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Devedores faltam a reuniões. Tudo na mesma entre seringueiros


 

 

XICO NERY
Amazônias

 

ARIQUEMES, Rondônia – A proteção dos recursos naturais entre comunidades tradicionais desafia cada vez mais os seringueiros rondonienses. Este é o pensamento do presidente da Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR), Adão Laia Arteaga, 39, ao cobrar da Justiça a punição de madeireiros que, conforme acusa, mantêm acordos irresponsáveis “com grupos viciados da categoria e não-seringueiros”.

 

— São pessoas que não vivem e nunca moraram dentro das reservas — tornou a lembrar.

 

Arteaga lembrou ter pedido por duas vezes à diretoria da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), “para conter a voracidade de lucro fácil dos associados da entidade”. Mencionou os senhores Avalone Sossai Farias e Edilson Popinhak.

 

— Porque eles ainda não saldaram débitos históricos com as famílias de seringueiros em Machadinho do Oeste e região – ressaltou.

 

Ausência

 

Numa reunião com o superintendente de Fiero, Gilberto Baptista, houve promessa de providências, mas Avalone, considerado o maior devedor, não compareceu por duas vezes. A negativa às propostas de conciliação feitas pelo presidente da OSR obrigou a categoria a denunciar à Justiça os acordos comerciais entre seringueiros e empresas madeireiras sob o crivo do Ministério do Meio Ambiente, Secretaria Estadual do Desenvolvimento Ambiental, Associações e Cooperativas de Seringueiros de Machadinho do Oeste, Costa Marques, Guajará-Mirim, distritos de Vista Alegre do Abunã e Jaci-Paraná e do município de Porto Velho.

 

O vice-presidente da Fiero, Avalone Sossai Farias, também presidente do Sindicato dos Madeireiros de Ariquemes e do Grupo Wood Shopping da Madeira, é acusado pelo ex-presidente da OSR, Oswaldo Castro de Oliveira, de ter extraído 500 hectares (um talhão) da Reserva Extrativista Rio Preto Jacundá e até hoje não ter pago as compensações às famílias, tampouco à Associação dos Seringueiros (Asmorex).

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Arteaga e dona Cecília, tia do líder seringueiro Chico Mendes, morto em 1988 /XICO NERY

 

Ele garantiu a Arteaga que, no retorno de sua viagem, Avalone faria o pagamento. Isso não ocorreu. Madeireiros dos municípios de Jaru, Machadinho do Oeste, Ariquemes e Costa Marques, igualmente com pendências com as famílias tradicionais de seringueiros, tiveram seus nomes relacionados nos documentos.

 

Os pedidos chegaram aos Ministérios do Meio Ambiente, da Justiça, ao Ministério Público Federal e Estadual, ao Conselho Nacional de Justiça, à Polícia Federal, Câmara dos Deputados, Senado Federal, Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e até à Organização das Nações (ONU).

 

Consulados e embaixadas da Comunidade Econômica Européia, do Japão, da China e dos Estados Unidos também foram informados. Pelo motivo de a madeira rondoniense ser vendida para esses países.

 

Segundo auditoria interna feita pela nova diretoria da OSR, Avalone deve a associações e cooperativas vinculadas à entidade no eixo Cujubim-Machadinho do Oeste. Extraoficialmente, seriam mais de R$ 1,5 milhão. No ranking dos inadimplentes, somem-se valores devidos pelo, também, vice-presidente da Fiero, Edilson Popinhak. Segundo Arteaga, “pelo menos este, não diz que não paga”.

 

Dificuldade

 

Segundo a OSR 10,5 mil pessoas vivem nas reservas extrativistas rondonienses em Machadinho do Oeste, Cujubim, Costa Marques e Guajará-Mirim.  A maioria é formada por nativos e remanescentes de soldados da borracha  que vieram do Nordeste no século passado.

 

Atualmente, essas famílias – muitas das quais fora dos programas de cobertura social dos governos – dependem, exclusivamente, das compensações financeiras oriundas da exploração, uso e comércio da madeira extraídas das reservas  extrativistas.


Vivem e trabalham sem os benefícios de tecnologias. São dependentes do dinheiro de acordos comerciais interveniados pela Sedam e Ministério do Meio Ambiente. Deixaram de viver em tapiris (tipo de habitação construída do caule do açaizeiro, paxiúba e palha de palmeiras).

 

– O dinheiro das compensações é para a melhoria da qualidade de vida das famílias, investimentos na saúde, educação, habitação, energia, transporte e cidadania. Mas nada disso acontece há mais de três décadas nos seringais rondonienses – lamenta Arteaga.

 

 

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