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Chove menos no Sul da Amazônia


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FÁBIO DE CASTRO
Direto da Ciência, com foto de Neil Palmer

O norte e o sul da Amazônia sempre tiveram características climáticas distintas, mas, segundo um novo estudo, essas diferenças estão ficando cada vez mais pronunciadas graças a alterações nos padrões de chuvas que produzem eventos extremos de seca e enchentes.


A nova pesquisa, que envolveu cientistas do Brasil, Peru e França, revela que nas últimas quatro décadas, houve no sul da Bacia Amazônica menos dias chuvosos e uma redução de 18% no total de precipitação. Enquanto isso, no norte, foi constatado no mesmo período um aumento de 17% no total de chuvas.

“Já sabíamos que o norte e o sul da Amazônia são muito diferentes em termos climáticos, mas focamos este novo trabalho na avaliação dos extremos de precipitação, analisando a quantidade mensal de chuvas e o número de dias chuvosos”, disse a Direto da Ciência um dos autores da pesquisa, o climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em São José dos Campos (SP).

O número de dias chuvosos está aumentando, segundo Marengo, na parte do bioma que inclui o norte da Amazônia peruana e o norte da Amazônia brasileira – especialmente no período de março a maio de cada ano. Mas há aumento também na ocorrência de chuvas extremas, que podem levar a enchentes mais frequentes.

ERA DE EXTREMOS

Na parte meridional do bioma, abrangendo o sul da Amazônia brasileira e a Amazônia boliviana, o número de dias secos é que fica cada vez maior – especialmente na estação de setembro a novembro –, produzindo um atraso na chegada da estação chuvosa e levando a secas extremas. Em comparação com a década de 1970, o atraso chega a quase um mês e meio.

“Os nossos resultados apontam para algo que os modelos climáticos já indicavam: realmente já estamos vivendo em uma era de extremos”, disse Marengo.

Publicado em 26 de setembro na revista científica Climate Dynamics, o estudo “Contrasting North–South changes in Amazon wet-day and dry-day frequency and related atmospheric features (1981–2017)” teve também como autores Jhan Carlo Espinoza, do Instituto Geofísico do Peru, Josyane Ronchail, da Universidade Paris Diderot (França) e Hans Segura, da Universidade de Grenoble-Alpes (França).

ARCO DO DESMATAMENTO

Na Amazônia meridional, as mudanças na intensidade das chuvas verificadas pelos cientistas têm relação com alterações já observadas na circulação atmosférica, de acordo com o pesquisador. “Essa área correspondente ao arco do desmatamento e achamos que essa mudança do uso da terra também pode ter uma influência importante na redução das chuvas, mas o estudo não avaliou esse aspecto”, afirmou.

No norte amazônico, as alterações na intensidade das chuvas estão associadas com o aquecimento do Oceano Atlântico tropical, que produz uma entrada de massas de ar úmidas do norte da bacia, segundo Marengo.

O estudo abrange uma área de mais de 6 milhões de quilômetros quadrados e um período que vai de 1981 a 2017. As consequências das mudanças na intensidade das chuvas podem ser graves para os habitantes da Amazônia, em particular na parte meridional, mais populosa, segundo o cientista.

“No sul, o prolongamento do período seco pode facilitar a propagação das queimadas e afetar a hidrologia dos rios, com impactos ecológicos e econômicos muito grandes em uma região bastante populosa. No norte, por outro lado, as chuvas extremas podem afetar o curso das enchentes nos rios, isolando populações ribeirinhas, por exemplo. Se fossem chuvas regulares não haveria problemas, mas o aumento das chuvas extremas é que complica a situação”, explicou Marengo.


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