Segunda-feira, 19 de abril de 2021 - 17h05
A
Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia (Ale/RO) realizou na manhã desta
segunda-feira, 19, uma reunião especial da Comissão de Agricultura para tratar
da cadeia produtiva do Leite. A sessão foi presidida pelo Deputado Chiquinho da
Emater (PSB) e foi realizada de forma presencial e por videoconferência e teve
a participação, além dos deputados estaduais, de representantes do governo do
Estado e representantes da cadeia produtiva do leite (produtores e indústria).
De
acordo com o propositor do evento deputado Lazinho da Fetagro, (PT), a reunião
se faz importante em função da situação caótica enfrentada pelos produtores de
leite do Estado, que tiveram o preço do produto entregue aos laticínios
reduzido de forma brusca, sem nenhum aviso prévio, o que tem inviabilizado a
atividade, uma vez que o custo da produção é maior do que o valor pago
atualmente.
O
presidente da Assembleia Legislativa, Alex Redano (Republicanos), disse que a
reunião é aguardada pelos produtores. "Uma das maiores cobranças que os
deputados têm recebido, através de visitas de produtores e das redes sociais.
Agricultores estão se mobilizando e cobrando apoio para essa questão, que gera
prejuízos em toda a cadeia produtiva do leite, que é parte importante de nossa
economia".
Para
Redano, "precisamos encontrar uma alternativa. Sei que é complexo, mas não
pode continuar da maneira que está. Precisamos de um caminho, de uma saída, de
um equilíbrio, para que quem acorda cedo pra tirar leite, tenha a devida
valorização de seu trabalho".
O
deputado Adelino Follador (DEM) disse que essa situação tem afligido todos os
agricultores. "Precisamos que as indústrias tratem os produtores de leite
como parceiros, que se preocupem mais com quem fornece a matéria-prima. Todos
os anos, temos essa situação de prejuízos para os produtores de leite em
Rondônia. Em todo o país, houve redução no preço do leite, mas aqui em Rondônia
é a maior diminuição e não podemos aceitar".
De
acordo com Follador, "seria importante uma justificativa antes de baixar o
preço, numa discussão com produtores e o Governo. O leite hoje está caro de
produzir, com o custo dos insumos. Quem produz menos, é ainda mais afetado.
Quem produz menos de 200 litros, é discriminado e desrespeitado ainda mais.
Temos que criar regras para evitar que isso se repita ano após ano".
A
deputada Cássia Muleta (PODE) afirmou que é uma vergonha o preço que os
laticínios estão tentando pagar aos produtores do estado. Ela destacou que
entende a importância das empresas para os municípios, gerando emprego e renda
para a população, mas que é preciso ter respeito pelos produtores. Cássia
lembrou que o problema do setor leiteiro já é uma discussão antiga em Rondônia
e que a intenção da Comissão é a de buscar uma solução definitiva para a
situação que já se arrasta há mais de 20 anos.
Federações pedem maior fiscalização às agroindústrias
Presente
na reunião, o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de
Rondônia (Faperon) Hélio Dias destacou a situação enfrentada pelos produtores
rurais que definiu como “caótica” e pediu providências do poder público para
poder resolver o problema. De acordo com Hélio, não há outra alternativa para o
produtor rural a não ser parar se o valor não for reajustado. Segundo ele, a
indústria de processamento de leite de Rondônia, que recebe incentivos do
governo do estado, não vem cumprindo com o seu papel em retribuição aos
incentivos recebidos, não conversa com o produtor e parece não querer resolver
o problema. “Precisamos de uma ação do poder público para fiscalização dos
incentivos recebidos pelas indústrias para ver se realmente estão fazendo a sua
parte, precisamos ajustar os valores para no mínimo R$ 1,60 por litro e
solicitamos à Assembleia Legislativa que crie uma comissão mista para visitar
as indústrias para ver se há estoque represado de produtos derivados do leite,
pois acreditamos que trata-se apenas de um artifício da indústria para o
rebaixamento do preço, pois sabe que durante a seca o valor dos produtos tende
a aumentar naturalmente”, destacou.
