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FAO sugere que jovens de países em desenvolvimento não deixem áreas rurais



Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil

Relatório divulgado hoje (9) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sugere que os jovens que vivem nas áreas rurais de países em desenvolvimento não deixem esses locais em busca de empregos nas grandes cidades e aproveitem “o papel fundamental” que essas áreas terão para o crescimento econômico desses países.

De acordo com a nova edição do relatório anual O Estado da Alimentação e da Agricultura no Mundo, “os habitantes das áreas rurais que se deslocam para as cidades provavelmente correrão um maior risco de juntarem-se à população urbana pobre, em vez de encontrar um caminho para sair da pobreza”.

A urbanização – em especial das cidades com menos de 500 mil habitantes – representa, segundo a FAO, uma “oportunidade de ouro” para a agricultura desenvolvida nas áreas rurais, em especial para os agricultores familiares. Para que isso aconteça, entretanto, é necessário dar a eles condições para que possam dar conta da demanda que surge a partir desses mercados.

“As políticas e os investimentos públicos de apoio serão essenciais para aproveitar a demanda urbana como motor de um crescimento transformador e equitativo, e as medidas elaboradas para garantir a participação dos pequenos agricultores familiares no mercado devem estar integradas às políticas”, diz o relatório.

A FAO acrescenta que o investimento nas áreas rurais também ajudará os países a cumprirem a Agenda 2030 para o desenvolvimento, uma vez que a maioria das pessoas pobres ou que passam fome vivem nessas áreas.

Entre os desafios previstos para aproveitar o potencial das áreas rurais, a FAO sugere três linhas de ação. A primeira está relacionada à execução de políticas que garantam que os pequenos produtores possam satisfazer a demanda alimentar urbana – é o caso de medidas como o fortalecimento dos direitos à posse de terra e o acesso a crédito.

Em segundo lugar, o estudo aponta a criação de infraestrutura adequada para fazer a ligação das áreas rurais com os mercados urbanos. De acordo com o levantamento da FAO, “em muitos países em desenvolvimento a falta de estradas rurais, redes elétricas, galpões de armazenagem e sistemas de transporte refrigerado são um grande obstáculo para os agricultores que desejam aproveitar a demanda urbana de frutas frescas, hortaliças, carne e produtos derivados do leite”.

A terceira ação consiste na inclusão de zonas urbanas menores e dispersas nessas conexões – não apenas megacidades.

Ainda de acordo com a FAO, o apoio a políticas e o investimento nas áreas rurais “para construir sistemas alimentares potentes” pode ajudar também as agroindústrias que estão bem conectadas com as áreas urbanas, de forma a criar emprego e permitir que um maior número de pessoas permaneça e prospere no meio rural.

Novas oportunidades econômicas poderão surgir também das atividades não agrícolas relacionadas à agricultura. É o caso de empresas que processam, refinam, embalam, transportam, armazenam, comercializam ou vendem alimentos; o de empresas prestadoras de serviços como os de irrigação ou plantio; e também das empresas fornecedoras de insumos produtivos, como sementes, ferramentas e equipamentos, e fertilizantes.

O relatório conclui que os centros urbanos menores representam um mercado de alimentos “muito negligenciado”, quando, na verdade, “metade da população urbana de países em desenvolvimento vive em cidades e povoados com menos de 500 mil habitantes”.

Programas brasileiros

O relatório elogia programas brasileiros como os que compram a produção de agricultores familiares para compor a merenda escolar oferecida pelas escolas públicas. Sem citar nominalmente o programa de Seguro Rural, elogia também "ferramentas de gerenciamento de riscos" que resultam na proteção de ativos de produtores mais pobres.

“Outras inovações agora amplamente aplicada incluem a ligação de esquemas públicos de compras de alimentos à alimentação escolar. É o caso de programas de apoio a pequenos agricultores familiares fornecedores que têm como pioneiro o Brasil. Proteção social e ferramentas de gerenciamento de riscos para regiões rurais pobres, bem como para famílias agrícolas, promovem inclusão e transformações rurais por meio da proteção de ativos”, diz o relatório.

Em outro momento, o relatório diz que “nos países onde existe um grande setor comercial, como o Brasil, as fazendas menores são mais produtivas que as fazendas maiores, mas não mais produtivas que as fazendas comerciais de grande escala”.

O relatório da FAO apresentou alguns números que retratam a evolução e a situação atual da alimentação e da agricultura no planeta. O documento afirma que a demanda dos mercados urbanos é crescente e, atualmente, representa até 70% dos abastecimentos nacionais de alimentos.

Segundo a publicação, a população rural do mundo em desenvolvimento aumentou em 1,5 bilhão de pessoas entre 1960 (1,6 bilhão de pessoas) e 2015 (3,1 bilhões de pessoas). Atualmente as grandes cidades (de 5 a 10 milhões de habitantes) e as megacidades (com mais de 10 milhões de habitantes) representam 20% da população urbana do planeta.

Metade da população mundial vive, atualmente, em cidades com menos de 500 mil habitantes ou em áreas rurais que as cercam. Em nível mundial, as zonas urbanas menores representam cerca de 60% da demanda urbana por alimentos.

O relatório projeta que, em 2030, a maioria da população urbana mundial estará concentrada nas cidades com uma população que não superará 1 milhão de habitantes, e que 80% dessas pessoas viverão em áreas urbanas com menos de 500 mil habitantes.

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