Terça-feira, 22 de junho de 2010 - 17h51
Parcagem é um sistema com seis décadas de vida. Junto com a tração animal, ele garante bons resultados nas lavouras de pequenos agricultores paraenses /FOTOS BRABO ALVES |
RAIMUNDO NONATO BRABO ALVES (*)
Especial para Amazônias
TRAQUATEUA, Pará— Com uso da parcagem e tração animal, duas técnicas milenares de agricultura, os agricultores do pequeno município de Traquateua, produzem mandioca de modo sustentável há mais de 60 anos. O cenário é o dos campos naturais bragantinos, constituídos de savanas inundáveis propícias ao criatório de bovinos e de “tesos” que são favoráveis à prática da agricultura, neste pequeno município da região dos lagos, a 250 quilômetros de Belém, capital do Estado do Pará.
Os protagonistas são os agricultores familiares das comunidades da Chapada, que são verdadeiros “craques” no cultivo da mandioca.Esses pequenos agricultores desenvolvem em seus sistemas de produção dois processos milenares de cultivo: a parcagem associada com a tração animal, para a produção de mandioca, feijão caupi e fumo, numa perfeita integração lavoura/pecuária, provando que “modernos” não são apenas os produtores que se utilizam da motomecanização, mas que a tração animal é tão ou mais eficiente que os possantes tratores, principalmente para as pequenas lavouras da agricultura familiar.
Preparado o solo, os agricultores plantam a mandioca solteira, ou consorciada com feijão ou fumo. Na colheita a receita auferida varia de R$ 1,5 mil a R$ 4 mil por hectare |
Oito pernoites em piquetes
O início das operações começa com a parcagem, que consiste em trazer o gado para oito pernoites em piquetes que os agricultores denominam de “caixinhas”. Com a rotação dos piquetes, que tem a dimensão média de 50 m de lado, ao final de 32 dias, os bovinos fertilizam com esterco um hectare de solo.
A segunda operação é a aração com tração animal, feita com uma a quatro juntas de bois, dependendo do tamanho da área a preparar. Em seguida é feito o nivelamento da área com o uso de um rolo de madeira tracionado também por animais.
O importante nestas operações é a integração da família, pois se percebe que pais, filhos e netos participam simultâneamente destas atividades de preparo do solo e plantio. Os netos guiam os bois e os pais e avôs seguram na rabiça dos arados.
O depoimento de Chico Espada, líder da comunidade, é muito importante. Ele afirma:
— Agricultores que substituíram a aração à tração animal pelo trator, tiveram muitas perdas na mandioca por problema de podridão.
É que o preparo do solo feito com trator e grade aradora, forma o “pé de grade”, camada compactada a uns 10 cm de profundidade do solo, dificultando a drenagem e sujeitando-o ao encharcamento. A aração a tração animal com arado de aiveca, além de dar melhor estrutura promove uniformidade ao solo.
Rotação dos piquetes, que têm a dimensão média de 50 m de lado, ao final de 32 dias. Bovinos fertilizam com esterco um hectare de solo |
Consórcio com fumo ou feijão
Preparado o solo, os agricultores plantam a mandioca solteira, ou consorciada com feijão ou fumo. Na colheita a receita auferida varia de R$ 1.500,00 a R$ 4.000,00 por hectare, dependendo do manejo das culturas e da diversificação usada nos consórcios.
Os sistemas são perfeitamente adaptados e sustentáveis, tanto que vem sendo reproduzidos por três gerações a mais de 60 anos. Segundo ainda depoimentos de Chico Espada “a tração animal foi introduzida na região por pesquisadores que trabalhavam no campo experimental de Traquateua no antigo Instituto Agronômico do Norte (atual Embrapa Amazônia Oriental) na década de 1950.
No Estado do Pará existe uma pressão muito grande sobre o governo estadual e as administrações municipais, para a expansão da motomecanização na agricultura familiar como solução para a produção.
Nunca é possível atender a todos, com a abrangência necessária. Além do que a maioria das áreas mecanizadas pelas prefeituras deixa o solo em condições inadequadas para o cultivo, ou pela inexperiência dos operadores ou pela inadequação de implementos, como no uso abusivo de grades aradoras. Bem que um programa de fomento poderia valorizar a tração animal para os agricultores familiares.
Pequenos agricultores familiares de Traquateua na região dos lagos nos oferecem “um show de bola” no domínio de um sistema agrícola simples, independente e sustentável. Quem quiser presenciar um verdadeiro “gol de placa” nesta época de Copa do Mundo, visite a região dos lagos de Traquateua em pleno plantio das lavouras de mandioca.
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