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Belém, 400 anos: projetos não ouvem a sociedade


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Docas do Pará poderá anexar a Avenida Marechal Hermes ao cais do porto e transferir os históricos galpões de ferro para fora, mas há reclamações /JORDÃO NUNES FARIA-PANORAMIO

 

VALDEMIRO GOMES (*)
 

BELÉM, PA – A administração da Companhia das Docas do Pará anuncia que pretende anexar a Avenida Marechal Hermes ao cais do porto e transferir os históricos galpões de ferro para fora do cais, visando ampliar a área de estocagem de containeres. Anuncia ainda a CDP que, em contrapartida, voltaria a abrir a ex-rua Belém, transformada inexplicavelmente em depósitos, agora como uma nova avenida, um prolongamento da Pedro Álvares Cabral.
 

Quem está sendo ouvido? O instituto de arquitetos? O CREA, Conselho Regional de Engenharia/Agronomia e Arquitetura? Os moradores do Reduto, onde as ruas estão incluídas? O cidadão belenense? A Câmara de Vereadores? O prefeito de Belém? Desconheço.
 

Eu, empresário com empresa instalada no Reduto (Lazer & Cia – hoje, Companhia Athletica), estou alegre. Certo? Certo e errado. Certo, pois a anunciada abertura da ex-rua Belém (sonho que acalento) trará ganho ao patrimônio e valorização do negócio, quando nosso empreendimento ganhará uma nova e importante fachada. Errado, como cidadão, amante de Belém, que não pode aceitar a aberração de ver transformar a Avenida Marechal Hermes em depósito, em um cemitério de contêineres, principalmente quando é sabido que uma grande maioria dos contêineres, que hoje são estocados no retro-porto de Belém, estão vazios e alguns foram transferidos de outros portos pelas facilidades econômicas que aqui encontram.
 

Custa-me a acreditar que a proposta propagada possa esquecer os milhões gastos para a construção da Alça Viária, que permitiu a ligação por terra ao porto de Vila Conde (cujo calado é mais de duas vezes o de Belém). Como justificar tal proposta quando a própria CDP promove a ampliação do porto de Vila do Conde e de seu novo terminal de contêineres? Não compreendo. Para facilitar e levar às nossas autoridades a palavra daqueles que vivem, trabalham, no Reduto, aceitamos liderar um movimento, chamado de Amigos do Reduto, que no futuro poderá tornar-se associação. Hoje, mais de duzentas pessoas já aderiram ao movimento, que busca não somente discutir o futuro do cais e a retirada do mapa da cidade de uma de suas mais importantes avenidas como e especialmente estudar a revitalização do Reduto.
 

O Reduto, um dos bairros mais antigos de nossa cidade, foi no passado coração da economia paraense. Hoje, encontra-se degradado, esquecido, mas que através de algumas iniciativas privadas já sinalizou que pode acordar, voltar a iluminar-se. É no Reduto que o cais do porto de Belém foi edificado, a primeira usina de energia de Belém construída (memorizada nos restos de uma bela chaminé), as primeiras fábricas se instalaram (cordas, sacos, sabão, etc.) e onde os primeiros esgotos (ainda existentes) foram lançados.
 

Os Amigos do Reduto desejam intermediar esforços entre o município e a iniciativa privada visando coordenar as ações necessárias à elaboração de um projeto que transforme o atual decadente Reduto no mais belo e moderno bairro de nossa cidade.

Queremos brindar os 400 anos de nossa Belém, com a comprovação de que é possível sonhar. Sonhar com um novo pacto. Um pacto entre a iniciativa privada e o poder público, para a construção de um novo ideal.

 

(*) Empresário em Belém-PA. Escreveu originalmente esse artigo para o Jornal Pessoal.
 

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