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Assembléia do Acre homenageia Religiões da Floresta


 
Assembléia do Acre homenageia Religiões da Floresta - Gente de Opinião
No banner à mesa, os mestres Gabriel (UDV), Irineu Serra (Santo Daime) e Daniel Mattos (A Barquinha), fundadores das religiões hoasqueiras /FOTOS ODAIR LEAL
 


JOÃO MAURÍCIO
MIRCLÉIA MATOS e
YURI MARCEL
 Agência Aleac
 
RIO BRANCO, Acre — Em sessão solene com a galeria e o plenário completamente lotados nesta quinta-feira, 15, a Assembléia Legislativa do Estado do Acre entregou títulos de Cidadão Acreano “in memorian” aos fundadores das três principais comunidades tradicionais da ayahuasca: os maranhenses Raimundo Irineu Serra e Daniel Pereira de Matos e o baiano José Gabriel da Costa. A concessão dos títulos foi proposta em 2009 pelo deputado Moisés Diniz (PCdoB) e aprovada por unanimidade pelos 24 deputados da Aleac.

O evento reuniu representantes de diversas correntes religiosas e políticas e foi classificado pelo presidente da Mesa Diretora, deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), como resgate de uma dívida histórica do Estado com três homens que ajudaram a construir a história e a identidade do Acre. 

“Este momento é de reconhecimento por parte do Poder Legislativo, mas, mais importante que o reconhecimento, é a visibilidade que damos a este debate para que a gente possa combater o preconceito, espantar a ignorância e afirmar que o povo acreano foi construído por muitas mãos”, declarou.

Assembléia do Acre homenageia Religiões da Floresta - Gente de Opinião
Madrinha Peregrina dirige os daimistas

Patrimônio da cultura brasileira

A deputada Perpétua Almeida (PCdoB) disse que os fundadores das religiões da floresta, mestres Raimundo Irineu Serra, Daniel Pereira de Matos e José Gabriel da Costa fazem parte da história do Estado do Acre. 

— São nomes que contam a história do nosso Estado, sem eles não dá pra contar. Eu fico feliz que esta Casa legislativa esteja fazendo esse reconhecimento justo. Eu sempre disse que fazer a defesa da Ayahuasca é fazer a defesa do meu Estado, da minha história, da floresta amazônica e hoje com a presença de diferentes personalidades e religiões a homenagem está sendo feita, estou muito feliz”.

Perpétua criticou o preconceito que ainda existe, para ela respeito deve haver sempre independente da religião a ser seguida. 

— Os parlamentares do PC do B estão sendo acusados de apoiar pessoas que bebem um chá pra ficar loucas. Não devemos falar dessa maneira de nenhum tipo de religião, desrespeitar dessa forma chega a ser desumano. Eu nunca tomei porque a forma de me encontrar com meu Deus é diferente da deles que tomam a Ayahuasca. Quem somos nós para dizer quem está mais longe ou mais perto de Deus?  Então, por tudo que já conquistamos no nosso Estado, hoje a Assembleia Legislativa do Acre está demonstrando respeito entregando os títulos de cidadão acreano às famílias dos fundadores da religião da floresta. Não existe mais espaço no Acre para o preconceito.

Políticas Públicas

No final da sessão solene, representantes das comunidades entregaram ao presidente Edvaldo Magalhães um documento intitulado “Carta das Comunidades Tradicionais da Ayahuasca”, resultado de um seminário realizado entre os dias 12 e 14 de abril no Horto Florestal de Rio Branco.

O seminário “Construindo Políticas Públicas para o Acre” foi promovido pela Câmara de Culturas Ayahuasqueiras do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Rio Branco em parceria com o Governo do Estado e a Aleac. O evento reuniu cerca de 300 membros de comunidades da ayahuasca para debater questões relativas às áreas de cultura, educação, turismo, saúde, meio ambiente, urbanismo e segurança pública.

