Quarta-feira, 13 de julho de 2011 - 19h21
Demolição ocorrida no fim de semana foi criminosa, acusa o arquiteto Luiz Leite de Oliveira: "Ações lesivas ao patrimônio são ignoradas" /DIVULGAÇÃO |
LUIZ LEITE DE OLIVEIRA (*)
Muitas casas no Caiari estão sendo desfiguradas, e pior, algumas já são demolidas. Brevemente, no seu espaço elas poderão ficar transfiguradas, deformadas por quem não sabe o que é restauração ou patrimônio histórico. Hoje o Caiari já está cheio de monstrinhos ou monstrengos envidraçados.
Localizado na parte alta de Porto Velho, entre os bairros do centro da cidade, Arigolândia e Olaria, o nome Caiari tem origem indígena. Significa: “Madeira em cima da água”. Os índios chamavam o Rio Madeira de Caiari, porque nas cheias, as correntezas levam as toras de madeira boiando de rio abaixo.
Surgiu em 1938 com o cinema sonoro, quando ainda se falava principalmente o inglês. O bairro foi instalado entre 1930 e 1940. É o primeiro conjunto habitacional de Porto Velho, com características da arquitetura brasileira, e também um dos primeiros instalados no Brasil. Logo, percebe-se que ele é parte integrante da história da capital do Estado de Rondônia.
Dali emergiu a primeira expansão do processo de planejamento urbano iniciado em 1907, com a instalação do pátio de manobras da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Inicialmente sua construção teve por finalidade atender aos funcionários de alto escalão da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM).
No bairro estão, soberbas, as três caixas-d'água metálicas. Muitos a consideram símbolo da cidade. Realmente, são lindas /DIVULGAÇÃO |
Guaporé e os categas
Teve o privilégio de ser inaugurado pelo Presidente Getulio Vargas, que esteve pessoalmente aqui durante três dias, em outubro de 1940. A partir de 1943, com a criação do Território Federal do Guaporé, o bairro de categoria, considerado de alto padrão, passou a ceder parte dos seus espaços para novas construções residenciais, geminadas ou isoladas, que foram usadas também para atender aos funcionários federais envolvidos com a formação dessa nova unidade federativa.
Segundo a professora Aldenora Heitor Soares, filha de ferroviário da extinta Madeira-Mamoré, o presidente sentiu-se pressionado, em Porto Velho, para decretar as oito horas de trabalho com carteira assinada e também o salário mínimo, ambos depois conquistados. E Vargas conheceu o nosso tradicional reduto.
A arquitetuta brasileira registrava então mais uma grande contribuição, com experiência inovadora, por ser o bairro um dos mais modernos na época de sua construção e por ter características que identificavam os caminhos para conduzir a cidade à produção de alto padrão de moradia, tanto pelo planejamento urbano quanto pela qualidade de suas residências.
As ruas do bairro conjunto são amplas e retilíneas. Foram arborizadas com calçadas, luz elétrica, água encanada e saneamento. Tinha praça e área verde. Podemos dizer que no Brasil daquela época poucas experiências bem sucedidas aconteciam. As edificações residenciais foram construídas com tipologia térrea, telhas francesas, alpendre avarandado e afastamentos para jardins. Modelos diversificados levavam o Caiari a ter uma paisagem sem monotonia formando em conjunto de belas e harmoniosas fachadas. Internamente são bem planejadas e diversificadas e seuss espaços: social, íntimo e de serviços.
O Caiari inovou, oferecendo infra-estrutura urbana especial e qualidade de vida aos categas usuários.
Caiari, repito, significa “madeira em cima d água.”
Considerado grande contribuição e experiência inovadora para a arquitetura brasileira, o Caiari inspira o alto padrão de moradias e o planejamento urbano /DVILUGAÇÃO |
Excepcional valor também
O Caiari também é considerado, integrante do Conjunto Histórico, Arquitetônico e Paisagístico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, em razão do excepcional valor cultural. Reúne monumentos integrantes do Patrimônio Cultural Brasileiro. Portanto, é um bairro tombado!
O retorno do Caiari para cultura para minha terra é de suma importância, principalmente no que diz respeito à música, ao carnaval tradicional.
Ali estão as três imponentes caixas-d'água. São nossos troféus, símbolos, ícones. Tão prejudicadas...
Foram deixadas pela May, Jeckyll & Randolph. Quem eram? No início, quando começamos a ser uma cidade cosmopolita com mais de 52 nacionalidades que moravam aqui e, falando vários idiomas. Naquela época a administração da Ferrovia era estrangeira, mas a EFMM sempre foi brasileirinha. Hoje, algumas pessoas agem feito papagaio, insistindo no período de “nacionalização”. Que horror!
Professora Aldenora Heitor Soares, filha de ferroviário, na frente de sua casa: "Aqui hospedou-se, em 1940, o presidente Getúlio Vargas. Minha casa ainda é do mesmo jeitinho, original". |
Caiari desfigurado é uma insensatez
Cegamente agora desprezam suas soluções de conforto ambiental, onde não se sentia o calor. Aquelas casas deliciosas, propostas de forma inovadora, estão sendo desprezadas. Pior que isso, destruídas. Esse bairro importante está sendo rapidamente desmontado, destruído. Estão permitindo um crime para o consumo comercial imediato, à moda caipira. Inaceitável, horripilante!"
A quem pedir providências para sua proteção? Aos órgãos de proteção do patrimônio histórico e cultural, ao Ministério Público, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional? Com tanta estrutura, aliás caríssima e inacessível para nós, mortais. A quem pedir socorro? eis a questão.
Ah! insensatez!
Como salvar do que resta do belo espaço no Caiari? Pense, ouse, apresente a sua proposta.
(*) É arquiteto, urbanista e pesquisador
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