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Cresce a migração internacional de mulheres amazônicas


 

Cresce a migração internacional de mulheres amazônicas - Gente de Opinião

Quando a segunda mulher migra, ela vai 'atrás' da primeira, constata pesquisador do Núcleo de Estudos Amazônicos /MONTEZUMA CRUZ
 

 

GLAUCE MONTEIRO
Beira do Rio

Jornal da Universidade Federal do Pará
De Belém

 

Pela primeira vez, o censo da população brasileira feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incluiu perguntas sobre a migração internacional, questionando não apenas os motivos de entrada e saída do País, mas também os destinos e o tempo de permanência. Quando as respostas forem divulgadas, saberemos mais sobre um fenômeno até o momento quase invisível na Amazônia: a migração internacional de mulheres.

 

Ainda hoje, não se sabe ao certo quem elas são, para onde vão e a importância do que elas fazem, mas o fenômeno da migração internacional de mulheres na Amazônia chama atenção pela sua dupla invisibilidade. Segundo Marcel Hazeu, aluno de doutorado do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) da Universidade Federal do Pará, de um lado, as pesquisas nacionais sobre migração retratam a Amazônia de forma homogênea. Por outro lado, as pesquisas sobre migração na Amazônia ainda não estabelecem diferenciação entre a migração masculina e a feminina, e aquelas que incluem as mulheres, referem-se apenas ao tráfico internacional de pessoas.

 
Em sua dissertação de mestrado, orientada pela professora Marília Emmi, o pesquisador analisou a migração de mulheres em periferias de Belém. "As mulheres que migram não são todas vítimas de tráfico, nem saem especificamente para exercer a prostituição. A realidade dessas idas e vindas internacionais é mais complexa e envolve a mulher que migra, mas também toda a sua família e a sua comunidade. A migração é algo maior e presente no dia a dia dos bairros periféricos". A pesquisa observou trajetórias, destinos, causas e consequências desta migração para quem migra e para as famílias que permanecem nas periferias da cidade.

 

Perfil é de jovens que vivem momento de crise

 

Entre os anos de 2009 e 2011, Marcel Hazeu entrevistou 27 famílias com mulheres migrantes. Em cada uma, ele identificou uma "pioneira" e suas "seguidoras". "Nos anos seguintes, irmãs, sobrinhas, primas, cunhadas seguem essa primeira mulher. Na pesquisa, foram identificadas 54 mulheres migrantes e dois fluxos migratórios mais marcantes", revela. O primeiro dirige-se ao Suriname e a alguns países localizados ao norte da América do Sul. O segundo destina-se a países europeus.

 

O perfil dessas mulheres é parecido. "São jovens que estão passando por um momento marcante: divórcio, maternidade, desemprego ou estão repensando e reavaliando suas vidas. O destino não é exatamente 'escolhido'. Ele está relacionado mais ao contato ou à pessoa que permite ou motiva a migração do que às características do lugar. Muitas vezes, essas mulheres não sabem nada sobre o lugar para onde estão indo", diz o pesquisador.

 

A migração acontece sempre em redes. "Ou se conhece alguém que está lá, ou alguém que está indo. Esta é a única segurança e a garantia de entrada no país estrangeiro. Se, no aeroporto, a migrante tiver alguém esperando por ela, a migração fica mais fácil e tem mais chances de se consolidar. Mesmo o tráfico de pessoas e a migração ligada à prostituição acontecem em redes", explica Marcel Hazeu.

 

Das 27 pioneiras, 11 foram para o Suriname, local com maior atração, as outras 16 foram para países europeus. Mas o lugar em que as entrevistadas viviam antes de voltar para o Brasil nem sempre é o mesmo do destino inicial. Assim, embora, no início, 11 tenham migrado para o Suriname, apenas oito delas voltaram diretamente de lá. As demais seguiram para outros lugares. "Quando a segunda mulher migra, ela vai 'atrás' da primeira. A seguidora traça o mesmo trajeto ou parte deste trajeto, justamente pela segurança que as redes representam", compara Marcel Hazeu.
 

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