Quinta-feira, 13 de maio de 2010 - 20h48
Amazônias
BRENA AMÂNCIO (*)
RIO BRANCO, Acre - Além de ponto de pesquisa e leitura, a Biblioteca da Floresta tem se tornado também lugar de conhecimento interior. O ambiente, os livros, as exposições, os objetos típicos da floresta, tudo leva a crer em um mundo mais livre, na beleza do verde da mata, na luta dos seringueiros, na cultura indígena. É um lado da vida que muitos desprezam – ou pelo menos não se interessam em conhecer. É por isso que estudantes e trabalhadores buscam refúgio nela.
Um lugar assim não seria viável se não houvesse usuários, como o fiel visitante da Biblioteca da Floresta, o guia turístico Cesare Inocenti Ricci. O nome é de origem italiana, mas ele é peruano. Nascido em Lima, capital do Peru, Cesare cresceu marcado pela violência da morte da família inteira em um atentado terrorista. Mas a vontade de viver foi maior. Mesmo sozinho no mundo ele quis crescer, e decidiu fazer algo que gostava: guiar turistas. Dedicou-se a aprender outros idiomas e se mudou para Cuzco, uma das cidades mais visitadas do seu país, onde trabalha.
Veio de bicicleta
Como se não bastasse a sua vida agitada, Cesare Ricci decidiu vir para o Brasil, por três motivos: tratar da saúde, divulgar a cidade de Cuzco e seu trabalho em empresas de viagem, e também por sua irresistível admiração pelas brasileiras. Sua vinda foi curiosa.
O guia turístico saiu de Cuzco no dia 15 de julho de 2009 e só chegou a Rio Branco – Acre, no dia 7 de setembro do mesmo ano. Tanta demora deve-se ao fato de Cesare ter vindo às pedaladas. Isso mesmo. Ele veio de Cuzco a Rio Branco de bicicleta, percorrendo uma distância de 1.200 quilômetros. Quanto fôlego!
Passa 8 horas por dia no local
Certo dia Cesare Ricci passava de bicicleta pelo Canal da Maternidade, em Rio Branco, quando um prédio em especial lhe chamou a atenção. A estrutura lembrava uma maloca. Ele, curioso, resolveu entrar para conhecer aquele lugar. Foi o seu primeiro contato com a Biblioteca da Floresta, onde desde então sua presença tem sido constante.
Guia turístico peruano é admirador da história do povo Inca e pesquisa diariamente em Rio Branco |
Ele costuma passar 8 horas por dia no local. Talvez tenha sido essa sua assiduidade um dos motivos pelo qual ele conheceu Regislene Silva, a sua namorada. Os dois se conheceram na Biblioteca da Floresta, e agora já pensam em casamento, já com data marcada.
Cesare Ricci utiliza os recursos da Biblioteca para fazer pesquisas, em especial sobre a Amazônia. Ele, que já morou na Europa, revela sua grande paixão pelo assunto. E tem grande fascínio pelos índios Ashaninkas, ou, como ele mesmo prefere, os “Incas da Selva”.
O guia revela as palavras do Brasil que ele mais gosta: panema e sapo Kambô, ambas ligadas aos povos indígenas. Panema trata-se de um sintoma, e está mais para uma maldição na vida de seringueiros que caçam e pescam para alimentar as famílias. É uma palavra de origem tupi para coisa ruim. Os sintomas são falta de ânimo, azar, má pontaria, cansaço, preguiça.
Já sapo Kambô é o nome dado a uma rã pelos indígenas. Estes usam a secreção do anfíbio para livrar-se deste mal, pois acreditam que ele seja um animal mágico da floresta. Além de curar panema, a secreção do Kambô é utilizada também no combate à preguiça, mal-estar, úlceras, tuberculose e outras doenças.
Melhor que TV
Cesare conta que não tem televisão e nem rádio, então o seu melhor passa-tempo é estar na Biblioteca. Ele elogia a estrutura e os recursos bem conservados do lugar, e isso torna o ambiente bem mais agradável.
O peruano tem data marcada para voltar a sua terra natal, mas jura que jamais esquecerá Rio Branco, e muito menos o seu lugar preferido na cidade.
Eu fiz muitos amigos aqui na Biblioteca da Floresta – lembra. Mas Cesare promete voltar ao Acre, e confessa que sonha em construir uma família com a sua futura esposa acreana. E afirma que quando tiverem filhos ele os trará para conhecer o lugar onde viu a amada pela primeira vez.
(*) Jornalista do site da Biblioteca da Floresta.
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