A
presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares
do Estado de – FETAGRO Fetagro, Alessandra da Costa Lunas disse considerar que
a atual situação da produção de leite “é de fato indignante e lembrou que no
passado, uma audiência pública já foi realizada para se debater o mesmo tema.
E
se formos olhar, as pautas tratadas lá atrás, talvez sejam as mesmas que estão
sendo trazidas para a Mesa hoje. E acredito que isso seja a demonstração da
necessidade que temos no estado de Rondônia, de realmente tratar dessa política
de maneira mais permanente e não quando o desespero e o grito dos agricultores
clamam por algo justo. Creio que quando chega nesse extremo, temos que ter
capacidade de conseguir propor algumas questões emergenciais e outras
estruturais, acho que esse é o grande desafio dessa reunião”, declarou a
presidente da Fetagro.
Segundo
ela, várias propostas já foram colocadas desde a audiência passada e a classe
produtiva, de acordo com Alessandra, não conseguiu um espaço de debate de
construção de uma política permanente que pudesse tratar, à altura, as
proporções colocadas em discussão.
Secretário de agricultura propõe diferenciação de
incentivos ficais
O
secretário estadual de Agricultura, Evandro Padovani, declarou que "os
pequenos produtores de leite estão constrangidos, com a falta de diálogo com os
laticínios. Também estou indignado. O único que fala com o Governo e o setor
produtivo é o empresário Pedro Bertelli, reconheço a sua coragem de sentar à
mesa e dialogar. Minha indignação, enquanto secretário, com os demais
empresários de laticínios de Rondônia, que sequer dialogam com o Governo e o
setor produtivo".
Evandro
Padovani garantiu que "a Seagri não parou de buscar alternativas e de
criar instrumentos de apoio ao produtor rural. Hoje, temos projetos como
inseminar, o Mais Calcário, Melhoria na Pastagem, entre outros, e o Agroleite
aguarda a aprovação de projeto, para atender cerca de 10% dos produtores de
leite, especialmente os pequenos".
Segundo
Padovani, "os preços baixos de leite são um desafio de décadas em
Rondônia. Desde dezembro, se iniciou uma baixa nos preços no Estado. No próximo
dia 22, será apresentado o preço referencial no leite em Rondônia, na reunião
do Conseleite, num estudo da PUC/PR, contratado pelo Governo, através da
Seagri".
"Já
participamos de reuniões na discussão dessa problemática do leite. Mas, preço
de commodities é sempre anunciado de forma antecipada. A soja, a carne, o
peixe, tem o preço do dia. Mas, o lácteo não tem isso e o produtor entrega o
leite, mas só vai saber o preço que será pago um mês depois. O Ministério da
Agricultura precisa rever essa questão e também garantir um preço mínimo do
leite em Rondônia, diferenciado. Estamos com uma articulação, junto à Sefin,
para que seja discutido um incentivo menor para a muçarela e maior para o UHT e
produtos lácteos, como iogurte e outros", completou.
Deputado
propõe união de produtores em bloco para valorizar produto
Presidindo
a reunião e com toda a sua experiência na área técnica adquirida durante anos
de trabalho na Emater, o Deputado Chiquinho destacou a importância da união dos
produtores para resolver o problema. De acordo com ele, a Assembleia
Legislativa e o governo do Estado têm a obrigação de ajudar o setor de leite do
estado porque é a cadeia que mais emprega e gera renda no estado. Precisamos
encontrar uma alternativa no estado, mesmo que a obrigação seja do governo
federal, mas é um problema que nos afeta a todos e teremos sérias consequências
se não encontrarmos uma forma de pelo menos amenizar a crise do leite em
Rondônia.
Por
outro lado, destaca Chiquinho da Emater “entendemos que só vamos conseguir
resolver definitivamente esse problema recorrente do preço do leite se os
produtores, enfrentado todo ano, com a junção dos produtores rurais em um
grande bloco, para que possam comprar insumos a preço menor e vender o leite em
grande quantidade a um preço maior, garantindo melhor renda ao produtor no
final”, apontou.
Chiquinho
sugeriu ao governo Federal, através do Ministério da Agricultura, que nos meses
de janeiro a abril, que são os meses mais críticos, o governo federal faça
aquisição de leite, queijo e derivados e distribua para as comunidades
carentes, para a merenda escolar e que viabilize um empréstimo a juros baixos
para que o produtor possa garantir o custeio e a indústria possa ter condições
de armazenar os produtos sem prejuízo à toda a cadeia produtiva do leite.
