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De novo, a ocupação em Corumbiara


 

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Santa Elina reocupada: sina de cada ano das famílias vitimadas pelo massacre de 1995, e de outras que ali chegaram, de lá para cá /FOTOS EPAMINONDAS HENK

 
 

EPAMINONDAS HENK e
MONTEZUMA CRUZ
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CORUMBIARA, Rondônia – Parece filme em reprise, mas esta é a rotina das famílias das vítimas do massacre de Corumbiara e dos novos ocupantes de uma parte do latifúndio da Fazenda Santa Elina. No Dia do Trabalhador Rural, 25, famílias retomaram suas terras, a exemplo do que ocorreu em 2008 e 2009.

— As vítimas de Santa Elina decidiram não mais esperar pelas promessas do governo e voltaram para essas regadas de sangue. E ali vão ficar — manifestou-se hoje o Comitê de Defesa das Vítimas da Fazenda Santa Elina (Codevise), apoiado pela Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e da Amazônia Ocidental, a conhecida LCP.

No próximo dia nove de agosto completarão 15 anos que a fazenda foi sacudida pela tropa de choque da Polícia Militar de Rondônia, autorizada pelo então governador Valdir Raupp (PMDB). O ataque aos ocupantes das terras do fazendeiro Antenor Duarte ocorreu de madrugada. Cerca de 600 pessoas ofereceram resistência, mas o choque terminou em tragédia: 11 mortos, incluindo a menina Vanessa, de apenas sete anos. A PM perdeu dois soldados. Casas foram destruídas, pertences confiscados, e dezenas de vítimas correram para o mato.

Não ficou nisso. O confronto com a polícia deixou seqüelas físicas e psicológicas nas vítimas do ataque, conforme afirma o Codevise:

— Foi uma grande violência. Muitos deles ficaram com balas encravadas no corpo. Outros morreram de doenças causadas pelos espancamentos e torturas.

Quinze anos depois, as vítimas de Santa Elina designaram um grupo de representantes para exigir seus direitos em Brasília. Segundo lembra o Codevise, três viagens resultaram em reuniões com o governo e um acampamento na Esplanada dos Ministérios. Mas pouco prosperaram as negociações. Nem o relatório da Ouvidoria Agrária Nacional sensibilizou o governo para a situação de penúria das famílias.

O Codevise cobra justiça do próprio presidente da República. Luiz Inácio Lula da Silva, na época candidato a presidente, foi pessoalmente à fazenda para se solidarizar com as famílias das vítimas. Mais que isso, comprometeu-se a lutar para indenizá-las e punir os autores do massacre. Quem permaneceu nas terras decidiu fazer reforma agrária com as próprias mãos, um método adotado pela LCP em outras regiões de Rondônia, desde 2009.

 
 

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Em 2008, após a retomada, a polícia foi ao acampamento para derrubar e queimar casebres dos camponeses

 

 

Promessa não cumprida e indenização esquecida

O Codevise distribuiu hoje a seguinte nota:

No dia 9 de agosto completará 15 anos da primeira  tomada  da Fazenda Santa Elina – em Corumbiara, onde os camponeses opuseram uma feroz resistência ao massacre covarde e sanguinário promovido pelo latifúndio e o governo do Estado dirigido por Valdir Raupp (aliança PMDB-PT).

Na época, Luiz Inácio (PT), então candidato a presidente, prometeu que se fosse eleito, indenizaria todas as vítimas, cortaria a fazenda e puniria os responsáveis pelo sofrimento de tantos companheiros e companheiras. Hoje passados já quase oito anos de governo, nenhum dos responsáveis foi punido, a fazenda não foi cortada e as vítimas ainda lutam por receber indenização e tratamento médico.

A reforma agrária do governo faliu, o Incra não corta terras no Cone Sul há mais de 13 anos. Agora na época das eleições fazem mil promessas, tudo para ganhar voto, mas depois se esquecem do povo.

Cansamos de esperar! Decidimos fazer com nossas próprias mãos! Somente o povo organizado fará as mudanças de que esse país precisa! A Revolução Agrária vai cortar todas as terras do latifúndio para quem necessita delas para trabalhar, viver e produzir!

Nós, vítimas de Santa Elina juntamente com nossos filhos, parentes e outros camponeses sem terra retomamos a Fazenda Santa Elina. Estamos decididos a cortar e permanecer nessas terras custe o que custar.

Pedimos apoio aos trabalhadores, aos comerciantes e demais pessoas honestas e democráticas para fortalecer nossa luta e desenvolver a região.

Chamamos você que sempre trabalhou nas terras dos outros e ainda não conseguiu seu lote, você que trabalha na cidade e passa dificuldades para sustentar sua família, você que está desempregado, você mãe solteira que passa dificuldades e cuida sozinha de seus filhos, você que está cansado de esperar terra pelo Incra, você jovem que não arruma trabalho, venham todos, juntem-se a nós. Chegou a hora de resolvermos todos os nossos problemas, ter terras, trabalho e viver com dignidade!

Junte suas ferramentas de trabalho, lona e alimentos! A terra é boa, produtiva e grande! A fazenda Santa Elina finalmente pertence ao povo!

Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina

 
 

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O antigo acampamento não existe mais. Em manifesto, famílias cobram do governo federal indenização por mortes, danos físicos, morais e psicológicos


 

 

 

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