Sexta-feira, 8 de novembro de 2019 - 13h40
Açaí e cupuaçu viraram
matéria prima de sofisticados cosméticos e caros produtos alimentícios no
exterior. Antes de 2017, entretanto, essas e outras frutas regionais da
Amazônia chegavam a estragar na Boa Esperança, comunidade ribeirinha localizada
no estado do Amazonas, na região do Médio Solimões, Amazônia Central, e lar de
mais 80 famílias que sobrevivem da agricultura.
Com sistema de
energia solar, uma unidade de beneficiamento foi instalada na comunidade em
2017 e os ribeirinhos passaram a processar e armazenar as polpas de frutas
cultivadas em abundância na área. Localizada na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Amanã, distante 3 a 4 horas de Tefé, centro urbano da região, a
comunidade hoje enfrenta outro problema: conseguir vender as polpas congeladas
que enchem os freezers.
Foi pensando nisso
que a jovem de 19 anos Geice Monhões desenvolveu projeto com um plano de ação
para melhorar o escoamento da produção e garantir, assim, uma fonte de renda
viável aos agricultores como seu pai, Jesuy Monhões, um dos idealizadores da
Casa de Polpa de Frutas.
Geice é estudante
do Centro Vocacional
Tecnológico (CVT) do Instituto Mamirauá,
organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC).
A jovem está
finalizando o primeiro ano do programa, que é dividido em duas etapas. Na primeira,
os estudantes frequentam aulas na sede do Instituto Mamirauá, no município de
Tefé, enquanto desenvolvem, sob orientação de técnicos e pesquisadores da
organização, um projeto que visa suprir alguma demanda de suas respectivas
comunidades e associações; na segunda, voltam aos seus locais de origem para
aplicar um plano de ação.
O CVT tem
financiamento da Fundação Moore e da BrazilFoundation.
Boa gestão para melhorias nas vendas
Em atividade
realizada em julho, Geice diagnosticou as deficiências que os produtores enfrentam.
As principais
problemáticas levantadas pelos agricultores participantes foram conhecimento
das regras, organização financeira e das atividades da unidade de
beneficiamento.
Baseado nos resultados, o
plano de ação de Geice foi construído com atividades destinadas à organização
do cronograma de trabalho, do setor financeiro e das fichas de entrada e saída
do produto.
A maior parte das
ações devem ser implementadas em 2020, quando a jovem volta para a sua
comunidade, mas ainda neste ano Geice vai realizar o mapeamento de mercado para
identificar possíveis compradores.
“Eles estão com
dificuldade de comercializar porque a raiz do problema está na gestão. A Geice
vai ajudar em ações de gestão que os agricultores, muito ligados à produção,
não tem tempo para ver”, afirma Tabatha Benitz, analista de Inovação e Pesquisa
do Instituto Mamirauá e orientadora do projeto.
A especialista
afirma que a Casa de Polpa já conta com ferramentas de gestão importantes, como
as fichas de controle de produção e um Regimento Interno estabelecido. Por isso, o trabalho da jovem será voltado a
garantir a adequada aplicação e funcionamento desses mecanismos.
Geice também irá acompanhar
e aconselhar os agricultores com funções específicas dentro da associação e
verificar regularizações da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), documento
que habilita o agricultor familiar a participar de vendas públicas. O Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é um programa de
financiamento do Governo Federal que beneficia produtores rurais.
Atualmente, a
legislação federal determina que no mínimo 30% do valor repassado a estados,
municípios e Distrito Federal pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) seja
destinado a compra de alimentos da agricultura familiar. Por isso, a
importância da adequação dos agricultores aos requisitos para participar de
editais públicos.
Nesse sentido, o
plano de ação da estudante também prevê uma minioficina de prestação de contas.
“Com essa
estrutura, o escoamento vai melhorar porque muitos dos problemas na venda é por
falhas em alguns desses processos”, ressalta Tabatha, que destacou a
proatividade e dedicação da jovem. “É muito inteligente e ativa e o projeto é
uma troca de conhecimentos, também aprendo muito com ela. ”
CVT: transformando a vida da e na Amazônia
Como Geice, outros
cerca de 30 jovens de comunidades ribeirinhas da região também desenvolvem
projetos que visam a melhoria da qualidade de vida e manejo de recursos
naturais.
Os participantes
são indicados pelas próprias comunidades e associações para participar do
programa do Instituto Mamirauá, que oferece uma bolsa para estadia dos jovens
durante o primeiro ano do programa, em Tefé.
Apesar de classificar
como valiosa a experiência de ensino no CVT, Geice não trocaria a comunidade
pelo ambiente urbano. “Eu participo de todos os eventos que têm quando eu estou
lá na comunidade. Porque tudo que vem de lá eu quero adquirir para poder passar
para outras pessoas, principalmente, para os meus filhos e netos para que eles
possam seguir essa vida também. É uma vida tranquila e calma naquele ambiente
da natureza”, afirma.
Para ajudar mais
jovens a transformarem a vida em suas comunidades no interior da Amazônia, o
Instituto Mamirauá, em parceria com a empresa MOKO, lançou
a coleção de camisetas ‘Sonhos Amazônicos’. O
valor das peças será revertido ao programa. Para comprar, acesse moko.com.br/sonhosamazonicos.
Casa de Polpa de Frutas
A Casa de Polpa de
Frutas da comunidade Boa Esperança opera com um sistema de energia solar que
mantém em funcionamento freezers e máquinas despolpadeiras. A unidade contou
com a assessoria técnica do Programa de Manejo
de Agroecossistemas e do Programa Qualidade de Vida do Instituto Mamirauá e recursos do Fundo Amazônia.
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