Em
apoio ao Deputado Chiquinho, o presidente da Entidade Autárquica de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (EMATER), Luciano Brandão, afirmou
que só consegue ver uma solução para a crise do leito com diálogo e uma
apresentação mais técnica. No telão do plenário, ele apresentou dados que,
segundo ele, se ateve a pesquisas de consultorias e alguns sites. Entre as
informações demonstradas, um resumo de mercado do preço médio do leite em
outros estados, praticados na primeira quinzena do mês de abril, indicou em
Goiás, um m preço médio de R$ 1,98, em Minas Gerais, R$ 1,95 e a nível de
Brasil, preço médio de R$ 1,99.
Ainda
com base no preço médio praticado em todo o Brasil, com informações do Centro
de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), Brandão apontou, no mês de
março deste ano, o preço mínimo de R$1,72, o preço médio de R$ 1,93 e o preço
máximo de R$ 2,07. Ao concluir o demonstrativo, o presidente afirmou que, “nós
do Governo podemos interferir em preço, isso seria uma inverdade. O que podemos
fazer é algumas amarrações de leito como foi feito e fazer com que nossos
laticínios tenham mais compromisso com nossos produtores rurais. E lembrando, o
leite é o único produto que é entregue e não existe um contrato, que o produtor
não sabe o quanto vai receber, sendo esta, a atividade que mais emprega no
setor rural”, destacou Luciano Brandão.
Deputado pede previsão antecipada do valor a ser pago
ao produtor
O
Líder do Governo, deputado Luizinho Goebel (PV), afirmou que é difícil para o
Poder Público controlar a questão de preços do setor privado, mas que já
houveram algumas propostas encaminhadas pela Secretaria de Agricultura e pela
Emater para amenizar o problema. Ele destacou o Programa Balde Cheio, do
município de Vilhena, que ajudou o município a alcançar a melhor média de
produção do estado, e informou que um programa semelhante está sendo implantado
pela Secretaria Estadual de Agricultura. O parlamentar esclareceu que o
programa deve atender cerca de 2.200 produtores do estado, mas que para isso é
necessário a aquisição de veículos e equipamentos que possibilitam a ação dos
técnicos que farão o acompanhamento das propriedades, ressaltou o deputado
rebatendo críticas.
Sobre
a questão dos preços, a sugestão do deputado foi a de que o Governo do Estado
exija que os laticínios informem antecipadamente o preço que será pago aos
produtores como condicionante à renovação dos incentivos fiscais que estas
empresas recebem. Luizinho destacou ainda que o preço dos insumos, devido à
localização geográfica de Rondônia, é mais caro que em outros estados, e que o
mínimo é exigir que o preço do leite seja ao menos igual ao do resto do país.
Reforçando
a ideia de fiscalização, o deputado Ismael Crispin (PSB) disse que existem
empresas que pagam um preço a um produtor num município e outro valor a outro
produtor vizinho, sem explicação. "No mesmo caminhão, tem leite de preços
diferentes, produzidos em propriedades vizinhas. Como explicar isso? Precisa
dar transparência no preço do litro de leite para o produtor. Também questiono
essa questão dos estoques de leite nos laticínios, para que seja verificado e
dada a devida publicidade".
O
que diz a indústria?
O
presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios no Estado de Rondônia
(Sindileite), Pedro José Bertelli, disse que quando se fala sobre problema no
setor leiteiro, que vem ocorrendo ao longo dos últimos 20 anos, “isso não é uma
verdade”. De acordo com o empresário que representa as indústrias de
processamento de leite do estado de Rondônia, esse é um problema que sempre
existiu, não apenas em Rondônia, mas no Brasil inteiro, “com algumas
diferenças, mas sempre houveram”, segundo Bertelli.
“Quando
se afirma que o preço aqui está muito baixo, comparando valores com base nos
praticados lá na região sul, por exemplo, não se fala em qualidade de leite, em
gerenciamento da empresa, só se fala do preço, porém, é bom deixar claro,
conforme citou o deputado, que os insumos que vem para o produtor são mais
caros, só que para os laticínios também são mais caros, assim como os fretes
para levar o leite daqui para lá.
