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Amazônia necessita de políticas públicas e da força de vontade dos profissionais envolvidos não apenas para crianças. No Alto Juruá, por exemplo, adultos estão sem professores. Aqui, eles se reúnem na escuridão, para receber o certificado de conclusão do curso promovido pelo Sescoop /MONTEZUMA CRUZ
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EFRAIM NETO
Mercado Ético
SÃO PAULO — As questões ambientais não devem ser as únicas preocupações da maior floresta tropical do mundo. Não conhecer a sua população e a educação aplicada da região evita a constituição de políticas públicas condizentes com a sua realidade.
A Amazônia é conhecida pela sua exuberante diversidade biológica, por sua posição e importância estratégica, entretanto pouco se conhece sobre as suas questões sociais, em especial sobre a sua educação. Na região que possui a população mais jovem do País, cerca de nove milhões são crianças e adolescentes até 17 anos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2007, a educação é um elemento base para a mudança social, mas na região ela enfrenta dificuldades.
No cenário de diversas riquezas naturais e diversidade cultural, emerge a questão educacional e os problemas que circunscrevem a sua existência. Além do analfabetismo, a Amazônia enfrenta diversas questões no que se refere à educação, tais como: acesso à escola, comunicação, trabalho infantil, planejamento escolar e fiscalização.
A consonância de todos estes fatores contribui para que 160 mil crianças e jovens entre sete e 14 anos estejam fora da escola, como aponta o relatório Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009 — Direito de Aprender, publicado pela Unicef, em 2009.
Transporte, professor e material didático
Os problemas mais comuns perpassam pelas questões da gestão educacional, o insuficiente transporte escolar, a baixa qualidade da formação dos professores e a carência de estrutura física e de material didático, entre outros. Segundo o coordenador da educação rural no município de Breves, no Pará, Carlos Alberto Brasil, é muito difícil administrar as escolas que estão nos lugares distantes do centro municipal. “Por mais que se criem mecanismos sempre será deficiente, pois não há como realizar um controle e nem uma fiscalização eficaz da educação na região”, diz.
Para a professora Ane Marcele Paz Campos, coordenadora de educação do distrito do Curumú, no município de Breves, no Pará, a questão da comunicação é um fator que contribui para a falta de planejamento da educação. “Muitas informações chegam à cidade pela própria população. Por não ter telefone e nem rádio na escola fica difícil saber o que se passa”, aponta.
As dificuldades para se ministrar aulas multisseriadas e os obstáculos de trabalhar dois currículos na mesma sala são apontadas pela professora com um agravante para que não se dê a atenção necessária às crianças, o que impossibilita o cumprimento das 800 horas do ano letivo, como determina a lei. Acrescido a essa questão, é importante ressaltar também que muitas escolas não têm diretores e a função de planejamento do ano fica sob a responsabilidade de pessoas que estão nos centro urbano e não conhecem a realidade das pequenas comunidades.
Para suprir todas essas questões, a Amazônia necessita de políticas públicas para a educação e da força de vontade dos profissionais envolvidos com essa área. Para Lino dos Santos, coordenador administrativo da Escola Gomes Neto, em Gurupá, no Pará, o grande desafio é “consolidar ações que busquem melhorar a educação do município e do país, contribuindo para que a comunidade local possa ter uma melhor formação e uma melhor qualidade de vida”.
O autor é jornalista, membro do conselho consultivo da Campanha Global de Ações pelo Clima-Brasil/TicTacTicTac (GCCA). É um dos atuais moderadores da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA).
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