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É possível vender castanha sem atravessador


 

É possível vender castanha sem atravessador - Gente de Opinião
Seringueiros dos rios Guariba e Roosevelt fazem parte da história da exploração de borracha nativa no estado do Mato Grosso e há registros históricos de ocupação da região de pelo menos um século /LAÉRCIO MIRANDA
 

 

ANDRÉ ALVES
De Cuiabá (MT)

 

Extrativistas da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, entre os municípios de Colniza e Aripuanã, no Noroeste de Mato Grosso, encontraram um caminho para comercializar a produção de castanha-do-Brasil sem precisar recorrer a atravessadores. Um contrato firmado entre a Conab, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Formação de Estoque e a Associação dos Moradores Agroextrativista da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba (Amoraar) garantiu um empréstimo de mais de 100 mil reais para que a associação possa pagar à vista a produção de cada família.

 

Com esse recurso os extrativistas podem vender diretamente a associação, que depois negocia a produção com empresas do comércio justo. Somente nesta safra, mais de 40 toneladas de castanha foram compradas pela associação com recursos do empréstimo da Conab. A Associação tem um ano para pagar o recurso com juros de apenas 3%. Pedro, morador da resex, explica que havia um desânimo entre a população em relação ao extrativismo. “A gente trabalhava o ano todo e ainda ficava devendo o marreteiro (atravessador). Os atravessadores eram a única opção que a Resex possuía para a comercialização devido a distância aos centros compradores aliados as dificuldades de transporte e de comunicação.

 

Com apoio do Projeto Pacto das Águas, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, os extrativistas passaram a ser capacitados em boas práticas de manejo de castanha-do-Brasil (também conhecida como castanha do Pará) e serem assessorados na elaboração de projetos, além de ajudar a buscar parceiros comerciais justos. “Isso só foi possível porque os moradores se organizaram em associação, estimulados pelas nossas capacitações, e também devido aos apoios feitos pelo projeto Pacto das Águas e anteriormente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento”, explica Emerson de Oliveira, técnico do projeto. “Com isso a Resex produz uma castanha do tipo dry, de ótima qualidade, atendendo aos padrões das grandes empresas de alimentos e cosméticos”, complementa. 

 

Nos dois últimos anos, as comunidades do Guariba e do Roosevelt produziram cerca de 60 toneladas de castanha por safra. Uma quantidade quase três vezes maior que há dez anos e com um preço mais justo e os extrativistas recebendo na entrega da produção. Com a seringa, outro importante produto tradicional da reserva, nas duas últimas safras foi extraído mais de vinte toneladas de látex.

 

Essa atividade chegou a ser interrompida no início do século pelo baixo valor de mercado e dificuldade de venda, estimulando os moradores mais jovens a buscar trabalhos fora da comunidade. “Hoje em dia já tem valor a nossa produção. Ano passado eu comprei uma moto e paguei à vista, com o dinheiro da produção da castanha. E outras pessoas daqui também”, explica Pedro Pereira Sobrinho. 

 

Já para Ailton Pereira dos Santos, presidente da Amoraar, o projeto Pacto das Águas trouxe outro efeito bastante positivo. “Agora as pessoas ficam na comunidade e isso é muito importante. O seringueiro sai de manhã para cortar seringa e à tarde está em casa, com a castanha é a mesma coisa”, esclarece.

 
 

Saiba mais sobre a Resex Guariba-Roosevelt

 

A Reserva Extrativista Guariba Roosevelt é uma Unidade de Conservação, criada pelo Decreto 9.521 de 1996 e Lei Estadual 7.164, ampliada pela Lei 8.680/2007. Está localizada nos municípios de Aripuanã, e Colniza.

 

A principal fonte econômica dos moradores se baseia na agricultura e na extração do látex, óleo de copaíba e castanha-do-Brasil.

 

A Reserva ainda enfrenta problemas fundiários, sociais e de infraestrutura.

 

O Pacto das Águas apoiou a produção de 735 toneladas de castanha do Brasil entre 2007 e 2012, provenientes do manejo de castanhais nativos. De 2007 até agora, foram produzidas 50 toneladas de borracha natural, das quais, 14 toneladas somente nos últimos meses. Isso proporcionou renda de R$ 200 mil do manejo dos seringais e R$ 850 mil do manejo dos castanhais para as comunidades locais.

 

A produção é comercializada para cooperativas e empresas do Brasil, e parte é utilizada para subsistência e rituais indígenas. Ações do Pacto das Águas estão direcionadas para as terras indígenas Erikbaktsa, Japuíra, Escondido, do Povo Rikbaktsa, e Zoró e a Resex Guariba Roosevelt, abrangendo no seu conjunto uma área aproximada de 880 mil hectares e 2.500 pessoas, todas habitantes da região Noroeste da Amazônia Mato-grossense.

 

O projeto envolve os municípios de Juína, Juara, Cotriguaçu, Colniza, Aripuanã e Rondolândia. Após ingressarem no projeto, os índios Zoró já são os maiores produtores de castanha do Estado do Mato Grosso, com uma produção média de 160 toneladas por ano.

 

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