Domingo, 16 de janeiro de 2011 - 18h22
Agricultores Jones e Edilson Costa levaram o técnico da Emater ao sítio em Acará, terra com fartura de mandiocais /CEDIDA POR F. IKEDA |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
BRASÍLIA – Um pé de mandiocaba (mandioca açucarada) gigante, com quatro raízes pesando 37,3 quilos virou atração no final da semana em Acará, perto de Belém, informa o técnico da Emater-PA, Flávio Ikeda. Entusiasmado, cuidou de transmitir as fotos para Amazônias. Há dois anos Ikeda vem estudando o uso da mandiocaba para fins energéticos. O Baixo Tocantins, no Pará, é o primeiro estado amazônico a adotar a roça sem queima, um projeto criado pelo pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Raimundo Brabo Alves. Pequenos agricultores vêm conseguindo bons resultados com esse método que, entretanto, não se transformou ainda em programa estadual.
Das quatro raízes, uma estava estragada. As demais pesaram 8,5kg, 9,5kg e 10kg. A maior foi utilizada para fazer mingau. A raiz estragada alcançou 9,3kg. A coleta dessas raízes nesse município a 52 quilômetros da capital paraense animou Ikeda a percorrer propriedades vizinhas. Ele quer conhecer a produção para poder auxiliar na construção de banco de multiplicação genética.
Vendo a colheita, ele fez as contas: utilizando-se o espaçamento de 1m x 1m, recomendado para mandioca nessa região, seria possível plantar até 10 mil pés por hectare e uma grande colheita. “Se conseguíssemos fazer a mandiocaba produzir na média do que essa planta produziu, obteríamos 373,3 mil kg/ha. E se o rendimento em álcool fosse o mesmo conseguido no teste feito em abril de 2009 (leia o box) pelo pesquisador da Embrapa Biotecnologia, Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho, seria possível obter 37,33 litros/ha”, calculou o técnico.
Durante a transformação da mandioca em etanol, naquele ano, o pesquisador constatava que do álcool destilado pelas dornas de uma usina social inteligente (USI), 28% era aromático, cotado a R$ 40 o litro.
Ikeda vai auxiliar o Grupo Y. Yamada a cultivar mandiocaba para experimentos |
Foi o suficiente para Ikeda parar de calcular. “É muito para a minha cabeça”, disse. Ele começa esta semana um trabalho em parceria com o Grupo Y. Yamada, que se interessou em plantar essa variedade. O primeiro Y é de Yoichiro, fundador do grupo.
Trezentos hectares disponíveis
Os Yamada dispõem de uma área de trezentos hectares para experimentos agrícolas. Se plantarem mandiocaba, contarão com o apoio da Secretaria de Produção do Estado do Pará, da Emater, da Agência de Defesa Sanitária e da Embrapa.
A Emater convidará o pesquisador Castelo Branco Carvalho para ministrar um treinamento de uma semana com ele. No final da semana passada, Ikeda visitou a propriedade do grupo, uma extensão de cinco mil ha, dos quais quatro mil ha estão preservados, adequando-se à lei que impõe a preservação de 80% da propriedade.
“Isso traz ânimo a todos que vêem na mandioca doce uma ótima opção econômica para a nossa região”, comentou Ikeda. Ele acredita na possibilidade da formação de um campo de multiplicação de material genético, atividade na qual pretende se dedicar intensivamente.
O exemplar gigante, antes de ser arrancado do solo do sítio em Acará /F. IKEDA |
O técnico levou para casa o exemplar gigante de mandiocaba e pretende multiplicá-lo. Conversou com Taizó Yamada, o presidente do Instituto Milton Yamada, a respeito da possibilidade de a entidade custear o treinamento a ser ministrado pelo pesquisador da Embrapa, que retornará esta semana de uma viagem à China.
Para biopolímeros
Além do cientista Castelo Branco Carvalho, há outras pessoas interessadas na mandiocaba. O estudante da Universidade Federal do Pará, Diego Aires, que atualmente faz mestrado sob a orientação do professor Rosinelson da Silva Pena, da Faculdade de Engenharia de Alimentos, é uma delas.
Aires estuda a mandiocaba como fornecedora de biopolímeros para produção de plástico biodegradável. Biopolímero é a macromolécula característica de seres vivos e de estrutura polimérica, como, por exemplo, as proteínas e os ácidos nucléicos.
Ele vem trabalhando com exemplares de mandiocaba colhida por Ikeda em Abaetetuba. Sua pesquisa deverá ser concluída este ano.
Rio Acará, via de acesso para escoar o etanol de mandioca. Em meia hora o produto chegaria a Belém /F. IKEDA |
Variedade é adocicada, mas pouco encontrada
BRASÍLIA – Acará é o principal produtor brasileiro de mandioca. Suas 600 mil toneladas (dados do IBGE) colhidas anualmente correspondem a 2,3% da produção nacional. É nesse município que pesquisadores vêm localizando lavouras de mandiocaba, uma das variedades transformadas em álcool etanol há quase dois anos em Planaltina (DF).
Mandiocaba, a raríssima mandioca doce da Amazônia, transformou-se em álcool etanol, coroando uma série de experiências feitas pela Embrapa Biotecnologia. O álcool é feito de glicose e não de sacarose e, no uso da mandiocaba, o açúcar já é glicose, lembrava o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho. “Na mandioca não existe nenhum composto que iniba o processo biológico de fermentação alcoólica. Dependendo da região, a obtenção do álcool a partir dela poderá ser mais barata inclusive do que pela cana-de-açúcar”, ele estima.
Um carregamento de 250 quilos de massa desintegrada dessa variedade rendeu 25 litros de etanol (C2H5OH). Na ocasião, observado por cientistas chineses, os quais está agora visitando para o cumprimento de um intercâmbio, Castelo Branco Carvalho anunciou que, além do açúcar utilizado naturalmente na fabricação do etanol, apareceram no produto outros açúcares que não entram na fermentação.
A experiência da Embrapa foi feita em 72 horas, com a utilização de duas dornas de uma microdestilaria USI (Usinas Sociais Inteligentes). O cientista considerou razoável o resultado. “Sem a necessidade da hidrólise, a massa fermentou por um período de aproximadamente dez horas, entrou em destilação e saiu ‘no ponto’. Obtivemos um álcool de 96 GL”, ele explicava. GL é a sigla de Gay Jussac e Cartier, criadores do densímetro para álcool. (M.C.)
Diego Aires, estudioso da variedade, concluirá pesquisa que poderá indicar a mandiocaba para a fabricação de biopolímeros /F. IKEDA |
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