Sábado, 15 de maio de 2010 - 09h35
AMAZÔNIAS
Carlos Sperança
O Brasil é um dos países gigantes em extensão territorial. Apenas Rússia, Canadá, China e EUA apresentam territórios maiores. Não é incomum que por aqui haja muita coisa também grande além do território. É um dos maiores mercados internos do planeta, e isso tem sido uma âncora para resistir à crise. Mas também é um dos maiores em desigualdades sociais, entraves burocráticos, carga tributária e mortalidade infanto-juvenil.
Já tivemos o maior estádio do mundo (Maracanã), a maior hidrelétrica do mundo (Itaipu) e muitos ainda acreditam que o nosso é o melhor futebol do mundo. Até recentemente, tínhamos o justificado orgulho de contar com o Aquífero Guarani, o maior ou um dos maiores do mundo, dependendo do critério de avaliação, pois esse negócio de medir volume de água é tarefa complexa e demorada. E sequer tínhamos certeza dessa imensidão quando se anuncia que o Aquífero Amazônia (a reserva Alter do Chão) pode conter cerca de 86 mil quilômetros de água potável, com chances também de vir a ser considerado o maior do mundo.
Se, porém, serão necessários vários meses de estudos até chegar a uma definição mais precisa do volume de água oferecido pelo Aquífero Amazônia, para estímulo e orgulho ao caráter nacional, já está comprovado que o Brasil é, vergonhosamente, o maior do mundo em consumo de agrotóxicos.
Na última safra, o País consumiu ao redor de 700 milhões de litros de veneno, aplicados em 50 milhões de hectares, equivalente a 14 litros por hectares, que, desgraçadamente, vem a ser também a maior média do mundo. A soja respondeu praticamente pela metade dessa fantástica litragem.
Isto significa que as regiões produtoras de soja são aquelas que mais sofrerão com suas consequências, uma vez que os agrotóxicos são produzidos a partir de petróleo e de químicos não degradáveis. Depois de aplicados, eles permanecem na natureza, matando a biodiversidade representada pela variedade de vida vegetal e animal.
Além de afetar a fertilidade natural do solo (ao acabar com bactérias e nutrientes naturais), contaminam o lençol freático e a qualidade das águas da chuva: os venenos secantes evaporam para a atmosfera e depois regressam com a chuva. Afetam também a qualidade dos alimentos, que quando ingeridos sistematicamente podem causar destruição das células e resultar em câncer.
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