Terça-feira, 8 de março de 2022 - 20h23
Diariamente, pessoas obesas encontram desafios no
transporte público, no trabalho e em outros espaços que demonstram pouca
infraestrutura e preparo para atendê-las. Além da falta de acessibilidade,
precisam se esquivar de piadas de mau-gosto e de pré-julgamentos. Esse
comportamento tem nome: gordofobia, que é um preconceito com pessoas gordas,
que leva à exclusão social.
Para falar sobre o tema e propor um novo olhar
sobre os corpos gordos, a filósofa e feminista Malu Jimenez foi a palestrante
do segundo dia do evento “Chá com Elas", coordenado pela Escola Judicial
do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região (Ejud-14) e que integra a semana
de atividades alusivas ao Dia Internacional da Mulher.
A palestrante fez uma apresentação geral sobre o
que é gordofobia. “É um preconceito com pessoas gordas que negam acessibilidade
e escuta das pessoas gordas”, explicou. Jimenez pontuou ainda que “essa
estigmatização é estrutural e cultural, transmitida em diversos espaços e
contextos culturais na sociedade contemporânea. Esse pré-julgamento acontece
com a desvalorização, humilhação, inferiorização, ofensas e restrições aos corpos
gordos de modo geral”, rafiticou.
Malu Jimenez assegura que a gordofobia é
estrutural. “Aprendemos a ser, falar e agir assim dentro da própria família. A
pessoa gorda vivencia dentro de casa situações que machucam, ferem e
estigmatizam a pessoa gorda. A escola
também é espaço de exclusão com os comentários, apelidos ofensivos, falta de
acessibilidade nos espaços físicos”, afirmou.
A gordofobia, segundo ela, “está na forma como a
sociedade se organiza e pensa sobre todas as coisas”. Jimenez explicou ainda
que a “gordofobia é um estigma estrutural institucionalizado em todos os
setores da sociedade. Ele aparece na linguagem, na família, na escola, na
medicina, na mídia e na cultura”.
Jimenez citou o caso de uma estudante brasileira
que se suicidou dentro do banheiro da escola. “A estudante não aguentava mais a
discriminação por ser gorda. Os ataques eram constantes e chegou um momento que
ela não suportou. O impressionante é que os ataques permaneceram mesmo depois
da morte da jovem”, revelou.
A pessoa gorda, segundo a filósofa, enfrenta ainda
a exclusão e discriminação no mercado de trabalho, com o impedimento de assumir
cargos públicos, mesmo com exames médicos certificando que o candidato estava
saudável. “Demissões ocorrem em empresas privadas, por exemplo, pelo simples
fato das pessoas serem gordas”, garante.
Ela explicou que o corpo gordo é visto muitas vezes
como sendo inferior. “Os gordos são 57% da população e não têm acesso básico à
saúde com leitos, equipamentos e infraestrutura mínima para atender a população
gorda”, exemplificou.
Malu Jimenez concluiu os movimentos ativistas
contra a gordofobia estão crescendo e são necessários e principalmente para
“criticar o modelo biomédico imposto pela sociedade atual e combater as ações
ineficazes no combate a obesidade que só colaboram para aumentar o estigma e
exclusão da pessoa gorda”, ponderou.
Programação
Amanhã a programação segue com a participação da
ativista Walelasoetxeige Suruí (Txai Suruí), primeira indígena brasileira a
discursar na abertura da Conferência da Cúpula do Clima (COP26) da Organização
das Nações Unidas (ONU), com a palestra: "Mulheres Indígenas: o que
escondem atrás dos rostos pintados”.
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