Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Amazônias - Gente de Opinião
Amazônias

Chove menos no Sul da Amazônia


Chove menos no Sul da Amazônia   - Gente de Opinião

FÁBIO DE CASTRO
Direto da Ciência, com foto de Neil Palmer

O norte e o sul da Amazônia sempre tiveram características climáticas distintas, mas, segundo um novo estudo, essas diferenças estão ficando cada vez mais pronunciadas graças a alterações nos padrões de chuvas que produzem eventos extremos de seca e enchentes.


A nova pesquisa, que envolveu cientistas do Brasil, Peru e França, revela que nas últimas quatro décadas, houve no sul da Bacia Amazônica menos dias chuvosos e uma redução de 18% no total de precipitação. Enquanto isso, no norte, foi constatado no mesmo período um aumento de 17% no total de chuvas.

“Já sabíamos que o norte e o sul da Amazônia são muito diferentes em termos climáticos, mas focamos este novo trabalho na avaliação dos extremos de precipitação, analisando a quantidade mensal de chuvas e o número de dias chuvosos”, disse a Direto da Ciência um dos autores da pesquisa, o climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em São José dos Campos (SP).

O número de dias chuvosos está aumentando, segundo Marengo, na parte do bioma que inclui o norte da Amazônia peruana e o norte da Amazônia brasileira – especialmente no período de março a maio de cada ano. Mas há aumento também na ocorrência de chuvas extremas, que podem levar a enchentes mais frequentes.

ERA DE EXTREMOS

Na parte meridional do bioma, abrangendo o sul da Amazônia brasileira e a Amazônia boliviana, o número de dias secos é que fica cada vez maior – especialmente na estação de setembro a novembro –, produzindo um atraso na chegada da estação chuvosa e levando a secas extremas. Em comparação com a década de 1970, o atraso chega a quase um mês e meio.

“Os nossos resultados apontam para algo que os modelos climáticos já indicavam: realmente já estamos vivendo em uma era de extremos”, disse Marengo.

Publicado em 26 de setembro na revista científica Climate Dynamics, o estudo “Contrasting North–South changes in Amazon wet-day and dry-day frequency and related atmospheric features (1981–2017)” teve também como autores Jhan Carlo Espinoza, do Instituto Geofísico do Peru, Josyane Ronchail, da Universidade Paris Diderot (França) e Hans Segura, da Universidade de Grenoble-Alpes (França).

ARCO DO DESMATAMENTO

Na Amazônia meridional, as mudanças na intensidade das chuvas verificadas pelos cientistas têm relação com alterações já observadas na circulação atmosférica, de acordo com o pesquisador. “Essa área correspondente ao arco do desmatamento e achamos que essa mudança do uso da terra também pode ter uma influência importante na redução das chuvas, mas o estudo não avaliou esse aspecto”, afirmou.

No norte amazônico, as alterações na intensidade das chuvas estão associadas com o aquecimento do Oceano Atlântico tropical, que produz uma entrada de massas de ar úmidas do norte da bacia, segundo Marengo.

O estudo abrange uma área de mais de 6 milhões de quilômetros quadrados e um período que vai de 1981 a 2017. As consequências das mudanças na intensidade das chuvas podem ser graves para os habitantes da Amazônia, em particular na parte meridional, mais populosa, segundo o cientista.

“No sul, o prolongamento do período seco pode facilitar a propagação das queimadas e afetar a hidrologia dos rios, com impactos ecológicos e econômicos muito grandes em uma região bastante populosa. No norte, por outro lado, as chuvas extremas podem afetar o curso das enchentes nos rios, isolando populações ribeirinhas, por exemplo. Se fossem chuvas regulares não haveria problemas, mas o aumento das chuvas extremas é que complica a situação”, explicou Marengo.


Gente de OpiniãoQuinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, a partir das 9h, começa o 2º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha, com mais de 80 seringueiros

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia chega aos Diálogos Amazônicos, da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), nos dias 4 a 6 agosto, com sua terce

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

A 'Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia' reunirá, na cidade de Belém, no Pará, entre os dias 4 e 8 de agosto, representações regionais e naci

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

A Cúpula da Amazônia acontece nos próximos dias 8 e 9 de agosto, pela primeira vez, em Belém do Pará. O encontro é um marco das relações entre o Bra

Gente de Opinião Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)