Sexta-feira, 14 de janeiro de 2011 - 18h03
Rede de negócios de Max Dorado deve motivar DPF e Justiça Federal a reabrir processos para fundamentar confisco de bens do traficante na fronteira Brasil-Bolívia /AMEJEANS |
XICO NERY
Amazônias
GUAJARÁ-MIRIM – A captura e extradição de Maximiliano Dorado Munhoz Filho, o Max, para o Brasil, não significa o fim da rede de narcotraficantes em atividades na fronteira. É apenas um passo a mais nessa direção. O Vale do Guaporé continua sendo o epicentro da ação do cartel da droga, principalmente nas cidades de Pimenta do Oeste, Costa Marques e Guajará-Mirim.
Preso em Santa Cruz da La Sierra numa ação coordenada pelo Departamento de Polícia Federal brasileira, em conjunto com a Fuerza Especial de Lucta Contra El Narcotrafico, Max mora atualmente numa cela especial do Presídio Federal de Porto Velho, a 362 quilômetros de Guajará-Mirim, sua cidade natal, onde há 20 anos ele era um simples vendedor de pães nas ruas. Ia de casa em casa, com um tabuleiro na cabeça.
Diferentemente dos irmãos, Maria Lili Dorado Munhoz, mulher de Edicleiton Crispim de Oliveira, o Tom, e Eidy Azougue Dorado Munhoz, Max agora terá que responder por vários crimes, entre os quais, o assassinato do agente penitenciário Salomão Gabriel da Costa, em 1999. A ele também é atribuída uma suposta participação na morte do agente federal Roberto Simões de Mentzenge.
Interrogatórios
Uma autoridade do 6º Batalhão de Infantaria de Selva (6º BIS) acredita que o traficante seja ligado a traficantes cariocas e paulistas, respectivamente, do Comando Vermelho, da Associação dos Amigos e do Primeiro Comando da Capital, para os quais seguiriam mais de 90% da cocaína e das armas que cruzam a fronteira há mais de uma década.
Amazônias apurou esta semana que Max será submetido a interrogatórios, nos quais a PF espera que ele indique o paradeiro de Celso Schmidt, o Celso Gaúcho, outro brasileiro foragido. O amigo foi gestor de uma das propriedades de Max, em Pimenteiras do Oeste.
Enquanto o comércio embarca produtos legalmente para a Bolívia, na zona portuária de Guajará-Mirim, negócios mafiosos prosperam via aérea /MONTEZUMA CRUZ |
Favores, de Guajará-Mirim a Brasília
A rede de negócios de Max na região fronteiriça seria muito consistente. Para ele trabalhariam contadores, empresários, políticos e até religiosos. Nos corredores da polícia costumam dizer que “o dedo dele abençoa de líderes extrativistas, indígenas, vereadores, prefeitos, deputados, ex-senadores, ex-governadores, a bancas de conhecidos advogados da Amazônia Brasileira e de Brasília.
No dia da prisão, em dezembro de 2010, um dos advogados de Max cancelava uma viagem para fora do País. Seguiu às pressas para Porto Velho, a fim de evitar a tempo a suposta transferência do cliente para o presídio federal. Na Justiça Estadual, Max teria mais chances de ser solto por meio de habeas corpus.
Na capital rondoniense já havia um mandado internacional de prisão contra o seu cliente, com o aval dos Estados Unidos. A ordem era para caçá-lo em toda a América do Sul, especialmente nas províncias bolivianas de San Ignácio de Velasco, Cochabamba, Santa Cruz de La Sierra, onde finalmente seria preso.
Negócios diversificados
Em Guajará-Mirim e Nova Mamoré, Max tem ligações estreitas com alguns empresários dos ramos de combustíveis, lava-jatos, supermercados, agropecuária, locadoras de automóveis, casas noturnas e rede de imóveis. Colabora com igrejas evangélicas.
Há quatro anos, uma cirurgia plástica em Maria Lili inauguraria o “conforto” de uma cela do novo presídio federal na região. À época, Max esteve várias vezes em Guajará-Mirim, onde se reuniu na Fazenda Santana com amigos, familiares e laranjas. Foi lá que o delegado da PF, Mauro Spósito, implodiu uma das duas pistas clandestinas de pouso e decolagem, durante a Operação Bravo, em ação conjunta com o Exército Brasileiro.
Contra o traficante existem denúncias de “desovas” aéreas de drogas e armas em fazendas situadas na fronteira, principalmente em São Francisco e São Miguel do Guaporé. Para tanto, ele contaria com o apoio de conhecidos políticos, madeireiros e fazendeiros da região.
Há um ano, o delegado civil aposentado João Pomba comentava com o repórter que o cartel usa o método dos vôos repentinos e em datas de festas políticas, cívicas e sociais, a exemplo de exposições agropecuárias.
Entre os pequenos negócios a serem confirmados pelas novas investigações para efeito de confisco de bens, estariam uma rede de apartamentos e de fazendas ao longo das rodovias BR-425 e 364, tudo em nome de laranjas.
No campo político, passariam, ainda, pelas mãos de Max decisões em supostas fraudes em licitações de câmaras e prefeituras municipais no lado brasileiro. Parentes dele venderiam produtos abaixo do preço de fábrica. Em 2009 Lili esteve presa por conta de negócios irregulares.
Ao que consta, atualmente a empresa de Lili e Edicleiton vende com preços diferenciados para a prefeitura, depois de vencer, em concorrência pública, o Grupo Marinho, MS Alimentos e Potosi Ltda, considerados os mais sólidas da região fronteiriça.
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