Quarta-feira, 13 de agosto de 2014 - 07h01
*Ana Karina Dias Salman;
**Alexandre Martins Abdão dos Passos;
***Henrique Nery Cipriani;
****Helaine Sousa
Embrapa Rondônia (CPAFRO)
A pecuária bovina é um dos setores que mais têm contribuído para o crescimento econômico do Brasil nos últimos anos. O Brasil tornou-se em 2003 o maior exportador de carne bovina do mundo e grande parte desse crescimento é decorrente da expansão da pecuária na Amazônia. Nesse cenário, o estado de Rondônia se encontra dentre os cinco maiores exportadores de carne do país, além de ser o maior produtor de leite da região Norte. Essa virtuosa importância econômica, contrasta com problemas ambientais, já que o crescimento da pecuária na Amazônia é associado ao desmatamento e, por essa razão, chama atenção dos mercados internacionais que usam isso para criação de barreiras “econômico-ambientais” contra a exportação da carne produzida na região.
Além do estigma dos impactos ambientais negativos, a pecuária enfrenta o real problema da degradação das pastagens que gera prejuízos econômicos e sociais bilionários para o país, pois a propriedade agrícola torna-se improdutiva e incapaz de sustentar as famílias que dela dependem. Dessa forma, são necessários estudos que identifiquem as limitações do componente pecuário nas propriedades de modo a fornecer soluções tecnológicas apropriadas e subsídios às políticas públicas para o setor. Do mesmo modo, é importante desenvolver uma base científica que suporte o uso mais amplo dos sistemas integrados de produção como alternativa ao sistema tradicional de pecuária baseado no monocultivo de pastagem.
Uma das alternativas é a reforma, recuperaçãoou renovação de pastagens por meio da integração lavoura-pecuária-floresta (iLP) quepode proporcionar uma série de benefícios para os empreendimentos rurais. Temos como exemplo de benefícios: a diversificação na produção da propriedade; redução no custo de formação das pastagens pela recuperação do solo e renda com as culturas anuais; diminuição do risco de perda de renda do produtor, pois sua produtividade aumenta e não fica dependente de somente um produto; maior conservação do solo e, consequentemente, redução de perdas com erosão e menor impacto ambiental; melhor aproveitamento da propriedade rural.
A inclusão do componente arbóreo aos componentes lavoura e pastagem representa avanço inovador da iLP, com evolução para o conceito de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), que é uma estratégia de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação. Pode-se utilizar a iLPF para implantar um sistema agrícola sustentável, com base nos princípios da rotação de culturas e do consórcio entre culturas de grãos, forrageiras e espécies arbóreas, para produzir, na mesma área, grãos, carne ou leite e produtos madeireiros e não madeireiros ao longo de todo ano.
A iLPF é atualmente uma política pública prioritária do governo federal do Brasil (Programa ABC), tida como estratégia governamental, visando à recuperação de áreas degradadas e à sustentabilidade ambiental.
Existem inúmeras variações de sistemas iLPF, porém, a recuperação da pastagem por meio da iLPF normalmente envolve dois estágios:
1) substituição da pastagem por um ou dois ciclos de culturas anuais para recuperação da fertilidade do solo e,
2) a manutenção da nova pastagem em consórcio com árvores (sistema silvipastoril).
Após alguns anos, nova rotação de culturas anuais-pastagem pode ser feita para revitalizar o pasto, buscando a retomada da produtividade da pastagem com consequente resposta em termos de produtividade animal.
Em muitas propriedades rurais amazônicas, a iLPF vem sendo adotada com uso de diversas espécies forrageiras e arbóreas. As principais limitações tecnológicas observadas nesse sistema são: falta de persistência da pastagem sob as árvores; danos às árvores provocados pelos animais; a reduzida velocidade de crescimento das espécies arbóreas; elevado investimento econômico inicial; falta de infraestrutura e mão de obra especializada; complexidade do sistema e desconhecimento dos seus benefícios.
Visando fornecer informações técnicas para técnicos e produtores interessados em explorar os benefícios de espécies arbóreas nativas em sistemas pecuários, a Embrapa Acre em parceria com a Embrapa Rondônia lançou em 2012 o Guia arbopasto: manual de identificação e seleção de espécies arbóreas para sistemas silvipastoris. Neste livro são descritas 51 opções de espécies arbóreas nativas da Amazônia Ocidental. Estas espécies são classificadas e ranqueadas com base na sua aptidão para produção de madeira e fornecimento de serviços múltiplos em sistemas silvipastoris. Sendo portanto, uma ferramenta indispensável para produtores rurais que planejem utilizar espécies nativas em sua pastagem, escolham as espécies arbóreas mais adequadas para esta finalidade.
Além disso, experiências com sistemas de iLPF realizadas pela Embrapa e por parceiros nos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima têm demonstrado a viabilidade técnica e econômica da tecnologia na recuperação e manutenção de pastagens. Um dos principais resultados obtidos pela Embrapa na região refere-se à amortização dos custos destinados à recuperação de pastos degradados pelo uso de lavouras (sistema iLP).
Estes resultados e outros foram apresentados no Workshop Integração Lavoura-Pecuária-Floresta realizado em 2010 pela Embrapa Rondônia. Neste evento também foram apresentados os arranjos de sistemas de iLPF que têm sido trabalhados e pesquisados na Amazônia. Dentre outros, integram, principalmente, os seguintes componentes: agrícola, com milho, soja, arroz e feijão-caupi; forragem, com Urochloa ruziziensis e Urochloa brizantha cv Xaraés e florestal, com mogno-africano (Khaya ivorensis), teca (Tectona grandis), eucalipto (Eucalyptus spp.) e paricá (Schizolobium parahyba var. amazonicum).
A Embrapa investe em pesquisas na busca de modelos de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta para a região amazônica, pois acredita que a tecnologia representa uma evolução do modo como se produz no campo; construindo novos modelos de uso da terra, conjugando a sustentabilidade do agronegócio com a preservação ambiental.
*Ana Karina Dias Salman: Doutora em zootecnia e pesquisadora da Embrapa Rondônia; e-mail: ana.salman@embrapa.br
**Alexandre Martins Abdão dos Passos: Engenheiro agrônomo,doutor em Fitotecnia e pesquisador da Embrapa Rondônia; e-mail: alexandre.abdao@embrapa.br
***Henrique Nery Cipriani: Engenheiro florestal, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas e pesquisador da Embrapa Rondônia; e-mail: henrique.cipriani@embrapa.br
****Helaine de Sousa: Engenheira Florestal, especialista em Gestão Ambiental
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