Quinta-feira, 11 de julho de 2019 - 16h14
Rondônia fará o mesmo que os peruanos: mostrará ao Brasil suas potencialidades turísticas, até mesmo aquelas desconhecidas da sua própria população. O compromisso foi firmado pelo superintendente estadual de turismo, Gilvan Pereira Júnior, quarta-feira (10), durante o 1º Fórum Internacional de Turismo, no auditório do Tribunal de Contas do Estado de Rondônia.
O evento mostrou exemplos da Costa Rica em termos de consciência do turismo autossustentável e melhor prestação de serviços, e do Peru, em políticas públicas para o setor. “O turismo pode ser o agente mais importante na transformação da pobreza”, proclamou a consultora internacional Lorena San Román, mencionando a atual situação de seu país, a Costa Rica.
O número de visitantes àquele país subiu de 329 mil em 1988, para 1 milhão em 1999, até alcançar 2 milhões de turistas estrangeiros em 2008. Em 2014, o número de visitantes alcançou o recorde de 2,5 milhões de turistas estrangeiros, proporcionando receita de US$ 2,6 bilhões.
Lorena, que também é reitora da Universidad para la Cooperación Internacional en Bacalar, Quintana Roo, México, sugeriu a Rondônia o planejamento participativo e o equilíbrio. “Quanto suporta um rio, uma bacia, uma floresta?”, questionou.
Em seguida, elogiou o “calor humano e o carinho” que lhe encantaram no estado. “Para vocês serem felizes, invistam no social, vejam o que compete a cada um, ao governo e à iniciativa privada”, ela disse dirigindo-se ao superintendente estadual do turismo Gilvan Pereira Júnior.
Para Lorena, a falta de planejamento político pode se tornar uma ameaça, por isso a Costa Rica elaborou um plano de 2017 a 2021.
“O Peru só conseguiu ser o que é, ter essa marca e atrair gente de todo mundo, porque trabalhou políticas públicas 20 anos; a Costa Rica trabalhou 30 para construí-las”, disse a responsável pelo escritório comercial do Peru em São Paulo, Milagros Ochoa Koepke.
A marca Perú demorou dez anos para substituir a antiga. “Ao longo do tempo constatamos que o nosso país não tinha somente os Incas, daí partimos para o resgate da identidade local”, explicou.
“Não queira Rondônia se vender ao mundo com o turismo convencional, porque não tem, mas se vender o amazônico, vencerá”, aconselhou Milagros Ochoa.
Em seguida, disse que o turismo rural comunitário no Peru vai se denominar apenas turismo comunitário em 2020, valendo-se de 33 vídeos muito bem produzidos e 76 empreendimentos em diversas regiões.
Esse segmento, informou Milagros, começou 70 anos atrás na ilha de Taquile, no Lago Titicaca, em Puno.
“Então, Rondônia pode passar cultura e emoções às pessoas, trabalhando para obter destinos autênticos e competitivos”, ela acrescentou.
“Vamos peregrinar”, comprometeu-se Gilvan Pereira. Ele se inspira no exemplo de Milagros Ochoa, que deixou diversas vezes o escritório comercial do Peru em São Paulo, para divulgar as belezas de seu país em estados brasileiros.
“O turismo faz gerar renda, move a economia, e se for autossustentável crescerá, porque a população necessita dele”, disse.
“Que me perdoem os mato-grossenses, mas o Vale do Guaporé em Rondônia tem mais riquezas que o Pantanal”, disse o presidente do TCE, conselheiro Edilson de Sousa Silva.
Silva elogiou o Programa de Modernização e Governanças de Fazendas Municipais e Desenvolvimento Econômico Sustentável dos Municípios de Rondônia (Profaz), que conseguiu ser referência na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A OCDE é uma instituição formada por 36 países com princípios da democracia representativa e da economia de mercado, e cuja maioria de membros possui elevado PIB per capita (por cabeça) e bom Índice de Desenvolvimento Humano.
“Após este Fórum, que o mundo venha para Rondônia, porque o nosso sonho é para ser realizado”, apelou Silva.
O Profaz já foi levado para outros estados brasileiros, informou o presidente do TCE. O conselheiro Benedito Antonio Alves, ideólogo do programa, está otimista com a possibilidade da exploração do ecoturismo:
“A mais vasta área tropical do Planeta dá o primeiro passo para se tornar um invejável cenário turístico devido à sua fauna e flora incomensuráveis”, disse Benedito Alves.
