarda da dignidade pessoal e dos direitos dos trabalhadores e enfim, estar atento às pessoas mais desfavorecidas e vulneráveis. Com efeito, o tempo de férias não pode ser pretexto para a irresponsabilidade nem para a exploração: ao contrário, é um tempo nobre, no qual cada um pode agregar valor à sua vida e à dos outros. O turismo sustentável é também instrumento de progresso para as economias em dificuldade quando se torna veículo de novas oportunidades, e não fonte de problemas. (cf. Mensagem Dia Mundial do Turismo 2017 n.3)

O Papa Francisco nos fala da Ecologia Integral, como aquela que leva em conta todos os aspectos da realidade em que nos encontramos, tendo como referência as dimensões humanas e sociais (LS 137). A partir desse pressuposto, propõe uma ecologia ambiental, econômica e social (LS 138-142), cultural (LS 143-146) e da vida cotidiana (LS 147-155), baseada no princípio do bem comum (LS 156-158) e que tenha preocupação com o futuro (LS 159-162).

O Cardeal Turkson recorda-nos de que a Igreja está oferecendo uma contribuição própria, lançando iniciativas que colocam realmente o turismo ao serviço do desenvolvimento integral da pessoa. Por isso, fala-se de “turismo com o rosto humano”, que se traduz em projetos de “turismo de comunidade”, “de cooperação”, “de solidariedade”, e na valorização do grande patrimônio artístico, uma verdadeira “via de beleza”.

A Mensagem do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral para o Dia Mundial do Turismo nos deixa alguns questionamentos: De que modo estes princípios podem dar concretude ao desenvolvimento do turismo? Que consequências derivam para os turistas, os empresários, os trabalhadores, os governantes e as comunidades locais?

Em discursos às Nações Unidas, o Papa Francisco afirmava: “A casa comum de todos os homens deve continuar a erguer-se sobre uma reta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher (…). A casa comum de todos os homens deve edificar-se também sobre a compreensão duma certa sacralidade da natureza criada” (cf. discurso às Nações Unidas em 25/09/2015)

Que nosso compromisso possa ser vivenciado à luz destas palavras e intenções!

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