Quarta-feira, 20 de junho de 2012 - 17h25
Data de dois mil anos o início da construção dos geoglifos, formas geométricas encontradas no chão da Amazônia Ocidental pela primeira vez em 1977, no Acre; na foto, o Geoglifo de Água Fria, em Xapuri /DIGO GURGEL |
FLAMÍNIO ARARIPE (*)
De Fortaleza
O início da construção dos geoglifos, formas geométricas encontradas no chão da Amazônia Ocidental pela primeira vez em 1977, no Acre, data de 2 mil anos antes do presente. Doze datações radiocarbônicas que datam a construção e ocupação dos geoglifos entre 2 mil e 700 anos antes do presente foram publicadas em um artigo intitulado “New radiometric dates for precolumbian (2000‐700 b.p.) earthworks in western Amazonia, Brazil”, em maio, no “Journal of Field Archaeology”.
O estudo sugere que “a construção desses aterros geométricos pode ter sido um fenômeno regional compartilhado, especialmente entre os povos Arawak e os Tacana, por eles usados para reuniões, atividades religiosas e, em alguns casos, como locais de moradia”.
Conforme o estudo, sensoriamento remoto e levantamento em terra revelaram 281 geoglifos, localizados principalmente nas bordas de planaltos nos vales dos afluentes a sudeste do rio Purus. A pesquisa foi liderada por Denise Schaan, da Universidade Federal do Pará (UFPA), com Martti Pärssinen, do Instituto Iberoamericano de Finlândia, de Madrid; Sanna Saunaluoma, da Universidade de Helsinki, Finlândia; Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre (UFAC); Miriam Bueno, da Universidade Federal de Goiás e Antonia Barbosa, da UFPA.
Todos estes pesquisadores estarão em Rio Branco para participar do II Simpósio Internacional Arqueologia da Amazônia Ocidental - Geoglifos do Acre - 35 Anos de Descobertas, a ser realizado nos dias 27 a 30 de junho no Centro Cultural do Tribunal de Justiça. O seminário enfoca aspectos científicos, culturais, legais, com enfoque na preservação do patrimônio histórico do legado, e turísticos, com vistas à sustentabilidade das ocorrências arqueológicas.
A descoberta dos geoglifos no Acre ocorreu em 1977 numa expedição dos arqueólogos Ondemar Ferreira Dias Jr. e Franklin Levy, ambos do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), que estarão presentes e serão homenageados no evento. Na expedição de 1977, o estudante de Geografia da UFAC, Alceu Ranzi, foi destacado como auxiliar de campo para acompanhar os dois arqueólogos do IAB. No mesmo ano, ele acompanhou outra expedição no rio Juruá, em Cruzeiro do Sul, Acre, com os paleontólogos Daryl Paul Domming e Árito Rosas Júnior, que veio a influenciar mais tarde na sua trajetória acadêmica com mestrado e doutorado sobre Paleontologia da Amazônia, Mamíferos Fósseis do Juruá.
O interesse do pesquisador Alceu Ranzi pelos geoglifos ressurgiu em 1986, ao observar da janela de um Boeing as formas geométricas desenhadas no chão de uma fazenda que havia substituído a cobertura florestal pelo pasto /DIEGO GURGEL |
O interesse de Alceu Ranzi pelos geoglifos ressurgiu em 1986 ao observar da janela do Boeing as formas geométricas desenhadas no chão de uma fazenda que havia substituído a cobertura florestal pelo pasto. Depois, levou o fotógrafo Agenor Mariano para registrar o fenômeno em sobrevoo na área de Boca do Acre, Amazonas, em avião monomotor. Em 2000, um novo sobrevoo sem uma porta traseira do monomotor registrou novas imagens dos geoglifos com o fotógrafo Edson Caetano, para publicação sobre o tema por Alceu Ranzi e Rodrigo Aguiar, na revista Munda, de Coimbra, Portugal, mais tarde ampliado no livro Geoglifos da Amazônia - Perspectiva Aérea, dos dois autores.