Sobre
os estoques de leite, o empresário disse que, pelo que ouviu, parece que não
acreditam que os laticínios mantêm sim seus estoques e afirmou que sua empresa
está à disposição, caso a Comissão queira verificar se a informação procede.
“E
ninguém vai impedir que essa verificação seja feita. O problema é que não
adianta eu participar da reunião se sempre acharem que estamos mentindo. Se eu
não estou representando as empresas, eu vou deixar de participar. Por isso é
bom deixar as coisas bem claras. Ao contrário do que afirmou a presidente da
Emater, que com suas colocações desacredita o Conseleite, quando diz que os
preços dos produtores não estão atualizados. Bertelli também responsabilizou a
Emater pela situação do produtor de leite de Rondônia, a quem sugeriu maior
eficiência no apoio técnico para melhorar a qualidade do produto.
“O
Conseleite fez sim essa atualização, fez uma retrospectiva de 26 meses, com
dados baseados em pesquisas. Então é bom esclarecer as coisas para que o
Conseleite não fique desacreditado antes de publicar a primeira resolução dele,
isso é muito perigoso”, enfatizou Bertelli.
Analisando
a fala do presidente do Sindileite, o deputado e presidente da Comissão de
Agricultura da Assembleia Legislativa, Lazinho da Fetagro (PT) pontuou que o
posicionamento empresário não contribuiu com a discussão para buscar
alternativa se as empresas não se dispõem a colaborar. De acordo com Lazinho
“as falas do presidente do Sindileite foram só de rebater as falas anteriores e
dizer que não pode fazer nada, sem nenhum esforço. Antes não tínhamos pandemia,
não tínhamos esse problema todo. A empresa não quer ajudar. Estamos aqui para
discutir uma forma diferente para ajudar tanto o produtor quanto a indústria,
mas os empresários parecem não querer mudar nada. Não estão se preocupando com
o produtor rural e nem com os problemas que essa injusta redução de preço está
causando. Assim fica difícil conversar, fica difícil encontrar uma alternativa,
se a indústria não se dispõe a ajudar”, destacou.
O
presidente da Assembleia Alex Redano (Republicanos) destacou que a importância
da reunião para se construir uma proposta a ser enviada ao governo do estado e
ao governo federal, apontando a necessidade de uma solução para o recorrente
problema do setor leiteiro.
"O
que pode acontecer é perder a base: os produtores mudarem de ramo de produção,
trocando o leite por outra atividade rural. Faço o compromisso aqui para tratar
desse tema, inclusive em extraordinária. Os produtores aguardam uma solução,
não podemos sair daqui sem algo concreto. O Governo deve sim interferir no
preço do leite, inclusive usando recursos do fundo do Pró-leite, que dispõe de
R$ 44 milhões", disse Redano.
O
deputado Anderson Pereira (PROS) questionou o preço mínimo determinado pelo
Governo Federal e o Ministério da Agricultura, que está abaixo do custo de
produção. Ele defendeu que o debate seja levado à bancada federal para que
chegue até o Ministério e seja revista a atual política de preços. O
parlamentar fez algumas sugestões para serem discutidas junto ao Poder
Executivo.
Anderson
se declarou favorável aos incentivos fiscais para os laticínios, que geram
emprego e renda para o Estado, mas defendeu colocar um condicionante na lei
para que obrigue as empresas a pagar um preço mínimo aos produtores. Ele também
pediu por mais fiscalização no valor dos produtos ao consumidor final e sugeriu
uma parceria entre Sefin e o Procon para esse fim. O parlamentar destacou
também que existe uma falha na gestão dos recursos do Fundo Pró-leite e sugeriu
a criação de um auxílio para os produtores que ajude os produtores nos períodos
de crise do setor.
O
posicionamento da Sefin e órgãos estaduais
Luís
Fernando Pereira da Silva, secretário de Estado de Finanças do Governo do
Estado de Rondônia (Sefin), destacou que a cadeia do leite é uma das mais
importantes em termos de geração de emprego e distribuição de renda, uma vez
que, todo produtor pequeno tem sua produção de leite, o que, segundo
secretário, afeta a renda da agricultura familiar rondoniense. De acordo com
chefe da Sefin, o importante é realmente saber o que se está sendo discutido, e
para ele, não se trata apenas de valores praticados em abril.
