Terça-feira, 3 de janeiro de 2012 - 16h21
Rio Itenez, na fronteira boliviana com o Brasil, em Rondônia: um dos caminhos para a entrada de ácidos e saída de cocaína refinada em laboratórios escondidos na floresta |
CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
Brasil247
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), maior entidade de classe da corporação, diz que o Brasil perdeu o controle sobre a contenção do narcotráfico na região amazônica. Mas a novidade não fica por conta da incúria com a região: agora a Amazônia é atacada por piratas, tais e quais os temidos somalis, da costa da África. Conheça o relatório dos federais:
A ação de traficantes nos rios da Amazônia não chega a ser novidade. Mas um outro tipo de crime também é comum na região: a pirataria. Grupos organizados e fortemente armados atacam barcos de passageiros ou embarcações pertencentes a ribeirinhos para roubar. Os ataques dos piratas acontecem quase sempre à noite e alguns próximos a uma das unidades da Polícia Federal na região que, por falta de equipamentos e de efetivo, fica em desvantagem diante dos criminosos.
A Fenapef não irá divulgar o nome da unidade e nem sua localização para garantir a segurança dos três policiais deslocados para o local. Sem embarcações apropriadas e com armamento insuficiente, os policiais não têm poder de fogo para enfrentar os bandos que muitas vezes agregam entre 20 e 30 piratas.
Sob o comando da Superintendência da Polícia Federal no Amazonas, os policiais sofrem com a falta de condições de trabalho, mas mesmo assim conseguem fazer apreensões de cocaína nas incursões pelo rio nas precárias embarcações da PF.
A falta de equipamentos e embarcações adequadas não é novidade no estado. Há 1 ano, dois agentes federais morreram no combate ao narcotráfico na região. A embarcação em que estavam era inapropriada. “O atual superintendente foi rápido para abrir processos disciplinares contra sindicalistas, mas não tem a mesma agilidade quando a questão é proteger a vida dos policiais em serviço no estado”, diz o diretor de Relações do Trabalho da Fenapef, Francisco Sabino.
Sabino cobra da Polícia Federal operações de grande porte na Região Amazônica para combater o tráfico de drogas e armas e a pirataria nos rios. Segundo ele, as operações da Polícia Federal tem que estar voltadas também para a proteção da vida e a repressão ao crime. “As operações que envolvem políticos e órgãos públicos são importantes e, por sua importância, rendem espaço na mídia, mas tão importante quanto isso são as operações de combate direto ao crime em locais como Amazônia e as demais fronteiras do país”, diz.
Drogas
O Relatório Mundial sobre Drogas 2011 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) aponta o Brasil como a principal rota de cocaína entre os países das Américas. Segundo o documento, o número de casos de apreensões que envolveram o Brasil como país de trânsito de cocaína subiu de 25 em 2005 (somando 339 quilos) para 260 em 2009 (somando 1,5 tonelada). A principal porta de entraga da droga é a região amazônica.
Em 2009, a Colômbia liderou o ranking de apreensões de cocaína no mundo (35%, com 253,4 toneladas), seguida de Estados Unidos (15%, com 108,3 toneladas), Equador (9%, 65 toneladas), Panamá (7%, 52,6 toneladas), Venezuela (4%, 27,8 toneladas), Bolívia (4%, 26,9 toneladas), Espanha (3%, 25,4 toneladas) e Brasil (3%, 24 toneladas).
Com uma estrutura insuficiente e com bases fragilizadas, a Polícia Federal precisa ser melhor equipada, ter seu efetivo aumentado e seus policiais valorizados. Esta é o opinião do presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Marcos Wink. Segundo ele, a Federação já ofereceu sugestões por meio de um relatório para enfrentamento ao crime nas fronteiras. "A proposta foi entregue ao vice-presidente Michel Temer e esperamos que ela comece a sair do papel o quanto antes".
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