Domingo, 1 de outubro de 2017 - 10h37
Por Júlio Olivar
O turismo é, no mundo, a terceira indústria que mais cresce. Está atrás apenas dos setores petrolífero e de aviação. Em Rondônia, há um enorme potencial - e alguns segmentos em exploração e em franco desenvolvimento - que podem colocar o estado no centro político-econômico na América do Sul nesta atividade que transcende a economia e tem o papel de fazer as pessoas felizes. Quando se investe em turismo, o que melhora é o urbanismo, as estradas, a cultura, a educação, a conectividade em geral. Portanto, não são somente os turistas, mas, principalmente os residentes que mais são beneficiados com geração de emprego, renda e qualidade de vida.
Rondônia é, proporcionalmente, um grande emissivo de turistas (est: 7,5% da população global a.a), o que comprova tratar-se de um estado com alto poder aquisitivo (taxa de crescimento acima de 3% a.a). Sua ocupação demográfica também contribui. Rondônia é um "caldeirão" de emigrantes que, comumente, viajam para seus estados e países de origem. O desafio é fazer o caminho inverso: aumentar o receptivo turístico. Para isso é preciso cada dia mais planejamento estratégico e ações afirmativas.
A Setur tem atuado neste sentido e um dos exemplos da sua profícua atuação está no Plano de Desenvolvimento Estratégico Sustentável (PDES) do Governo do Estado, no qual o turismo está planejado como “política de estado” até 2030, ordenando e priorizando as ações que levam em conta os pilares prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social. O melhor nós já temos: localização geográfica, meios de hospedagem qualificados, cultura diversificada, rica biodiversidade. E o povo é muito hospitaleiro, e nem poderia ser diferente.
Porto Velho, por exemplo, nasceu cosmopolita. Mais de 20 mil trabalhadores de 50 países fundaram a cidade quando da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Também vieram milhares de nordestinos nos dois ciclos do látex e, a partir de 1960, a ocupação teve um avanço significativo pelo sul do estado quando da abertura da BR-364, que cortou o território e o interligou ao restante do País, seguindo as picadas deixadas pela Comissão Rondon.
Rondônia é, pois, vocacionada para o turismo desde sempre. Foi presenteado pela natureza e pela ação das pessoas que construíram um estado rico em todos os sentidos. Em 1927, o genial escritor Mario de Andrade, paulistano, foi o primeiro turista ilustre que percorreu de trem os caminhos da velha ferrovia entre Porto Velho e Guajará e registrou suas impressões no livro "O turista aprendiz", o primeiro do gênero no país. Foram, também, dezenas de cientistas e exploradores - desde os bandeirantes, militares portugueses e missionários jesuítas, durante o Brasil-Colônia, até a chegada de renomados pesquisadores, ainda nos tempos do Império - a exemplo do alemão Franz Keller - e já na República, com destaque neste período a Cândido Rondon, Osvaldo fruz, Roquette-Pinto, Theodore Roosevelt, Lévi-Strauss, Jacques Cousteau, Luiz Hildebrando - que estudaram essa terra mágica, rica e misteriosa e deixaram um enorme legado para a compreensão da identidade rondoniense nas mais diversas nuanças.
Os cientistas continuam chegando atraídos, sobretudo, por questões indígenas e biológicas. É um tipo de turismo que deixa mais do que divisas econômicas: o legado é o fortalecimento da autoimagem, da rondonidade, do conceito de soft power. Sem conhecimento, não pode haver turismo. E o próprio rondoniense precisa conhecer mais Rondônia, pois a maioria do fluxo ainda é doméstico, isto é, moradores do interior do estado frequentam a capital, e vice-versa, além dos turistas que vêm do Acre e do Amazonas. Mas o potencial, como está claro, é gigante. E entenda-se por potencial não apenas a natureza majestosa porque Rondônia tem uma excelente logística, com transporte intermodal e usinas hidrelétricas que atendem a mais de 50 milhões de brasileiros. Tudo aqui é grande.
No interior, observam-se os turistas vindos de estados do Sul e do Sudeste. Citamos a pesca esportiva como principal mote das campanhas externas de Rondônia para atrair visitantes. O Vale do Guaporé é o que mais movimenta esse tipo de turismo, dos mais caros e ascendentes do mundo. Mas não para aí. O turismo de negócios, assim como o ecoturismo, o turismo de aventura e o turismo rural são importantes
eixos de desenvolvimento. O interior está repleto de empreendimentos bem estruturados para receber a todos. Neste contexto, a Setur busca catalisar todas essas informações, planejar e dar um norte para o turismo. Nos últimos anos, investiu em planejamento, reconhecimento dos potenciais, institucionalização de produtos e atrativos, diálogo com a iniciativa privada e com os estados das regiões Norte e Brasil Central. E continuamos firmes no propósito de fazer de Rondônia um estado reconhecido como turístico.
Júlio Olivar, jornalista e escritor, é superintendente estadual de Turismo em Rondônia.
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