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Florestas urbanas


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Valéria Del Cueto (*)

Há mais em Belém do que se imagina numa primeira abordagem. A cidade em 2016 comemora 400 anos da sua fundação e foi considerada, na época da áurea do extrativismo da  borracha, de 1890 a 1920, a “Paris n’América”. Pensam que é pouco?

Foi do “Bois de Bologne”, da Cidade Luz que veio a inspiração para a reforma do Parque Municipal, criado em agosto de 1883. Antônio Lemos, intendente municipal, o transforma no Bosque Rodrigues Alves,hoje reconhecido como Jardim Zoobotânico da Amazônia.

Passear por sua área de 15 hectares, é uma viagem à floresta amazônica, com direito a alamedas, viveiros, monumentos e recantos com grutas, riachos e cascatas. São mais de 10 mil árvores, de aproximadamente 300 espécies da região, incluído algumas em extinção. Caso do Cedro, Anjelim Rajado e Talibuca. O clima fica completo com 430 animais, de 29 espécies, que vivem em cativeiro. Outras 26 circulam livremente pelo espaço. São aves, répteis e mamíferos regionais coexistindo em perfeito equilíbrio com a natureza.

Pereira Passos, em 1905 faria a reforma urbanística do Rio de Janeiro. O prefeito carioca se inspirou e bebeu da mesma fonte que o responsável pelas mudanças urbanísticas que até hoje caracterizam Belém. Antes disso, a capital do Pará já havia partido na frente: foi a primeira cidade brasileira a ter luz elétrica e linhas de bonde elétricos. Era o auge do Ciclo da Borracha, em plena Belle Époque.

Da Europa chegam máquinas e peças de ferro, oriundas das mudanças provocadas pela Revolução Industrial. Muitas dessas estruturas podem ser vistas pela cidade. Entre elas o Chalé de Ferro, pré-fabricado e trazido da Bélgica. Montado entre 1882 e 1900, com 378 metros quadrados, serviu de residência e foi realocado no Bosque Rodrigues Alves.

Todo o complexo, que também é um campo de estudos e cultivos de mudas, é responsabilidade da Prefeitura Municipal e gerenciado pela Secretaria de Meio Ambiente.

Um Parque Zoobotânico está bom? Está não... Belém tem, além do Mangal das Garças, (já devidamente destrinchado em “Céu na terra”), mais um lugar especial para interagir com a grandiosidade da natureza local.

O Museu Emílio Goeldi, instituição de pesquisas ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, se dedica, desde 1866, a estudar cientificamente os sistemas naturais e socioculturais da Amazônia. São mais de 5 hectares com  2 mil espécies, 600 exemplares da fauna e muitas atividades. Entre elas, exposições sobre temas locais, como “Amazônia, o homem e o ambiente” que ocupa uma das quatro salas do prédio principal, conhecido como Rocinha.

Destaco a recepção proporcionada por Rafael, um dos integrantes do Clube do Pesquisador Mirim. Nos abordou uniformizado, de prancheta na mão, querendo que respondêssemos a algumas questões sobre o parque, seus animais e nossas expectativas em relação ao passeio. Compenetrado, nos acompanhou mostrando algumas das atrações que mais gostava. Explicou que não havia chegado ao clube pela escola, mas pedindo que sua mãe o levasse até o Museu depois de assistir na televisão uma reportagem sobre as atividades dos participantes.

As matrículas anuais estavam abertas. “Não parei de perturbar até ela me trazer. Estou adorando.” A ação educativa começou em 1997 e, de lá para cá, foi definitiva na escolha da profissão de inúmeros estudantes que passaram pelo clube. Muitos seguiram carreiras nas áreas de Zoobotânica, alguns São profissionais ligados a instituição.

Talvez esteja na hora de o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes fazer uma visita a Belém do Pará para entender como é essencial a existência de um zoológico para uma comunidade. Quem sabe, não volte de lá com noções de como manter esse tipo de estrutura sem precisar entrega-la à iniciativa privada. Todos os espaços aqui citados pertencem e são geridos pelo poder público. Vivendo e aprendendo...

(*) Jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No rumo do sem fim”.

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