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Chaga dolorosa, o analfabetismo volta à pauta


 Chaga dolorosa, o analfabetismo volta à pauta - Gente de Opinião
Sentados no chão, homens e crianças debatem a situação escolar num dos cantões do Alto Juruá,
no Acre. Ali, o único meio de transporte é a canoa e a lancha 'voadeira' /MONTEZUMA CRUZ

MONTEZUMA CRUZ
De Brasília

Metas da educação brasileira para a próxima década estão novamente na pauta da Câmara dos Deputados neste primeiro semestre. Enviado pelo Executivo ao Congresso em dezembro de 2010, o Plano Nacional de Educação já havia sido aprovado pelos deputados no final de 2012, destinando 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor. Votado pelos senadores, o texto retornou à Câmara em dezembro de 2013.
 

O antigo Plano perdera sua vigência e, desde então, o País não define metas prioritárias para o setor. Assim, estados e municípios seguem campeando na escuridão.
 

Transportei-me  para 1974, quando era repórter de uma rádio em Presidente Prudente (SP) e gravava depoimento de idosos. À noite, acompanhava o coordenador do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), Milton Bissolli, e o secretário de educação, Orlando Monteiro do Amaral, nas visitas aos bairros periféricos e distritos, entre eles Montalvão.
 

Quatro anos atrás eu visitava o Alto Juruá, nos confins do Acre, próximo à fronteira Brasil-Peru e dava de cara com o analfabetismo não erradicado das entranhas amazônicas. Presenciava dezenas de impressões digitais de pequenos plantadores de feijão e seringueiros no documento que fundaria uma pequena cooperativa no município de Marechal Thaumaturgo.
 

Isolados em plena Amazônia do século XXI, na localidade do Lago Ceará, na Reserva Extrativista do Alto Rio Juruá, aquelas pessoas recebiam à luz de velas e sem lamparinas, na frente da escolinha de madeira, certificados de participação num curso do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop).
 

Neste início de 2014, ano de Copa do Mundo e de eleições no País, deparo-me com a decisão dos parlamentares em manter a meta mais polêmica do plano nacional de educação, que estabelece os gastos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios em ações educacionais.
 

Atualmente, o governo investe perto de 6% do PIB na área. Conforme o projeto de lei, estima-se que serão 7% em até cinco anos e 10% ao final do plano. Os senadores alteraram outros pontos da proposta, submetendo-os novamente à análise dos deputados.
 

Nesse vaivém, o texto da Câmara estabelecia que todas as crianças deveriam estar alfabetizadas até o terceiro ano do ensino fundamental. Os senadores insistem em que todas as crianças brasileiras devem saber ler e escrever até os seis anos de idade.
 

Ainda não retornei ao Lago do Ceará, muito menos aos cantões do município de Presidente Prudente, entretanto, pergunto-me: nos pacotes de bondade de 2014, o Congresso Nacional garantirá que não teremos mais polegares assinando documentos?
 

A propósito: duvido que um, apenas um assessor do Ministério da Educação, tenha ido à fronteira Brasil-Peru para verificar exatamente meus lamentos neste comentário. Em todo caso, vamos manter acesa a chama da esperança, abrindo bem os olhos aos mentirosos de plantão.



 

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