Sábado, 11 de dezembro de 2010 - 16h16
Inédito: pela primeira vez em 35 anos da luta pela terra em Rondônia, cerca de 500 camponeses proclamaram a própria reforma agrária no Cone Sul, pela qual esperavam 15 anos, desde a chacina de Corumbiara /FOTOS RESISTÊNCIA CAMPONESA |
EPAMINONDAS HENK
Amazônias
Com informações do Resistência Camponesa
FAZENDA SANTA ELINA, Corumbiara – Durante três dias famílias de camponeses celebraram aqui o corte popular e a entrega de certificados de posse das terras, remarcadas depois de muitos anos de luta e sacrifícios. A estrada em precárias condições de tráfego obrigou muitas famílias a andarem a pé distâncias entre 12 e 15 quilômetros.
Segundo os organizadores, o Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina (Codevise) e a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) de Rondônia e Amazônia Ocidental, compareceram camponeses e apoiadores da luta pela terra das cidades e acampamentos de Adriana, Ariquemes, Alto Guarajus, Buritis, Canaã, Cacoal, Cerejeiras, Jacinópolis, Jaru, Lamarca, Machadinho do Oeste, Nélio, Raio de Sol, Rio Alto, Rondolândia, Vanessa, Vitória da União, Corumbiara, Chupinguaia, Espigão do Oeste, Vila Palmares e Vilhena.
A iniciativa da LCP e do Codevise no início do mês é inédita na história fundiária amazônica. Ela foi concebida e se fortaleceu numa região conhecida por conflitos agrários que resultaram em prisões e mortes desde os anos 1980, quando ocorreu o conflito na Fazenda Cabixi.
Queima de fogos e almoço coletivo abriram a festa. Em seguida, os camponeses entoaram o hino “Conquistar a Terra”. Logo depois representantes das organizações democráticas falaram.
Um pedaço da Fazenda Santa Elina foi loteado e distribuído entre parentes das vítimas da chacina e camponeses que acamparam depois deles na região |
Zé Bentão: presente!
Na homenagem às vítimas da luta pela terra em Rondônia, a cada nome lido, todos respondiam: presente!
Com o nome estampado numa faixa, o líder camponês Francisco Pereira do Nascimento, o Zé Bentão, era um deles. Membro fundador da LCP no estado, ele foi brutalmente assassinado a mando de latifundiários em Jacinópolis, no ano de 2008. A Assembléia Popular da área batizou a área cortada da Fazenda Santa Elina como Área Revolucionária Zé Bentão.
Torneios de futebol e voleibol, teatro e forró animaram os participantes. Jovens encenaram a luta de uma vila em que camponeses se rebelaram contra os abusos do latifúndio. A atividade despertou bastante interesse e muitos camponeses se emocionaram.
Diante da plenária, famílias se emocionaram com discursos e com uma peça teatral montada por jovens, na qual mostram a importância da resistência ao latifúndio |
Entrega dos certificados
A entrega dos certificados revestiu-se do momento mais importante. Chamavam os nomes dos camponeses na frente da plenária e cada um recebia o documento correspondente à sua posse.
Mais que a simples entrega de um documento, diante de fisionomias alegres, a cerimônia expressou a concretização de 15 anos de luta, desde a chacina de nove de agosto de 1995. “Há 15 anos o sangue derramado pelos camponeses neste chão regou a semente da luta em nossos corações e mentes; esta semente cresceu, floresceu e deu frutos e hoje suas raízes são tão profundas que o latifúndio já não pode destruir, pelo contrário somos nós que podemos e devemos destruí-lo”, disse um camponês.
Atentamente observado a cada frase, esse trabalhador pediu a todos “para que sempre se lembrassem dos combatentes mortos por assassinato pelas balas do latifúndio e pelas mãos malditas de seus carrascos”. “Eles acreditaram no sonho”.
Lavoura de milho, uma das formas encontradas para a produção e o auto-sustento das famílias. Também plantaram abóbora, melancia e hortifrutis. |
Acerto de contas
Na mesma fala, previu “não estar longe o dia em que haverá um acerto de contas”. “Aí, todos terão de pagar muito caro pelas humilhações, abusos, mortes, miséria e desgraças que causaram às gerações passadas e presentes de camponeses pobres, escravos negros e povos indígenas!”, proclamou.
Líderes e demais beneficiados pelos certificados dos lotes celebraram “a destruição de mais uma parte do latifúndio”. Outro orador, no mesmo tom emocionado, disse: “Sabemos e temos dito que a cada punhalada que damos nele ficará mais fraco até que um dia morrerá pra sempre! É nisso que acreditamos e por esse objetivo temos lutado e seguiremos lutando! Façamos como os companheiros de Santa Elina para cravarmos a bandeira da Revolução Agrária por todos os cantos destruindo o latifúndio e construindo uma verdadeira e Nova Democracia em nosso País.”
QUEM PARTICIPOU
Além do Codevise e da LCP (do Pará e de Rondônia), prestigiaram o ato, entre outros, o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo), Associação Brasileira dos Advogados do Povo, Socorro Popular, Movimento Estudantil Popular Revolucionário, Movimento Feminino Popular, Liga Operária, Sindicato dos trabalhadores Rurais de Espigão do Oeste, Sindicato da Construção Civil de Belo Horizonte, Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves, Escola Popular de Rondônia.
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