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Crônicas Martinopolenses, um lindo presente para a “terra de sonhadores”


Crônicas Martinopolenses, um lindo presente para a “terra de sonhadores”  - Gente de Opinião

Jornalista, historiador, cronista, bancário aposentado, um dos maiores colecionadores de cartões postais (tinha 204 mil no ano passado) do País, José Carlos Daltozo lançou Crônicas Martinopolenses, reunindo textos escritos por nativos ou filhos adotivos.

Martinópolis é um município de 24,2 mil quilômetros, quadrados a 539 quilômetros de São Paulo, Capital. “Terra de sonhadores”, escreve a jornalista Giselle Tomé.

“O livro impresso na Cipola Indústria Gráfica diferencia-se totalmente dos 11 que já publiquei obre Martinópolis. Diferente em todos os sentidos, não tem uma foto sequer, mas todos os relatos são interessantíssimos”, explica Daltozo.
Setenta e seis pessoas participam da publicação, revelando o seu sentimento a respeito da cidade.

O autor lembra a sua chegada a Martinópolis, em fevereiro de 1978, como chefe de serviços do Banco do Brasil. Seu chefe tinha um mapa na parede e ele foi olha onde ficava o lugar para onde fora transferido, da agência do Brás, na Capital.

INESQUECÍVEL 1958 NO BAR DO TATINHA

Jornalista, radialista e publicitário, Vislei Bossan recorda:

“O Bar do Tatinha recebia o martinopolense de braços e mesas abertas. Num domingo de 1958 fui a uma matinê no cinema ali pertinho e na volta, praticamente todas as mesas estavam no lado de fora, com cerveja, guaraná e muita alegria.
“O pessoal estava eufórico, o Brasil tinha sido campeão mundial de futebol na Suécia, pela primeira vez na sua história. A comemoração foi até altas horas da noite no Bar do Tatinha. Tinha nascido para o futebol mundial um tal de Pelé.

“Ao lado de um craque em cada posição, de Gilmar a Zagalo, passando por Djalma Santos, Beline, Orlando, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha e Vavá. Há coisas acontecidas em Martinópolis que a gente não esquece. O Bar do Tatinha uma delas. E como é”.

“Um mito no futebol de salão”, texto de Vicente Bazzo, bancário aposentado, bacharel em Direito pela Unoeste, lembra o período de glórias do futebol de salão, com o brilhantismo da AABB no período de 1989 a 1994.
A equipe foi campeã estadual em 1991, superando os times de Franca, Santo André e Campinas.

“O trabalho muitas vezes ultrapassava o horário convencional, os atletas não esmoreciam e compareciam aos treinamentos noturnos e nos fins de semana”, conta.

54 ANOS DE DATILOGRAFIA

A, s, d, f, g – mão esquerda. Ç, l, k, j, h – mão direita. Quem aprendeu pelo método, decorou. Ensinar datilografia durante 54 anos foi a saga de dona Raquel Pereira Goulart, professora na Escola Barão de Mauá.
Sua filha Suely Goulart Schmidt, formada em Educação Física pela Unesp, artesã e voluntária em entidades beneficentes, é autora do relato.

“O curso de datilografia foi o pontapé inicial de toda a minha vida profissional e de meus irmãos, uma vida burocrático-administrativa”, narra Eliud Feltrin, funcionário aposentado do Banco do Brasil. Antes de aprender a escrever a máquina, ele morou na roça, estudou os cursos primário e ginasial e foi engraxate.

“A CADA DOIS ANOS, UM FILHO”

Em depoimento à neta, Cândida de Freitas Martins de Oliveira Costa, filha caçula do fundador da cidade, coronel João Gomes Martins (português da Ilha da Madeira), traz mais recordações: “(...) Naquela época não se falava as coisas claramente, isso é o que eu ouvi falar. Eu era criança quando meus pais morreram. Dizem que ele era um homem de bom coração. Quando saíamos do colégio, ele gostava que convidássemos as amigas para vir em casa e dizia que depois iríamos a casa delas

“Falam que meus pais eram primos. A cada dois anos, eles tinham um filho. Eles se casaram no Brasil, em Taiúva. O primeiro filho se chamava João, depois veio o Eduardo, a Bibiana – como o nome da Igreja Matriz de Martinópolis –, Paulina (mais conhecida como Paula), Iracema, Guiomar (a Zóe), Artur, Nair e eu, Cândida”.

“Em São Paulo, meu pai abriu o escritório da Colonização Martins. Morávamos na Rua Oscar Porto, 64, no Paraíso. Foi lá que Bibiana se casou e eu nasci. Foi lá que minha mãe faleceu também. Eu tinha seis anos”.

MARTINÓPOLIS E SEUS FANTASMAS

“Da janela do meu quarto, eu via colocados sobre os muros cabeças de assombrações, alumiadas por uma vela. Menino desobediente, que não tirava notas boas, estava fadado a esse destino trágico de ser levado por elas. Mas não era só isso: nos fundos do Grupo Escolar havia uma enorme plantação de eucaliptos – e é ali que moravam os vampiros. Vampiros gostavam de crianças gordas e por isso eu achava que estava a salvo, mas temia por meu amigo Turinho, que era um pouco gordo e poderia ter o seu sangue sugado. Esses vampiros atacavam também o pescoço de cavalos e vacas, enfim, eram muito perigosos mesmo.

“Havia coisa pior: crianças levadas, que faziam arapucas para pegar passarinho, poderiam receber um abraço de tamanduá, que morava na mata. O tamanduá, além de abraçar essa criança levada, enfiando as unhas nas costas, ainda enfiava a língua pelas narinas dela e chupava tudo o que havia dentro, como se fossem formigas” – lembra o jornalista e ex-desembargador de Justiça e ex-secretário de Justiça Aluísio de Toledo César.

LEITORA QUER MAIS

Satisfeita, a leitora Helena Carolina Martins Marrey constatou variados estilos e disse ter reencontrado amigos queridos. “Creio que muita coisa ainda pode ser dita, quiçá em um segundo volume, este tocou fundo nosso coração”.
Helena e tantos outros martinopolenses, ou não, se redescobrem ao apreciar livros que reúnem ingredientes históricos, bom humor e profunda solidariedade humana. É o caso destas Crônicas Martinopolenses, um presente que perpetua a “terra de sonhadores”.

Domingos Nelson Martins, engenheiro e empresário, lembra que um casamento celebrado no dia 25 de abril de 1940 uniu duas famílias italianas, os Martino e os Quaranta. Eram os pais dele: o farmacêutico Geraldo Martins e dona Victória Ângela Quaranta.

Os sobrenomes, ele explica, foram aportuguesados anos antes, pelos cartorários, quando da produção de documentos dos imigrantes Giuseppe Martino e Pietro Quaranta.

Outros capítulos do livro falam de casarões, colonização, famílias pioneiras, agricultura, atletas, bancos, comerciantes, bares, bêbados, mendigos, professores, soldados na Força Expedicionária Brasileira, na 2ª Guerra Mundial, religiosos, Vila Escócia, rios, e, lógico, o trem da Sorocabana e a famosíssima ZYR 35, a rádio de Nenê Rodrigues.

QUEM É

Daltozo é membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, da Associação Prudentina de Escritores e da Academia Venceslauense de Letras. Disse-me num bilhete: “Agora tenho 15 filhos, sendo três de carne e osso, e 12 de papel”. Seu contato: jcdaltozo@uol.com.br

Clique para ler também:
Era assim o sertão paulista

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