Quarta-feira, 30 de junho de 2010 - 14h20
"Hoje dá gosto andar em Canaã", dizem os ocupantes da área, mostrando casas, tuias, galinheiros, chiqueiros, gado leiteiro, farinheiras, cacau, café, feijão, arroz e milho /Fotos RESISTÊNCIA CAMPONESA |
EPAMINONDAS HENK
Amazônias
ARIQUEMES, Rondônia – Ao denunciar o risco de despejo em terras ocupadas nas fazendas Arrobas e Só cacau, tidas como abandonadas desde 2003, no município de Ariquemes, a Comissão de Camponeses da Área Canaã distribuiu esta semana um manifesto, no qual pede apoio da sociedade para evitar o pior para mais de duzentas famílias: terem que deixar seus lotes à força e com repressão.
As famílias possuem casas, criações e roças, muitas das quais foram destruídas pela polícia e por jagunços, queixa-se a comissão, vinculada à Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e da Amazônia Ocidental.
Os camponeses se sentem “injustiçados” pelo juiz Danilo Augusto Kanthack Paccini. Dizem que em 2006, quando ele atuava em Buritis, pistoleiros do latifundiário Lourival assassinaram dois camponeses do Acampamento Jacinópolis 2 e atingiram um tiro na cabeça de um menino de 12 anos.
– Apenas quatro meses depois o magistrado expediu uma ordem de reintegração contra os camponeses do acampamento – afirmam.
– Vivemos, estudamos e trabalhamos com dignidade, retiramos nosso sustento de nossa terra, com nosso próprio suor. Nossa produção também é vendida na cidade — informam os camponeses.
De acordo com o documento distribuído na região e às autoridades estaduais de Rondônia, as fazendas “estavam totalmente abandonadas”.
– Até franceses que moram em São Paulo estão entre os que se dizem donos das terras, mas o único documento que eles têm é um contrato com o Incra, que lhes dava o direito de trabalhar na terra, não a posse dela. Não cumpriram o contrato e ainda usufruíram de financiamentos, conseguidos graças ao documento”.
Abóboras gigantes de Canaã são as melhores de Rondônia, garantem pequenos produtores do acampamento ameaçado de despejo |
Dá gosto andar em Canaã
– Hoje dá gosto andar no Canaã! – dizem animados os líderes das famílias camponesas. E apontam para suas casas, tuias, galinheiros, chiqueiros, gado leiteiro, farinheiras, cacau e café secando, arroz na pilha, feijão pra colher, horta e vários outros cultivos.
– Temos um barracão da Assembléia, um postinho de saúde, uma máquina de limpar arroz e uma triadeira, mais de dez quilômetros de estradas construídos e reformados com nossos esforços. Um ônibus escolar passa no Canaã duas vezes por dia para buscar os alunos. Também temos duas turmas de alfabetização de jovens e adultos.
Construção de casas é feita por mutirões. Crianças já freqüentam a escola |
Despejo a bala e perseguições
A nota da comissão lembra: “Em 2009, camponeses do Acampamento João Batista ( em Rio Crespo ) foram despejados e atacados por pistoleiros da grileira Maria Della Libera. Um jovem foi torturado e um líder camponês levou dois tiros e escapou por pouco de ser assassinado. Esses crimes da grileira foram encorajados pelo juiz, numa audiência um mês antes. Ele disse aos gritos que no acampamento não tem sem-terra, só tem bandido!”.
O desabafo dos camponeses se resume à sua peleja constante pela posse de terras nas áreas transformadas em acampamentos. Para eles, “os verdadeiros bandidos em Rondônia são os latifundiários e seus agentes”. Não poupam “juízes, politiqueiros, imprensa vendida, polícias, além de seus bandos armados”.
A comissão quer sensibilizar a sociedade, arriscando dizer:
— O juiz não se importa se vamos passar fome e desemprego na cidade. Mas nós temos um recado: somos camponeses, trabalhadores honrados. Não somos cachorros para os senhores pisarem em cima”.
Por último, afirmam terem sofrido muito em Canaã, de onde várias vezes foram despejados sob tiros e perseguições. E lamentam:
— Fomos despejados várias vezes, pistoleiros queimaram nossas roças e criações; a PM prendeu e torturou dois jovens camponeses. Estas terras são nossas, não sairemos daqui!
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