Quinta-feira, 23 de julho de 2015 - 08h27
Purificadores de água compactos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) estão garantindo água potável para comunidades isoladas da região amazônica. Os aparelhos funcionam com energia solar e fornecem água limpa para pessoas que vivem em locais remotos, sem acesso à energia elétrica. Entre as 13 populações com o purificador já instalado, estão os índios denis, que residem a 25 dias de barco de Manaus, no Alto Rio Juruá.
O purificador elimina 99,5% das bactérias, fungos e coliformes da água dos rios por meio de uma lâmpada de luz ultravioleta C, os raios mais perigosos da radiação ultravioleta. A lâmpada é colocada no interior de um tubo metálico. Quando a água passa pelo tubo é bombardeada pela luz e sai desinfetada. Um painel de energia solar carrega a bateria que acende a luz.
Durante a 67ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos, o pesquisador do Inpa Carlos Bueno, em entrevista à Agência Brasil, disse que o projeto foi desenvolvido para evitar mortes por contaminação e verminoses, principalmente de crianças, devido ao consumo de água não potável. Os testes em aldeias indígenas começaram em 2007. “O purificador é resultado da remodelagem de tecnologias que já existiam”, explicou.
Segundo o pesquisador, apesar da grande quantidade de água doce na região amazônica, há muita água de baixa qualidade. “Nos rios próximos a comunidades, as águas encontram-se poluídas por populações que vivem de costas para o rio”, ressaltou. Bueno atribui o fato a fatores culturais, como a crença de que a sujeira jogada no rio é levada embora.
O Inpa, em parceria com o sistema de saúde, está avaliando os impactos da tecnologia nos números de contaminação e verminoses das populações beneficiadas. “Os resultados são altamente positivos, os indígenas, inclusive, apelidaram o aparelho de ‘benção de Deus’”, disse Bueno.
O Instituto tem 56 aparelhos montados. De acordo com o pesquisador, ainda este ano, serão instalados dois purificadores em cada estado da Região Norte, em comunidades isoladas, unidades de conservação e pelotões de fronteira do Exército.
O purificador é uma caixa metálica de 13 quilos, e todo o sistema custa R$ 2 mil, incluindo o painel solar e o filtro de entrada. A lâmpada e a bateria duram cerca de 10 mil horas, ou seja, de três a quatro anos. Bueno acrescenta que a manutenção é mínima neste período.
Acoplado a um painel de energia solar e à caixa de água das comunidades, o purificador filtra 400 litros por hora, ou seja, 5 mil litros por dia, o suficiente para fornecer água limpa para beber e cozinhar a 300 pessoas.
Mas, para que o purificador funcione com eficiência, a água que passa pelo aparelho precisa ser límpida, translúcida, permitindo que a luz a atravesse. Bueno conta que as águas dos rios da Amazônia são diversificadas, assim como a fauna e a flora da região. “Temos água branca, preta, como no Rio Negro, e igarapés, vermelha, como em São Gabriel da Cachoeira, barrenta ou branca, como do Rio Amazonas e Solimões, e verde, como a do Rio Tapajós.”
O pesquisador explicou que cada uma dessas águas têm quantidades diferentes de resíduos em suspensão, que precisam passar por um filtro físico antes de entrar no purificador, que é um filtro biológico. “Com água barrenta, por exemplo, a eficiência da radiação não vai ser boa, então o aparelho exige que sejam acoplados filtros para melhorar a qualidade da água antes que seja purificada”, explicou.
Os filtros usados nos purificadores em operação foram comprados prontos no mercado, mas o Inpa está patenteando um projeto de filtro natural feito com sementes de plantas como as palmeiras e tubos de PVC. “Entre as vantagens desse tipo de filtro é que, além de retirar materiais em suspensão, ele tira o cheiro da água. E como as sementes são a parte mais nutritiva das plantas, ricas em minerais, tornam a água mais rica.”
O especialista informou que, para expandir a produção do purificador, o Inpa assinou um contrato de parceria com uma empresa que trabalha com energias alternativas. “Estão trabalhando junto com o Inpa e vão dar escala de produção para o aparelho.”
O instituto também fez parceria com o Exército para desenvolver um projeto chamado Homem Água, que consiste em um modelo mais compacto do aparelho que vai caber em uma mochila. “Quando os soldados estiverem em treinamentos na selva, por exemplo, vão poder instalar o sistema e tratar água para o pelotão inteiro tomar quando pararem”, explicou Bueno.
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