Sábado, 23 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Amazônias - Gente de Opinião
Amazônias

Nota do IPAM sobre decreto de moratória do fogo na Amazônia


Arte: Internet - Gente de Opinião
Arte: Internet

O decreto 10.424, de 15 de julho de 2020, publicado no Diário Oficial da União, proíbe o uso de fogo na Amazônia e no Pantanal nos próximos 120 dias. Tal como aconteceu no ano passado, ele visa a reduzir o impacto do fogo nesses dois biomas durante a estação mais seca nesses biomas.

Em 2019, após o fogo atingir índices bastante elevados na Amazônia em comparação com anos anteriores, e sua fumaça chegar a outras regiões, o governo federal publicou um decreto semelhante, em agosto. Concomitante a ações de comando e controle, a ação ajudou a controlar os focos de calor nos meses seguintes, revertendo a tendência de crescimento esperada para os meses de setembro e outubro.

Em 2020, o governo federal editou o decreto antes de a situação piorar, e esperamos o resultado seja positivo. Isso é especialmente importante quando lembrando que mais fumaça no ar significa mais problemas respiratórios para a população nessas regiões, que podem se sobrepor à crise de saúde pública já existente devido à pandemia de covid-19.

Contudo, para que no futuro – esperamos que próximo – decretos do tipo não sejam mais necessários e o fogo seja parte do passado, é necessário colocar esforços e recursos também em questões estruturantes.

Primeiro, é preciso investir em tecnologias que substituam o fogo como prática agropecuária. Se ele ainda hoje é usado no Brasil para controlar pragas, renovar pastagens e como incremento nutricional imediato ao solo é porque técnicas mais modernas e sustentáveis não chegaram aos produtores. Popularizar essas tecnologias permitem resultado mais eficiente no controle de pragas e manejo de pastagens, e mantém o solo saudável por mais tempo.

Segundo, fortalecer os governos estaduais para fiscalizarem o uso correto do fogo em seus territórios e para o monitoramento das licenças concedidas permite acompanhar as atividades legalmente realizadas e evita que as autorizações sejam usadas erroneamente para queimar (ou desmatar) outras áreas.

Terceiro, é preciso acabar com o desmatamento. Quando um terreno é limpo, ou seja, suas árvores são derrubadas para dar espaço a outro uso, o fogo extingue resquícios da vegetação desmatada e seca, e as cinzas são usadas para alimentar esse solo, que no caso da Amazônia é pobre em nutrientes, para dar espaço às pastagens. Como a própria ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse recentemente, e como mostram diversos estudos científicos, o Brasil tem terras abertas mais do que suficientes para atingir todas as metas de crescimento do setor agropecuário até meados do século.

Por fim, lembramos que a floresta amazônica, ao contrário das florestas da Austrália e da Califórnia, não pega fogo naturalmente, e nem evoluiu para isso. Com o agravamento das mudanças climáticas, a vegetação fica mais suscetível a qualquer fagulha virar incêndio florestal – além da queima ainda produzir mais gases do efeito estufa, que por sua vez levam a mais mudanças climáticas, num ciclo perverso. O fogo, seja para limpeza de terreno pós-desmatamento ou como ferramenta agrícola, deve ser progressivamente abandonado e substituído por métodos mais alinhados com os desafios do século 21.

Gente de OpiniãoSábado, 23 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, a partir das 9h, começa o 2º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha, com mais de 80 seringueiros

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia chega aos Diálogos Amazônicos, da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), nos dias 4 a 6 agosto, com sua terce

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

A 'Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia' reunirá, na cidade de Belém, no Pará, entre os dias 4 e 8 de agosto, representações regionais e naci

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

A Cúpula da Amazônia acontece nos próximos dias 8 e 9 de agosto, pela primeira vez, em Belém do Pará. O encontro é um marco das relações entre o Bra

Gente de Opinião Sábado, 23 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)