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Jovens lideranças ribeirinhas da Amazônia criam Rede de Gestores Comunitários

Organização vai funcionar como um coletivo de troca de experiências e conhecimentos para enfrentar os desafios encontrados pela população da região


 Ribeirinhos realizam projetos para melhorias em comunidades da região do Médio Solimões, no estado do Amazonas (Foto: Bernardo Oliveira) - Gente de Opinião
Ribeirinhos realizam projetos para melhorias em comunidades da região do Médio Solimões, no estado do Amazonas (Foto: Bernardo Oliveira)


A região do Médio Solimões, no Amazonas, abriga centenas de comunidades ribeirinhas, presentes também nas diversas unidades de conservação da área. As pessoas que lá moram, além de terem de se adaptar à dinâmica dos rios locais com drásticas variações anuais no nível da água, enfrentam uma série de desafios relacionados ao isolamento geográfico, que limita o acesso a serviços básicos, como estradas que as conectem às cidades, cabeamento elétrico público e estruturas para saneamento básico, telefonia e internet. Todos esses problemas têm uma origem em comum: a falta de políticas públicas nessas localidades.

Para trocar experiências e buscar soluções para essas questões, um grupo de jovens lideranças ribeirinhas criou a Rede de Gestores Comunitários. Os integrantes são alunos e ex-alunos do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) do Instituto Mamirauá. O marco inicial da rede se deu em um encontro que mobilizou membros do CVT de quatro turmas diferentes, nos dias 7 e 8 de agosto, em Tefé, no estado do Amazonas.

Sandro Regatieri, gestor do CVT, revela que a ideia de reunir as turmas em um coletivo que pudesse trocar conhecimentos e soluções é antiga. “Desde que o CVT surgiu, nós percebemos que havia uma grande diversidade geográfica e de conhecimentos e experiências entre eles e acreditamos que essa troca entre os estudantes era uma das potencialidades do centro”.

 

O Centro Vocacional Tecnológico

O CVT do Instituto Mamirauá oferece bolsas de dois anos de estudos para alunos indicados por comunidades ribeirinhas e associações comunitárias da região. Os estudantes passam o primeiro ano em aulas teóricas e práticas em Tefé, onde fica a sede do instituto, e no segundo retornam às respectivas comunidades para implementar um projeto relacionado ao manejo de recursos naturais ou à melhoria da qualidade de vida das pessoas de seu local de origem.

Entre outras atividades, os alunos do CVT têm aulas com os pesquisadores e técnicos do instituto sobre manejo sustentável de recursos naturais, gestão de organizações e a respeito de tecnologias sociais adaptadas para as condições da região que possam sanar problemas como a falta de energia elétrica e água encanada nas comunidades.

“O que o CVT deu para essas pessoas foi informação. Nas oficinas, nos encontros, nas aulas e na participação social dos eventos em que eles estiveram presentes. O CVT abriu horizontes para que elas pudessem olhar além da comunidade delas, do problema delas, dos desafios que só elas tinham. Agora eles sabem que são cidadãos e cidadãs, podem e devem lutar por melhorias na qualidade de vida das comunidades e por uma sociedade melhor”, explica Sandro.

“Hoje eu tenho uma visão muito mais ampla de organização. Eu vejo que nós temos recursos naturais, temos uma biodiversidade muito grande atrás da nossa casa e muitas vezes, por falta de conhecimento, não sabemos utilizá-la de forma organizada e controlada”, acrescenta Adriano Ferreira, ex-aluno do CVT que hoje atua no acordo de pesca Jurupari Grande, no setor Mamirauá da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

O Centro Vocacional Tecnológico do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, conta com o apoio da Fundação Gordon e Betty Moore.

 

A rede 

Ao final de seu primeiro ano como alunos do CVT, integrantes da turma 2017 – 2018 começaram a pensar em como trocar as experiências e ajudar uns aos outros no desenvolvimento de seus projetos. Depois da formatura da turma, um grupo teve a ideia de criar a Rede de Gestores Comunitários, que funcionaria como um coletivo para a troca de conhecimentos.

“A gente quis pensar em uma maneira de poder se comunicar nesse segundo ano. Em uma conversa, pensamos em conhecer, fazer viagens a comunidades de outras pessoas, às associações de outras pessoas”, conta Weigson Pedrosa, ex-aluno do CVT.  “Decidimos criar uma rede. Pensamos no intercâmbio: por exemplo, se a minha associação está começando e a associação da comunidade de um colega está superdesenvolvida, a gente vai lá conhecer a organização, a liderança, e tentar trazer isso para a organização que está no início”.

O primeiro encontro reuniu alunos e ex-alunos de quatro turmas diferentes para organizar e delimitar qual seria o papel da rede e como ela funcionaria. Chegou-se à conclusão de que a rede não deveria ser mais uma associação, mas, ao invés disso, reunir jovens das diversas instituições já existentes para que o conhecimento e a experiência dessas pessoas possam ser trocados e as organizações fortalecidas. Ficou decidido também que a rede não receberia apenas alunos e ex-alunos do CVT, mas abriria as portas a outras pessoas interessadas.

“O que eu vejo é que eles, com essa consciência de espaço, consciência política e cidadã, podem fazer a diferença. Então a rede surge para fazer com que os verdadeiros protagonistas possam influenciar a sociedade”, ressalta Sandro.

Um dos maiores desafios que a Rede de Gestores Comunitários terá de enfrentar é a dificuldade na comunicação entre seus integrantes, devido ao escasso acesso à telefonia celular na região. 

“A realidade deles é o Médio Solimões, com todas as complexidades e desafios. E eles têm a consciência disso e de todos os desafios que eles têm que enfrentar: distância, falta de comunicação, falta de políticas públicas, falta de interatividade. Eles sabem disso porque eles vivem essa realidade no dia a dia”, complementa Sandro. “A rede tem o potencial de melhorar a vida deles e a vida na região, se eles souberem utilizar as ferramentas que têm da maneira correta. ”

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