Conheça a programação completa
■ O relato de Ondemar Ferreira Dias Jr., Franklin Levy e Alceu Ranzi – “As primeiras pesquisas arqueológicas no Acre” – abre o simpósio no dia 27, às 20h. Será lançada a exposição Geoglifos do Acre – 35 Anos de Descobertas.
■ As pesquisas arqueológicas na Amazônia Ocidental serão discutidas no dia 28: às 8h30, Denise Pahl Schaan, da UFPA e Grupo de Pesquisa Geoglifos da Amazônia (GPGA), discorre sobre Patrimônio Arqueológico do Acre, com Antonia Damasceno Barbosa, mestranda do curso de Mestrado em Antropologia da UFPA e do DPHC da Fundação Elias Mansour.
■ Às 9h, Clark Erickson, da University of Pennsylvania, EUA aborda o tema “Landscapes, Monuments, and Forests of Chocolate in the Bolivian Amazon” e, às 9h40, Carlos Zimpel, da Universidade Federal de Rondônia, fala sobre “O Contexto Arqueológico da Serra da Muralha (RO) e sua relação com os geoglifos”. Às 10h40, Sanna Saunaluoma, da University of Helsinki discorre sobre o tema “Comparando Sítios Arqueológicos na Bolívia e no Acre”.
■ No painel Pesquisas paleoecológicas e pedológicas em sítios arqueológicos da Amazônia Ocidental, às 14h20, Francis Mayle, da University of Edinburgh, Escócia, fala da “Paleoecologia da Amazônia Ocidental” e, às 15h, José Iriarte, da University of Exeter, Inglaterra, trata do tema “Paisagem e recursos de subsistência nos sítios tipo geoglifo”. Em seguida, às 15h49, Wenceslau Teixeira, da Embrapa Solos (RJ) aborda o tema “Os Horizontes Antrópicos do Solo em Sítios Arqueológicos na Amazônia: o estudo dos geoglifos” e, às 16h40 , Falberni Costa, da Embrapa Acre discorre sobre “A Composição Pedológica de Sítios tipo Geoglifo”. Às 19h será lançado e exibido o documentário “Na Trilha dos Geoglifos”, de Marisa Dwir.
■ O painel Proteção do patrimônio arqueológico, no dia 29, terá a mediação de Denise Schaan com a participação de Deyvesson Gusmão, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-AC); Libério Alves de Souza, chefe do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação Cultural Elias Mansour; Meri Cristina Amaral Gonçalves, promotora de Justiça de Meio Ambiente do Ministério Público Estadual e de Paulo Henrique Ferreira Brito, procurador-chefe do Ministério Público Federal.
■ Das 14, às 18h, o painel Turismo arqueológico nos geoglifos, mediado por Alceu Ranzi, reúne Ilmara Rodrigues Lima, secretária de Turismo e Lazer (Setul) do Acre; Jesus Carranza Quiñones, cônsul do Peru no Acre; Gisele Daltrini Felice, pesquisadora da Fundação Museu do Homem Americano/Parque Nacional da Serra da Capivara e da Universidade Federal do Piauí; Cassiano Marques, presidente do Acre Convention & Visitors Bureau e Sócio-Diretor da Agência EME Amazônia Turismo e Raimundo Morais, presidente do Conselho Estadual de Turismo e Sócio-Diretor da Agência Morais Tur.
■ No sábado, dia 30, haverá visita guiada aos geoglifos da BR 317 com o Grupo de Pesquisa Geoglifos da Amazônia. Quem quiser ver de cima o geoglifo Jacó Sá, pode já se inscrever para o voo cativo de balão promovido pela Agência EME Amazônia Turismo ou em sobrevoos nos geoglifos da região com avião da Ortiz Táxi Aéreo. Estão previstos outros eventos paralelos ao Seminário com pesquisas de campo nos sítios arqueológicos por parte dos pesquisadores estrangeiros, alguns chegados antes a Rio Branco para os trabalhos, e a preparação do geoglifo Tequinho para visitação, em Senador Guiomard.
(*) O autor trabalhou no Acre, onde foi correspondente do Jornal do Brasil, entre outras publicações.
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