“Estamos
discutindo a sustentabilidade da cadeia produtiva do leite de forma a ter
condições para o desenvolvimento desse setor, fazendo com que o estado de
Rondônia tenha uma produção em crescimento e que permita um aprimoramento cada
vez maior, da qualidade, da produtividade e da renda. E para isso, temos que
olhar para os fatores, as condições que afetam a atratividade de se produzir
leite em Rondônia, de se industrializar esse produto e comercializar esse leite
em todo estado”, destacou
Para
o Secretário, todas essas fases da cadeia produtiva precisam ser contempladas,
seja do setor primário, que é o nosso produtor rural, o secundário, que são as
indústrias e o terciário, que é o comércio. Esses três elos precisam estar em
harmonia, e todos esses elos são interdependentes. O que estamos discutindo
aqui, embora tenhamos que olhar o interesse de cada elo da cadeia, esse debate
só caminhará em alguma direção, se também entendermos a necessidade de todos os
elos. Não adianta ser bom para um se não for bom para outro”, destacou Luís
Fernando.
Ele
apresentou premissas e alguns fundamentos básicos em relação aos incentivos
fiscais dados às indústrias do leite. Luís Fernando explicou que o Governo
oferece os incentivos, procura ajustar a política tributária para gerar
resultados em termos de aumento do número de empregos, renda do produtor,
crescimento do faturamento das empresas, mas, segundo ele, o Governo não tem
uma postura de tabelamento de preços.
“Isso
é algo que não seu certo no país. Temos uma experiência malsucedida, pois gera
desequilíbrio e desestímulo ao crescimento das cadeias, porque quando a gente
exige um preço sem considerar que o mercado precisa se autorregular, podemos
acabar cometendo uma intervenção desastrosa na cadeia. O papel de todos os
órgãos que atuam no apoio ao desenvolvimento dessa cadeia é identificar quais
as condições que que precisam ser oferecidas para cada elo, para garantir
incentivo e mais estímulo para produzir mais e melhor”, disse ele.
Para
o secretário, eliminar as imperfeições desse mercado é o objetivo da Sefin,
que, segundo ele, tem acesso à dados e documentos fiscais eletrônicos e pode
ajudar a encontrar caminhos para tornar mais eficiente o relacionamento dos
elos da cadeia produtiva. Ele apresentou estudo econômico, com perspectiva
desde 2015, onde apresentou vários dados sobre os incentivos e afirmou não ser
apenas o Conder, que atua com base no Programa de Incentivo Tributário, um dos
incentivos.
Luiz
Fernando explicou sobre diferimento, que ocorre do produtor para o laticínio e
que seria o primeiro benefício ao produtor, destacou a isenção voltada aos
agricultores familiares inscritos no Programa de Verticalização da
Agroindústria Familiar (PROVE) que atendam as condições para o Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), garantindo isenção
na saída interna, tanto para o leite quanto para os demais produtos. Já sobre
benefícios de isenção para laticínios, Luís Fernando destacou que a isenção de
ICMS é dada às indústrias vende o leite produzido em Rondônia para dentro do
estado, ou seja, nas saídas internas de leite UHT e bebida láctea UHT, para o
varejo rondoniense.
“Já
o leite que vem de fora, ele é tributado a 17,5%. Nas saídas interestaduais, de
leite e bebida láctea UHT, que é de 12%, o laticínio tem crédito presumido de
95%, permitindo que a empresa pague 5% do ICMS. Quando o laticínio vende outros
produtos lácteos para outros estados, o crédito presumido é de 75%. Estes são
incentivos concedidos para todos os laticínios, atualmente, 52 plantas que
operam em Rondônia e que têm esses benefícios, assim como o produtor também
tem. Já a venda interna de outros produtos resultantes da industrialização, a
carga tributária é equivalente a 4%. Sobre o benefício concedido pelo Conder,
que permite crédito presumido de até 85%, esses laticínios têm que contribuir
para o Pró-Leite com 7% sobre o faturamento. O transporte interno do leito,
também é isento em todos os casos, mas se for transporte para fora do estado, a
redução é de 50%. Em resumo, temos benefício tanto para as indústrias como para
os produtores, porém, de diversas formas”, ressaltou.
