Terça-feira, 19 de janeiro de 2016 - 19h13
Montezuma Cruz
Amazônias
O mimetismo animal é uma das riquezas da fauna amazônica. ¨Interessante observar como essa coral pode variar sua coloração para se assemelhar a diferentes espécies de coral verdadeira¨, comenta a bolsista de iniciação científica do Museu Paraense Emílio Goeldi, Paula Carolina Rodrigues de Almeida. Ela se refere à espécie Atractus latifrons, uma falsa coral que, na Amazônia, imita diferentes espécies de coral verdadeira.
O comportamento mimético dessa espécie de serpente não-venenosa, sua capacidade de imitar uma espécie peçonhenta, é o foco central da pesquisa da bolsista, que analisou a variação de cores e formas – aspectos cromáticos e morfológicos – dessa coral que imita seis espécies do gênero Micrurus a partir de quatro padrões diferentes de coloração e vive enterrada em galerias.
Da série Vale a pena ler de novo:
A pesquisa revela que, na Amazônia, a Atractus latifrons varia de coloração dependendo da região e da espécie de coral verdadeira que deseja imitar. “Essa variação cromática está relacionada com o comportamento de mimetizar com as Micrurus verdadeiras”, explica a pesquisadora do Goeldi, Ana Prudente. Ela orienta o trabalho de iniciação científica.
Para Paula, a pesquisa é pertinente, pois há pouca informação disponível sobre o comportamento mimético da espécie. “É um assunto que começamos a trabalhar agora e, por isso, ainda tem muito para se estudar e conhecer”.
O estudo faz parte da revisão de gênero Atractus – que ocorre desde o norte da América do Sul até o sul da Argentina – para a Amazônia. “Essa é a única espécie do gênero que apresenta um padrão que varia muito em termos de coloração”, explica Ana Prudente.
“Queremos descobrir por que os indivíduos de A. latifrons apresentam colorações distintas em diferentes regiões da Amazônia, embora sejam da mesma espécie”, afirma Prudente. “Talvez a coloração seja tão diferente que, geneticamente, elas podem ser diferentes, concluindo por espécies distintas, que estavam sendo tratadas como uma espécie só”, explica.
A primeira etapa da pesquisa sobre o comportamento mimético da espécie priorizou o estudo de diferentes padrões de coloração que ela apresenta, na Amazônia. Para a região amazônica, Paula identificou seis padrões de coloração, incluindo duas variações, que a espécie apresenta nos estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso.
Coleções herpetológicas
Aluna do Curso de Licenciatura Plena em Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú, ela analisou 58 exemplares de A. latifrons, comparando-as com diferentes espécies de coral verdadeira do gênero Micrurus que ocorrem na região amazônica: M. avery, M. albicinctus, M. filiformis, M. langsdorffi e espécies do grupo M. lemniscatus, que ocorrem na região de Presidente Figueiredo, a 107 quilômetros de Manaus, no Amazonas.
O material analisado pertence às coleções herpetológicas de cinco instituições de pesquisa do País: Museu Goeldi, Instituto Butantã, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e Universidade Federal do Mato Grosso. “A cada remessa de exemplares que recebíamos de outros museus para estudar, observávamos um padrão diferente de coloração”, lembra Paula.
Os padrões identificados variam do “coralino”, o padrão da coral verdadeira, até a variação “preto e branco”.
No futuro, a pesquisa vai verificar se as variações encontradas se constituem em variações de uma mesma espécie ou em novas espécies. “É um trabalho bem interessante, inédito, que nós queremos dar continuidade no mestrado da aluna”, promete Ana Prudente
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