Quinta-feira, 11 de março de 2010 - 12h08
Dupla de cientistas vietnamita e japonês confirma, com testes em laboratório, que o extrato do vegetal é capaz de frear o crescimento de células de vários tipos da doença. Próximo passo é identificar as substâncias ativas no processo
Sarah Kiewel/Divulgação |
Todos os anos, o Brasil colhe cerca de 1,6 milhão de toneladas de mamão-papaia, o que lhe confere a condição de maior produtor mundial. Do outro lado do mundo, no Vietnã, Nam Dang cresceu ouvindo várias histórias de pacientes com câncer avançado que não mais respondiam a tratamentos convencionais. E de alguns deles que haviam experimentado remissão de longos períodos na evolução dos tumores após beberem o chá feito com a folha da fruta. “Quando eu trabalhava como médico do MD Anderson Cancer Center, em Houston, encontrei uma paciente com avançado câncer de estômago metástico que havia falhado no tratamento de quimioterapia convencional e experimentara uma remissão de vários anos depois de ingerir o chá”, contou ao Correio, por e-mail, Dang, que atua hoje como hematologista e oncologista da Universidade da Flórida.
Após investigar o histórico clínico de pacientes, Dang decidiu trabalhar em parceria com um antigo colaborador de suas pesquisas, o japonês Chikao Morimoto, professor e diretor do Departamento de Imunologia Clínica da Universidade de Tóquio. Ambos investigaram o efeito in vitro (em tubos de ensaio) dos extratos da folha de papaia. “O chá tem alguma atividade contra a proliferação de várias células do câncer, além de ação imunomoduladora”, afirmou Morimoto, também em entrevista por e-mail.
De acordo com Nam Dang, os testes mostraram que o extrato do chá de papaia surte um efeito direto na eliminação das células cancerígenas, ao inibir o crescimento do tumor. “Além disso, percebemos que o extrato da folha de papaia estimula a liberação de certos fatores imunes (citoquinas) que podem potencialmente ativar o sistema imunológico e serem importantes no combate a tumores selecionados”, explicou o vietnamita.
Regulação
As citoquinas Th-1 — cuja produção é acelerada pelo chá— regulam o sistema imunológico, fazendo com que ele tenha eficiência em combater vários tipos de câncer e podem abrir caminho para estratégias terapêuticas inovadoras e baseadas na própria defesa do organismo. Por sua vez, Morimoto afirma que alguns dos pacientes responderam muito bem ao tratamento, com o completo desaparecimento do tumor ou com a considerável melhora na qualidade de vida. “O ponto mais importante é que os extratos de papaia não apresentaram qualquer efeito colateral. Isso ajudará na eficiência das terapias padrões”, prevê o japonês.
Os pesquisadores expuseram 10 diferentes tipos de células de câncer humano a quatro concentrações distintas de extrato de papaia. Ao medirem o efeito 24 horas depois, perceberam que a papaia desacelerou o crescimento dos tumores em todas os casos. Morimoto conta que sua equipe realizou estudos de acompanhamento de pacientes e percebeu a eficácia do chá da folha de mamão-papaia no combate aos tumores de estômago, pulmões, pâncreas, fígado, mamas, ovário e do glioma (câncer que ataca o Sistema Nervoso Central). Os efeitos observados foram cada vez mais intensos à medida que as células receberam doses maiores do chá de folhas secas do papaia.
Efeitos
Dang notou que os registros clínicos de pacientes com câncer que faziam uso do chá havia bastante tempo não apresentavam qualquer efeito colateral. “Isso é muito diferente da quimioterapia, que pode ter efeitos muitos fortes e inespecíficos, que muitas vezes levam à interrupção do tratamento ou mesmo colocam a vida em perigo”, comenta o vietnamita.
Os estudos de Dang, Morimoto e colegas foram detalhados na edição de 17 de fevereiro da revista científica Journal of Ethnopharmacology. Apesar de celebrar os resultados das pesquisas, Dang sabe que ainda há muito a ser feito. “Nós precisamos identificar a substância ativa no extrato do chá da folha de papaia que tenha atividade contra o câncer”, admite. “Depois, será necessário testar a substância de um modo científico e rigoroso, para termos a certeza de que o efeito é específico e que não seja ligado à aleatoridade ou às chances”, acrescenta. Acima de qualquer coisa, o especialista da Universidade da Flórida quer comprovar que o chá é seguro, como foi sugerido pelos históricos clínicos aos quais teve acesso. “Esse é um primeiro passo encorajador, que nos dará uma explicação científica para as anedotas clínicas”, conclui.
De acordo com Morimoto, sua equipe tem trabalhado com extratos da folha de papaia fabricados no Japão. “Agora vamos identificar os ingredientes ativos”, confirma. O médico japonês possui dados preliminares sobre a ação do extrato no câncer humano transplantados em camundongos. “Foi parcialmente efetivo por administração oral. O desenvolvimento da droga foi muito caro e nos tomou muito tempo. Decidimos desenvolver esse material como agente para a medicina alternativa”, conclui Morimoto.
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