Para
o Coordenador de Indústria, comércio e agronegócio da Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura (SEDI), Avenilson Gomes da Trindade,
“deve ser criada uma mesa de diálogo entre o governo do Estado, Assembleia
Legislativa e os principais atores para sentar com as indústrias, os produtores
rurais e a ponta da cadeia que é consumidor final e que precisa se envolver
nessa discussão, a fim de encontrar num curto prazo, um preço que seja possível
para os três e sustente esses noventa ou 120 dias que todos os anos afeta o
produtor rural”, pontuou, salientando que “a Sedi se junta ao grupo de trabalho
no que diz respeito a tributação dos insumos, pois a crise se instaurou com a
elevação do preço dos insumos e a redução no preço do produto e nos irmanamos à
Sefin na proposta de ajuste normativo porque isso é uma ação de curto prazo,
mas é estruturante e necessária”.
O
coordenador estadual do Programa de Orientação, Proteção e Defesa do Consumido
(Procon), Ihgor Rego, destacou que o órgão tem intensificado as ações de
fiscalização desde o início da pandemia para garantir os direitos dos
consumidores. Segundo ele, embora os preços dos produtos tenham tido grande
aumento por diversos fatores econômicos no cenário nacional e internacional,
não foi observado aumento abusivo por parte dos supermercados e atacadistas do
estado. Ele informou que o relatório do Procon apontou que, se existe alguma
distorção no preço dos produtos lácteos, ela ocorreu antes de chegar ao setor
atacadista.
O
deputado Chiquinho sugeriu uma união de forças entre o Procon, a SEDI e a Sefin
para analisar os dados e tentar encontrar qual o ponto de discrepância na
cadeia produtiva do leite e seus derivados. “A gente precisa achar a solução
para o produtor rural”, ressaltou ele.
O
presidente da Organização das Cooperativas do Brasil em Rondônia
(OCB/Sescoop-RO) Salatiel Rodrigues parabenizou a iniciativa dos deputados em
buscar uma alternativa para a crise do leite no Estado. Disse que precisa dos
retornos dos programas de apoio aos produtores, nos moldes dos incentivos que
são dados aos produtores do café, para que sejam aplicados recursos como os do
Pró-leite, para que esses recursos cheguem ao produtor. Sugeriu também buscar
exemplos de incentivos praticados em outros estados que garantem que o leite
produzido em outras regiões chegue ao estado, mesmo com toda a tributação, mais
barato do que os produzidos aqui pelos lacticínios que possuem incentivos
fiscais, para valorizar o produtor, sem aumentar o preço final ao consumidor.
O
controlador geral da Assembleia, advogado Guilherme Erse iniciou a sua
explanação na reunião destacando que “matar o produtor rural é um erro. É
acabar com o setor pela sua base. Se lá atrás o governo concedeu benefícios e
incentivos através do Conder, foi para que tivéssemos um parque que pudesse
processar o leite e gerar riquezas dentro do nosso estado, agora não adianta
matar o produtor na ponta hoje, fazendo com que ele tenha prejuízo, porque se o
parque não tiver a matéria prima, a cadeia como um todo acaba”.
Guilherme
defendeu a apresentação por parte da Sefin de uma planilha detalhada sobre a
evolução dos preços dos insumos e de tudo o que o produtor rural,
principalmente o pequeno, teve de impacto nos seus custos, pois daí nós iremos
poder avaliar o custo dos lacticínios e dos produtores e constatar onde está o
furo”.
Guilherme
se mostrou surpreso ao comparar preços nas gôndolas dos supermercados e
destacar que o preço de um litro de leite produzido fora do Estado de Rondônia
é mais barato do que os produzidos no Estado, embora os incentivos fiscais e
isenções. “Como a gente explica isso para o produtor lá na base? Como
justificar que o leite de fora que tem o ônus do imposto, do frete e outros é
mais barato que o leite produzido aqui por uma empresa subsidiada? Não tem como
explicar,” pontuou.
