Sexta-feira, 24 de dezembro de 2010 - 14h02
O traçado da ferrovia para Mato Grosso inclui Uruaçu (GO), passando por Cocalinho, Água Boa, Lucas do Rio Verde, Campo Novo dos Parecis, até Vilhena (RO) /MTRANSP |
GABRIEL NOVIS NEVES
Não faz muito tempo um deputado do Nortão mato-grossense apresentou na Assembléia Legislativa um projeto de lei propondo nova divisão do nosso Estado. Com o poder na palma da mão a partir de 2003, o Nortão começou a ser agraciado com muitas obras. Também pudera! Os cuiabanos cederam o poder a um grande empreendedor e trabalhador de lá. Assim falavam os plantonistas do poder.
Não se comentou mais sobre a tal divisão do Estado. Antes das eleições deste ano, o deputado autor do projeto veio a público dizer que, com o governo implantado em 2003, todo o Nortão estava com suas reivindicações atendidas. A divisão agora seria uma grande bobagem. Era jogar dinheiro fora construir uma cidade burocrática.
Com o desenvolvimento do Nortão assegurado, retorna a idéia ameaçadora da nova divisão do Estado. Alguns sintomas começam a surgir. O exemplo mais preocupante diz respeito à chegada do trem do Vuolo a Cuiabá. A informação oficial é que aquele traçado é antigo e não atende mais ao Mato Grosso moderno pós-2003.
Ninguém defende o traçado original
A realidade econômica é outra, dizem. O seu ponto final, no novo traçado da ferrovia, será no estacionamento de uma grande firma exportadora em Rondonópolis.
Mapa das ferrovias fornecido pelo DNIT: o traçado da Ferrovia Centro Oeste, pontilhado em vermelho, pode ser alterado /MTRANSP |
Agora, o que me assusta e me deixa perplexo: não escutei nenhuma voz se elevar em favor da manutenção do traçado original da ferrovia. Cuiabá simplesmente se cala. Assiste, complacentemente, o sonho do senador do Coxipó ser desfeito. Incompreensível o silêncio reinante. Como incompreensíveis também, para mim, são uma série de atos e atitudes que vêm acontecendo na terra de Dom Aquino Corrêa.
Mas, voltando ao trem. Foi divulgado o novo traçado da Ferrovia Centro-Oeste: passa pela região Norte de Mato Grosso.
O traçado é de Uruaçu (GO), passando por Cocalinho, Água Boa, Lucas do Rio Verde, Campo Novo do Parecis (MT), seguindo até Vilhena (RO). De Uruaçu termina em Tocantins. Daí pega a Ferrovia Norte-Sul até o Porto de Itaqui, no Maranhão, ganhando o Atlântico pelo norte do Brasil, rumo à Europa e à Ásia, via Canal do Panamá.
A região que irá ser cortada pela ferrovia é riquíssima em produção agrícola, com as qualidades exigidas tanto pelo mercado europeu, que paga mais, porém não importa grãos transgênicos, quanto pelo asiático, que engole qualquer coisa. Pura sorte dos empresários que escolheram o chapadão, e não caíram na tentação da produtividade científica - tão do desagrado daqueles mercados seletivos.
A região também é rica em minérios. Tanto é assim que megainvestidores estão se preparando para sua exploração e exportação. A linha da ferrovia da produção seria o limite de Mato Grosso com o novo Estado.
O fato é que aonde chega a ferrovia em Mato Grosso, nasce um novo Estado. Foi assim com Rondônia e Mato Grosso do Sul.
Com esse novo projeto, o Porto de Santarém, no Pará, perde a sua importância como pólo exportador das nossas riquezas agrícolas e minerais. Dificilmente o asfalto da rodovia federal BR-163 chegará ao Porto de Santarém, que não receberá recursos para a sua adequação e modernização.
Segundo fontes fidedignas, está tudo planejado e pago. A ordem de serviço virá logo, para executar no menor prazo de tempo o projeto da divisão, digo, do traçado da nova ferrovia.
O ministro dos Transportes, em visita recente a Cuiabá, garantiu a estrada até Rondonópolis. Depois uma comissão fará um estudo de viabilidade técnica- econômica, para saber se a ferrovia deve prosseguir até a capital eterna de Mato Grosso!
Trocando em miúdos – ela não virá!
Aguardemos, pois está tudo pronto.
O autor é colaborador de Amazônias e do Supersitegood. Foi o primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso.
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