Quinta-feira, 24 de dezembro de 2009 - 18h49
AMAZÔNIA:
BRASIL IGNORA O MAIS IMPORTANTE
BANCO GENÉTICO DO PLANETA (X)
Roberto Gueudeville
Era o mês de maio de 1945, lembro que meu avô, Henry Gueudeville pegou sua espingarda e deu vários tiros para o céu, espantando os passarinhos que habitavam uma grande árvore, no terreno vizinho. Comemorava o final da segunda grande guerra mundial, em que morreram 6 milhões de pessoas.
Nessa mesma época, com 9 anos de idade, fui tomado de uma paixão avassaladora no seu conteúdo, mas branda e linda na decisão de conhecer e vivenciar um grande espaço vazio do meu país – a Amazônia. A maioria dos mapas que conseguia registrava “terra inóspita, desconhecida”. Na época, a paixão se alimentava nas páginas da revista O CRUZEIRO, acompanhando as matérias extraordinárias que o gênio de Assis Chateaubriant mandava produzir sobre a Amazônia, campanha dos aviões, dos colibris, criação de grandes museus, etc. As reportagens na floresta, de Luciano Carneiro, Henry Balot e tantos outros, guardava todas elas. Bem mais tarde, em 68, eu próprio tinha o prazer de assinar reportagens da Amazônia na revista. A glória e a extrema unção juntas. A mais importante revista brasileira já agonizava.
Sonhava com a minha paixão, mas não tinha recursos para realizá-la. Foi quando li uma reportagem de um jornalista americano sobre a existência de um “Rei” no Estado do Amazonas (na época eu ainda não tinha o discernimento de separar o Amazonas da Amazônia) fatos que muitos brasileiros permanecem desconhecendo. A matéria, publicada em Seleções do Readers Digest, falava em um homem muito poderoso dono de “uma França” na Amazônia. Seu nome era J.G. de Araújo. Contava que sua empresa, com sede em Manaus, tinha o passeio em frente todo em borracha, o que até hoje existe. Fiz-lhe uma carta pedindo apoio para visitá-lo, já tinha uns 14 anos, justificando o meu encantamento com o que diziam dele. Após um mês, gentilmente me respondeu afirmando que muito do que fora dito devia-se à imaginação do jornalista americano e que a situação comercial de sua empresa não comportaria materializar esse e ouros pedidos. Fiquei muito triste. Anos mais tarde, exatamente em 1959, já em Manaus, incorporado ao exército como oficial R2 de infantaria, fui informado realmente da situação daquela empresa líder que fechara as portas.
É que no tempo da guerra os americanos tentaram ressuscitar a borracha de seringais nativos, mas pouco adiantou. Logo depois veio a sua morte e a estagnação total da região amazônica. É bom lembrar que na época, o governo americano, usando a borracha como argumento, propôs ao Brasil vários contratos nocivos e agressivos à soberania sobre a Amazônia. Todos refutados.
Outro fascínio que alimentava os sonhos de um jovem baiano, sem recursos, era a extraordinária expedição do também baiano, cientista formado em Coimbra, Alexandre Rodrigues Ferreira, que viajou 9 anos pesquisando a Amazônia a mando do governo Português, em 1759, precedendo o ciclo de outras expedições de nomes consagrados como Humboldt, Spix e Saint Hilaire e outros. A saga do grande baiano constitui uma página triste na história universal da ciência. Na época, Napoleão Bonaparte, no alto de sua glória, mandou seu general Junot invadir Portugal. Em decorrência, D. João VI e mais 15 ou 20 mil pessoas do seu reino vieram ter ao Brasil que, obviamente, se beneficiou da fuga. (Grassou uma epidemia de piolhos à bordo obrigando as mulheres a rasparem a cabeça e usar torços. A moda pegou na Bahia, mesmo sem piolho...). As tropas francesas, entre outras ações próprias de uma guerra, apoderaram-se de várias pesquisas de Rodrigues Ferreira, enviados do Brasil, e mandaram para o acervo do “Jardin des Plants”, em Paris, onde muita coisa permanece. Após, consta que Von Spix e Saint Hilaire se apoderaram de parte do trabalho de Rodrigues Ferreira, usurpando sua propriedade intelectual. Portugal abandonou o cientista brasileiro à própria sorte e Alexandre Rodrigues Ferreira veio a morrer pobre, apático e desiludido. Até hoje nem a ciência e nem o Brasil o redimiram, resgatando o seu valor.
Outros dois ícones que habitavam os meus sonhos eram o General Rondon e o intrépido bandeirante, Raposo Tavares. O primeiro, que tratava sua tropa com absoluta disciplina, na floresta, usando até o chicote, dedicava ao índio um extremo amor. Raposo Tavares, em mil seiscentos e pouco, se tivesse ultrapassado os Andes, atingiríamos o Pacífico e teríamos, bem mais cedo, a conquista dos caminhos para a Ásia. Somente no próximo ano o Brasil inaugura a Rodovia Acre – Peru, obra que os americanos conseguiram evitar por mais de 100 anos, exercendo forte pressão sobre o governo brasileiro que engavetava os projetos na marra, notadamente Color e Sarney.
Fonte: Roberto Gueudeville (Encaminhado por Sílvio Persivo ao Portal Gentedeopinião).
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