“A
Assembleia acerta quando dá luz a isso e exige que o governo, que é o ente com
a caneta na mão, sente com o setor e encontre uma solução, sob pena de colocar
o setor numa crise ainda mais aguda e, escrevam, colocar o consumidor que terá
a falta do produto e pela lei do mercado, o preço aumentado”. Finalizou.
Deputados propõem planejamento anual de preços e
redução no prazo de recebimento
O
deputado Cabo Jhony Paixão (Republicanos) questionou o motivo dos laticínios
pagarem menos no período em que a produção de leite do estado é maior. O
parlamentar defendeu um tabelamento de preços anual, com a possibilidade de
negociação do excedente. Segundo ele, a maneira como a atividade vem sendo
conduzida não é justa com o produtor, pois este tem mais riscos de perdas que
as empresas. O parlamentar ressaltou que o consumo não diminuiu, mesmo com o
período de pandemia, e que não é justificável a baixa dos preços.
O
parlamentar fez uma indicação solicitando à Emater detalhes a respeito dos
investimentos do Fundo Pró-leite e finalizou sua fala ressaltando que a
Assembleia Legislativa está ao lado dos produtores rurais do estado.
O
deputado Laerte Gomes (PSDB) disse entender o interesse de muitos em buscar
soluções para os problemas no setor leiteiro que, segundo o parlamentar, já se
arrasta por vários anos, mas que não se vê resultados. Para o deputado, a forma
com que os laticínios tratam os produtores, a produção de leite cairá ainda
mais.
“Não
tem produtor de leite que suporte essa questão de produzir seu produto, demorar
60 dias para receber, sem saber o preço e que não cobre o custo que ele teve.
Ninguém consegue trabalhar nessas condições. Eu discordo de muita coisa em
relação aos laticínios e os incentivos fiscais recebidos por eles. A política
do Italac, por exemplo, é destruir os concorrentes, e fez isso na região da
RO-429. Defendo que esses incentivos fiscais sejam revistos com urgência. Nós
precisamos fortalecer as agroindústrias, principalmente as pequenas com
incentivo fiscal de até 90%. Tem que criar subsídios para os produtores sim. E
para isso, precisamos buscar alternativas. Não vejo um programa estadual
voltado ao incentivo para trabalhador rural, e se depender de mim, esse projeto
que chegou na Assembleia que propõe o remanejamento de recurso do Pró-Leite
para o Governo comprar 70 notebooks, isso é uma vergonha. Temos é que
incentivar o produtor, para comprar matrizes, para aumentar o rebanho,
principalmente o pequeno produtor, que é o que está sofrendo mais. Na verdade,
quem produz e quem consome estão sofrendo, enquanto os atravessadores estão
ganhando muito dinheiro. Qual o incentivo os produtores têm, volto a questionar
e respondo, nenhum. E quem está pagando por tudo isso, é o consumidor final que
está pagando muito mais caro em tudo. O Governo tem que rediscutir e a
Assembleia tem que apoiar ações que defendam os produtores, precisamos de
resultados, atitudes, o Conder tem que agir”, concluiu Laerte Gomes.
Encaminhamentos
Para
fechar a reunião foram lidas as deliberações e encaminhamentos que contemplam a
solicitação da fiscalização da Sefin e do Procon sobre o preço do leite,
solicitar a criação de um auxílio ao produtor, com recurso do fundo Pró-Leite,
levar o debate ao Congresso Nacional, para que o MAPA melhore o preço mínimo e
criação de cláusula condicionante do incentivo fiscal.
Também
foi encaminhada a necessidade de uma pauta conjunta, para que sejam cumpridas
as leis já aprovadas, a visitação dos laticínios por uma comissão parlamentar,
para ver o estoque de leite; solicitar à Sefin e Fapero, transparência no preço
do leite, para saber quem está lucrando com o preço do leite; reunir poderes e
instituições, para rediscutir toda a cadeia produtiva do leite.
Pedir
estudo técnico sobre a isenção de tributos sobre equipamentos e produtos agropecuários,
além da isenção de IPVA e o arquivamento do projeto que prevê a compra de
computadores e camionetes, com recursos do Pró-leite, foi ainda defendido por
Lazinho da Fetagro.
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