Lembrou que o município de Cacaulândia tem uma das maiores biodiversidades do mundo, e o fato é ainda desconhecido da população estadual. “Se nos unirmos, descobriremos nossas potencialidades e solucionaremos nossos desafios aéreos, hidroviários e ferroviários; temos 23 mil quilômetros de rios navegáveis, e com 40 etnias indígenas, Guajará-Mirim é o maior município verde do País”, acrescentou.
Voos internacionais e integração latino-americana inspiram o vice-presidente da Federação do Comércio de Rondônia (Fecomércio), Gladstone Frota. “Seremos futuramente, melhor que o Paraná, temos água doce, florestas, e pelo menos cinco mil jovens daqui estudam na Bolívia”.
O ex-governador Daniel Pereira, atual superintende do Sebrae no estado e amigo da consultora Lorena San Román, abriu mão da palavra para dar mais tempo de fala aos palestrantes.
Parques nacionais e área protegidas cobrem 25% do território da Costa Rica. Desde 1995, o turismo representa a primeira fonte de moeda estrangeira da economia de Costa Rica. Desde 1999 as receitas do setor superam as da exportação de banana abacaxi e café juntos.
“É preciso alcançar o desenvolvimento sustentável em harmonia com o ambiente, comunidades e culturas”, apelou Lorena San Ramón em sua palestra.
Aquele país chegou a ser conhecida como o principal representante poster child do ecoturismo, período no qual as chegadas de turistas estrangeiros alcançou taxa de crescimento anual de 14% entre 1986 e 1994.
Lorena lembrou da Rio 92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), falou da biodiversidade, de mudanças climáticas e dos objetivos do Milênio.
“Como se chega, como se vai, é preciso que as pessoas saibam como chegar e como sair de Rondônia”, recomendou, antevendo maior fluxo de voos internacionais em Porto Velho.
Alinhou problemas que espera não vê-los ocorrendo no estado: 1) em Manaus, notou a necessidade de as lojas de câmbio também abrirem as portas aos domingos; 2) toda melhoria na internet é bem-vinda em qualquer lugar da Amazônia; 3) a falta de certificação de sustentabilidade turística; é preciso tê-la; 4) a necessidade de maior atenção ao visitante e da melhor prestação de serviços, sejam quais forem; 5) o ensino da língua portuguesa.
A respeito do último item, mostrou no audiovisual um grupo de jovens professores costarriquenhos ensinando espanhol a norte-americanos.
►O canal de pesca Baca, no Youtube, foi mostrado por seu idealizador, Fábio Fregona, na última palestra da noite. Porto Velho, Capital da Pesca Esportiva, é a proposta dele. Fábio grava e edita sozinho no Youtube o tema pesca e natureza. “O público viu o diferencial e, em um mês, fez dez mil comentários”.
► O pirarucu é o peixe com maior potencial para trazer pescadores a Porto Velho. Fábio sugere política especial para a espécie: “Ele cresce, é bonito, é troféu. Até a década de 1990 não se acreditava que ele poderia ser fisgado com anzol”, disse. O projeto Porto Velho, Capital da Pesca, teve origem no TCE.
► Diminuir o prazo de liberação de alvarás. “Um ano significa burocratização”, queixa-se o conselheiro do TCE Benedito Alves.
► Rondônia e o Brasil precisam, cada vez mais, criar ambientes favoráveis a pequenos negócios, reivindica o diretor técnico do Sebrae-RO, Samuel Almeida.
► O vice-cônsul honorário da Itália em Porto Velho, Cláudio Guastella, proprietário do Restaurante San Genaro, pede à classe política (Legislativo e Executivo) que construa “coisas que durem para as próximas gerações, não apenas as que durem somente até as próximas eleições”. Destaca a beleza da Catedral Sagrado Coração de Jesus e o plantio de flores “para tornar a cidade mais acolhedora”.
► Angústia da hotelaria – “Se o mundo se encontra em São Paulo, o Brasil se encontra em Rondônia, é chegada a hora deste estado pôr fim à angústia da hotelaria e de outros segmentos”, assinalou o vereador e historiador Aleks Palitot. Ele disse que gravou programas em 27 municípios com potencial turístico e apelou aos gestores públicos para direcionarem mais recursos ao setor.
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