Segunda-feira, 15 de julho de 2019 - 11h29
Florestas
da Amazônia degradadas pelo fogo recuperam sua capacidade de bombear água para
a atmosfera e absorver carbono em sete anos. Mas o que se perdeu de carbono não
volta mais. As boas e as más notícias fazem parte de um novo estudo científico
publicado por pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Alemanha na
revista "Global Change Biology".
Os cientistas analisaram dados de um experimento conduzido pelo
IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em uma fazenda em Mato
Grosso. Nas áreas que passaram por queimadas controladas, as árvores grandes
sobreviventes ao fogo sucumbiram rapidamente nos anos seguintes, porém mais
fracas e vulneráveis a doenças e rajadas de vento, especialmente nas bordas da
mata.
“Essas feridas na floresta podem deixar cicatrizes permanentes,
com menos árvores e carbono”, explica o principal autor do artigo, o brasileiro
Paulo Brando, do IPAM. Também nos anos seguintes a composição de espécies
mudou, e gramíneas invadiram o local.
A partir do sétimo ano, os cientistas observaram uma mudança no
quadro: aquela área retirava tanto carbono da atmosfera e jogava umidade no ar
quanto antes do fogo. “Para se recuperar, as plantas trabalham muito rápido,
tem muita fotossíntese, por isso tiram muito carbono do ar e transpiram bastante”,
explica o pesquisador Michael Coe, do Instituto de Pesquisa de Woods Hole, nos
Estados Unidos, um dos autores do estudo. “Mas perdemos o carbono que estava
estocado nas árvores mais antigas.”
O resultado mostra a importância de deixar áreas queimadas na
Amazônia se recuperarem, o que ajuda a estabilizar o clima local – na região do
estudo, sudeste da Amazônia, a estação seca é duas semanas mais longa do que 30
anos atrás. “Poucos estudos documentaram a recuperação da floresta após
distúrbios múltiplos, o que ajuda a prever as trajetórias das funções
florestais no futuro”, diz a cientista Susan Trumbore, do Instituto Max Planck
de Biogeoquímica, coautora da pesquisa.
Brando destaca que é preciso acompanhar as áreas queimadas por
mais tempo, para saber se elas vão se recuperar totalmente ou se a vegetação
será um híbrido de floresta com gramíneas – o que, por sua vez, deixa a área
mais suscetível a novos incêndios.
No Brasil, o fogo é um instrumento usado corriqueiramente para
limpar terrenos, antes com floresta, plantio ou mesmo pasto. Na Amazônia, o
fogo ocorre naturalmente em determinada área a cada 500 anos, no mínimo. Porém,
hoje algumas regiões queimam anualmente ou com poucos anos de diferença devido
à ação humana.
O desmatamento e as queimadas são a principal fonte de emissão de
gases do efeito estufa no Brasil, o que intensifica as mudanças climáticas.
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