O documento foi entregue ao presidente pela coordenadora da Câmara Temática de Culturas Ayauasqueiras, Lílian Amim. De acordo com Edvaldo, a “Carta” contém propostas construídas de forma coletiva que foram condensadas e pactuadas por muitas mãos. 

— Estas propostas têm força de virar políticas públicas. Cabe aos deputados analisar cada uma delas e definir as que poderemos tornar projetos de lei por iniciativa do Parlamento e as que deveremos remeter para o Poder Executivo como anteprojetos — explicou.
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Mestre Pequenina faz parte do Conselho da Recordação da UDV


Edvaldo garantiu que os três dias de seminário no Horto Florestal não foram em vão.

— Nós vamos adotar pelo Poder Legislativo porque são propostas coletivas, têm conteúdo e muito a ver com a realidade do nosso Estado — disse.

O presidente observou que a realização da sessão solene pouco mais de um mês depois da polêmica em torno da religião, causada pela morte do cartunista Glauco Villas Boas, foi mera coincidência, pois tanto o seminário como a sessão foram programados com bastante antecedência. 

— Mas esta coincidência ajudou, porque no momento em que se prega o preconceito a gente tem fazer o enfrentamento à luz do dia com um debate aberto e trabalhando com a verdade. Trabalhando, inclusive, com aquilo que a gente tem de mais precioso que é nossa identidade cultural — ressaltou.

“Profetas da floresta”

Marcos Vinicius, presidente da Fundação Municipal de Cultura Garibaldi Brasil, ressaltou a importância do reconhecimento cultural. Para ele a Ayahuasca, conhecida com o Vinho das Almas, está conquistando respeito e se espalhando pelo mundo. 

— Faz parte da cultura do povo acreano e está sendo reconhecido aos poucos em todo Brasil e no mundo. De todas as expressões culturais do Estado do Acre, o Vinho das Almas está entre as mais importantes. As diferenças existem dentro do próprio grupo, mas os diálogos existem e as superações também”.

De acordo com Vinicius, os mestres e fundadores dessas comunidades tradicionais jamais fizeram questão de nenhum tipo de recompensa ou reconhecimento. Segundo ele, eles não buscavam quaisquer reconhecimento ou honraria. 

— Falar de uma religião é como interpretar a palavra de Deus, é como decifrar vontades divinas e dialogar com os anjos. Vou falar aqui hoje dos homens de carne e osso, na sua dor, nos dias de frio, fome, desejos, solidão, calor, sofrimento, na sua humanidade — afirmou o deputado Moisés Diniz (PCdoB)

Para Diniz, os mestres Irineu, Daniel e Gabriel “profetas da floresta”, antes de tudo, eram homens de carne e osso. Com toda beleza e na sua perversão, pecadores como nós, como qualquer um, como Buda, como Maomé, como Jesus.

— Gabriel, Irineu e Daniel eram mortais, dotados de todas as habilidades humanas e perseguidos, como pássaros feridos, por todas as serpentes que infernizavam os homens, especialmente aqueles que sobrevivem do trabalho de suas próprias mãos e, como herança do Éden perdido, comem do suor do próprio rosto.

— Nossa homenagem a esses homens, que apesar de toda montanha da mortalidade sobres os seus dias, foram capazes de se tornarem anjos. Nossa reverência aos queridos Mestres Gabriel, Irineu e Daniel.
 

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Deputado Moisés Diniz: "Homens que, apesar de toda a montanha da mortalidade sobre os seus dias. foram capazes de se tornarem anjos".


O amigo recuperado pelo chá

RIO BRANCO – O deputado federal Fernando Melo (PT), coordenador da bancada do Acre no Congresso Nacional, relatou como um amigo de infância, tido como perdido no mundo da criminalidade, foi transformado em um centro de ayahuasca de Rio Branco. 

Colega de futebol no campo do Independência, seu amigo desapareceu repentinamente, pois fora preso na Penal.

