Quinta-feira, 8 de agosto de 2024 - 13h59
O cultivo de peixes nativos na
Amazônia não tem recebido a merecida atenção dos governos federal e estaduais,
considerando seu potencial econômico e baixo impacto ambiental. É o que mostra
o novo estudo do Instituto Escolhas, “Solução debaixo d’água: o potencial
esquecido da piscicultura amazônica”, lançado nesta quinta-feira (08/08), que
traz um levantamento inédito sobre o atual panorama da piscicultura de espécies
nativas nos nove estados da Amazônia Legal.
O mapeamento geoespacial identificou 76.942 hectares de lâmina
d’água naquela região e 61.334 empreendimentos de piscicultura – um número 39%
maior do que mostra o Censo Agropecuário. “A ausência de dados robustos e
atualizados do setor, que envolvam mais do que o volume de produção, foi um dos
grandes desafios da pesquisa e já é um sinal, por si só, da pouca atenção
recebida pela piscicultura por parte do poder público”, pontua Sergio Leitão,
diretor executivo do Instituto Escolhas.
Segundo o estudo, o cultivo de peixes nativos da Amazônia é
viável economicamente, tem a vantagem de usar até 10 vezes menos espaço para
produzir a mesma quantidade de carne que a pecuária extensiva e pode gerar uma
renda significativa – especialmente para os pequenos produtores, que respondem
por 95,8% das propriedades mapeadas. Para isso, no entanto, a atividade precisa
alcançar novos mercados para se manter relevante regionalmente e ganhar
competitividade no cenário nacional.
“Um avanço consistente no mercado nacional depende da resolução
de dois gargalos: solucionar os problemas responsáveis pela baixa
produtividade, como a falta de acesso à assistência técnica adequada, e
aumentar a produção, que oscila entre 160 mil e 175 mil toneladas anuais desde
2015. Para efeito de comparação, somente o estado do Paraná, maior produtor de
peixes do país, produziu 150 mil toneladas em 2022”, afirma Sergio Leitão,
diretor executivo do Instituto Escolhas. O estado de Rondônia detém a liderança
da produção regional, tendo produzido 57,2 mil toneladas, também em 2022.
De acordo com a pesquisa, os empreendimentos de piscicultura na
Amazônia têm, em média, 19% de área inativa. Esse percentual chega a 20% nas
pequenas propriedades. Isso acontece porque, no atual contexto de pequena
produção e baixa produtividade, o investimento necessário para manter os
tanques ativos não compensa. Os estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará,
Rondônia e Roraima foram diagnosticados com baixa produtividade (2,5-4,9
toneladas de peixe/hectare/ano). Isso significa que eles poderiam aumentar a
produção local sem expandir a lâmina d’água, apenas combinando a reativação das
áreas não usadas com estratégias de aumento da produtividade, como assistência
técnica e o uso de ração e alevinos de melhor procedência.
O acesso ao crédito, que poderia mudar essa realidade, emerge
como mais um gargalo, principalmente devido à necessidade de regularizar o
empreendimento para acessar o recurso. Em 2022, pouco mais de R$ 189 milhões
(ou 28,4% do total nacional) foram efetuados em operações de crédito para
custeio de piscicultura na Amazônia Legal. Em termos de investimento, os
estados da Amazônia Legal participaram apenas com R$ 5,3 milhões ou 10,5% em
relação ao total nacional.
Além da falta de dados, da saturação do mercado regional e da
baixa produtividade decorrente da ausência de assistência técnica e
infraestrutura, outros dois fatores ajudam a explicar a situação atual da
piscicultura amazônica: o desinteresse dos governos estaduais e federal em
reconhecer o potencial da piscicultura e investir no setor e o marco
regulatório defasado de alguns estados. Combinando as tendências atuais
verificadas em cada estado, o estudo prevê um crescimento de 175 mil toneladas
para 183 mil toneladas nos próximos dez anos, ao fim dos quais, o setor terá
crescido apenas 4,6%.
“Temos milhares de pequenos piscicultores na Amazônia que se
mantêm atuantes apesar da falta de acesso à assistência técnica e
infraestrutura e da ausência de visão dos governos locais sobre o potencial
dessa cadeia produtiva e sua importância no contexto regional”, finaliza
Leitão.
Leia
a íntegra do estudo aqui.
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