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Brasil acorda alheio ao inferno climático - Por Maurício Tuffani


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MAURÍCIO TUFFANI
Editor de Direto na Ciência

Sob a avalanche das eleições no dia anterior, o Brasil acordou nesta segunda-feira (8) praticamente desatento a uma das principais informações do noticiário internacional – o alerta de que se tornou mais difícil evitar o aumento acima de 1,5 °C da temperatura média do planeta até o final do século, em relação aos níveis pré-industriais.


Esse fenômeno agrava o risco de eventos climáticos extremos com prejuízos para o equilíbrio ambiental, a diversidade de espécies, a produção de alimentos e a saúde humana.

Destacado na primeira página dos principais jornais do mundo, o “Sumário para formuladores de políticas” foi divulgado na noite de domingo pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática das Nações Unidas (IPCC).

Redigido em linguagem não técnica para governantes, o documento chama a atenção para o fato de que o aumento de 1,5°C poderá ser alcançado entre 2030 e 2052 se for mantido o ritmo atual de emissões de gases de efeito estufa (GEE), como explica a reportagem “Limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C requer ação mais ampla e rápida”, de O Estado de S. Paulo.

No Brasil, forças conservadoras irrelevantes no cenário político nas últimas décadas apresentaram-se com roupagens novas e souberam tirar vantagem não só da indignação da sociedade com a corrupção na administração pública, mas também da falta de renovação dos quadros dos principais partidos e até mesmo do sentimento popular de negação da política. E tiveram como resposta quase metade dos votos válidos no primeiro turno para o candidato Jair Bolsonaro (PSL).

“PONTO FINAL” NO ATIVISMO

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Para essa onda conservadora, pouco importou e – certamente para a maior parte de seus eleitores – nem sequer se considerou que Bolsonaro havia prometido justamente tirar o Brasil do Acordo de Paris, assinado a partir de 2015 por 195 países em torno do compromisso para reduzir as emissões de GEE.

Mas esse é apenas um detalhe da plataforma antiambientalista do candidato que agora segue com ampla vantagem para o segundo turno da eleição para presidente.

Na verdade, ele, que já havia prometido barrar a fiscalização de órgãos ambientais como o Ibama e o Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade, reafirmou esse compromisso ontem em seu pronunciamento ontem à noite, após a divulgação do resultado oficial da eleição.

Nessa fala, o candidato também deu um recado não só para os ambientalistas, mas também para outros movimentos da sociedade ao afirmar: “Vamos botar um ponto final em todo o ativismo no Brasil”.

Como mostramos no artigo “Ciência e meio ambiente vão do céu ao inferno nas propostas dos candidatos”, no dia 4, em sua proposta de governo registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou por meio de declarações públicas durante sua campanha antes do primeiro turno, o candidato do PSL é expressamente contrário a vários esforços consagrados como prioridades ambientais.

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APOIO DA VELHA POLÍTICA

Apesar dos brados triunfais da onda conservadora de que conseguiu enterrar a velha política, continuarão no Congresso muitos dos representantes dos setores mais retrógrados do agronegócio e da indústria.

Mesmo tendo garantido ao presidente Michel Temer (MDB) o apoio decisivo para protegê-lo da instauração de processo criminal por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, esses mesmos congressistas já declararam apoio ao candidato do PSL, que promete a faxina na política. E formam a mesma bancada que tem ameaçado o licenciamento ambiental e a consolidação das unidades de conservação e está atuando para enfraquecer a legislação de controle de agrotóxicos.

Em outras palavras, essa onda conservadora coloca o Brasil na contramão dos princípios da conservação ambiental e ameaça a garantia do meio ambiente equilibrado para as gerações do presente e do futuro.

A pior coisa que pode acontecer para a conservação ambiental é ela ser refém da crescente polarização entre esquerda e direita que assola o País.




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