— Ele começou a desaparecer e retornar, sempre por causa de algum delito como a gente vinha saber mais tarde. Nós o víamos como perdido, vítima de alguma tragédia que sempre ronda os que vivem nesse mundo —, comentou.  Mais tarde, já na condição de secretário de Segurança Pública do Acre, Melo disse que reencontrou aquele amigo totalmente transformado e procurou se aproximar dele através de um amigo comum.
— Para minha surpresa e satisfação hoje ele é um homem transformado e freqüentador da religião da floresta que hoje esta Casa homenageia —, contou. Para o parlamentar, sem esta religião a sociedade estaria mais degradada.
 

Fundadores substituíram o Estado

RIO BRANCO — O dirigente do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV), Flávio Mesquita, considera que os três fundadores das comunidades da ayahuasca, Irineu Serra, Daniel Pereira de Matos e José Gabriel da Costa, foram os precursores das políticas públicas do Estado. 

— Antes de haver política pública no Acre aqueles três homens já vinham trazendo ordem, organização social, consolo às almas sofridas e dando condições para as pessoas pensarem num futuro melhor— argumentou. Mesquita comentou o seminário “Construindo Políticas Públicas para o Acre” que, segundo ele foi conduzido em clima de ordem, respeito, amor e amizade.

— De nada adianta falar de políticas públicas se não houver amor por aqueles a quem se dirige esta política pública — disse.

Por esta razão, Mesquita defende o prosseguimento desta parceria das comunidades com o poder público com respeito e amizade para a construção, a partir do Acre, de um mundo como Deus quer e não apenas como quer o homem que tem dinheiro e força material.

— Devemos reconhecer o quanto pequenos somos para que conservemos estas condições de vida que este planeta precisa ter — conclamou.
 

Deputado participa há 30 anos

RIO BRANCO — Conhecido por sua participação no Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV), o  deputado Luiz Gonzaga (PSDB) revelou na sessão solene desta quinta-feira, 15, que comemorou no ano passado 30 anos de participação nas comunidades ayahuasqueiras. 

Ele contou que participou de cerimônias nas três comunidades tradicionais do Acre: o Alto Santo ou Ciclu  (Centro de Iluminação Cristã Luz Universal), do mestre Irineu Serra, a Barquinha (Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz), de Daniel Pereira de Matos, e, finalmente, a UDV, de José Gabriel da Costa.

— Eu tive a felicidade de ter comungado a ayahuasca com estes três mestres. Chegou um momento em que eu bebi duas vezes em cada centro e decidi que aquele em que eu comungasse a terceira vez eu ia passar a freqüentar. Foi quando meu amigo Alberto Furtado, no dia 14 de novembro de 1979, me levou para a UDV e eu acabei vendo o seu crescimento no Estado do Acre. Era muito pequena, nem uma área de terra possuía e hoje temos 18 núcleos de distribuição — relatou.

Gonzaga disse como foi o processo de integração entre os centros de ayahuasca e concluiu seu pronunciamento com uma poesia:

— Tenho que agradecer esta oportunidade com uma poesia, pois a vida realmente é bela quanto temos algo que mexe com nossos corações e faz despertar nosso interior.

Participaram da mesa e prestigiaram o evento os deputados federais Fernando Melo (PT) e Perpétua Almeida (PCdoB); padre Mássimo, reitor da Catedral Nossa Senhora de Nazaré, coordenador do Instituto Ecumênico Fé e Política, Manoel Pacífico; pastor Albino, diretor da Faculdade de Teologia Batista Betel, madrinha Peregrina, viúva do mestre Irineu Serra; mestre Pequenina, viúva do mestre Gabriel da Costa, Francisco Oliveira Santos, filho do mestre Daniel de Matos, o mestre geral representante da UDV, Francisco Herculano de Oliveira, e o juiz federal Jair Facundes.

E ainda: os deputados estaduais Moisés Diniz (PCdoB), Luiz Gonzaga (PSDB), membro do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV), Antonia Sales (PMDB), Zé Carlos (PTN), Walter Prado (PDT), Nogueira Lima (DEM), Elson Santiago (PP), Perpétua de Sá (PT), Idalina Onofre (PPS) e Maria Antonia (PP).
 
 
 

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