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Paraguassu, uma estrela que desceu na Amazônia


Paraguassu, uma estrela que desceu na Amazônia - Gente de Opinião

Paraguassu ensinando a amar a natureza. Os amigos Lito Casara e Luiz Leite e as crianças escutam o  filósofo e historiador, uma estrela q desceu na Amazônia.
 


LUIZ LEITE DE OLIVEIRA
 

Não quero mais prantear Raimundo Paraguassu de Oliveira. Prefiro lembrar o homem cujo moral, caráter e profissionalismo sempre o elevaram perante a sociedade de Porto Velho e de Rondônia.

Perdemos o homem, mas conservamos o exemplo por ele deixado. Assim tem que ser.

Paraguassu foi um dos nossos maiores artistas, digno de ocupar a grande constelação de estrelas que orbitaram entre nós para retornarem aos seus lugares no céu.

Caboclo autodidata, ele conseguiu na simplicidade ser clássico, multifacetado. Teve alta guarnição, pois trabalhava sob a inspiração e orientação de mestres da estirpe de Ângelo Cerri e José Otino de Freitas. Quem de nós, nativos, não os consultou e bebeu na fonte maravilhosa de seus conhecimentos?

Paraguassu foi um deles, na Porto Velho antiga, calma e romântica. Atuava bem antes de as cidades interioranas nascerem e crescerem ao longo da BR-364 e mata adentro.
Esse nobre artista viveu e se encantou com esta Rondônia que teima esquecer seus ícones, a exemplo de tantos outros que deram tudo de si, sem saber que suas belas histórias seriam sepultadas no baú do tempo.

Artista plástico genial, Paraguassu usava e dominava a técnica e o traço perfeitos, inovadores. Seu trabalho despertava gente simples e intelectuais dispostos a mergulhar no cotidiano amazônico. Os novatos na praça tinham que ouvir antes a recomendação dele, muitas vezes transformadas em conselhos de pai ou irmão.

Inicialmente, suas primeiras pinturas, datadas de 1954, eram frutos de pigmentações retiradas diretamente das plantas amazônicas. Nos anos 1950 e 1960 ele incursionava também na arquitetura e na ecologia, muito tempo antes de a conservação ambiental ocupar a ordem do dia em diversas instâncias, principalmente as do poder público.

Cientista honrado e, antes de tudo, um verdadeiro amazônico, Paraguassu já faz falta. Mas, como já disse, a estrela retorna ao seu lugar.

Linda, admirável, a sua postura como grande ser humano a deixar marcas e contribuir para a saúde de nossas almas. Anjo rebelde, nunca aceitava o conformismo à sua volta. O predestinado a ser pensador deixou o palco da vida e a todos a preciosa lição: tudo o que lhe pertencia era também de todos.

Imagino um lugar onde estejam juntos e debatendo os bons tempos rondonienses: o Comendador Antônio Leite, o Professor Luciano de Lucas, e o artista Paraguassu. Todos loucos geniais, que, em vida, amargaram a dor de não conseguirem o reconhecimento – o que parece ser o destino de homens inteligentes que nascem ou vivem aqui.

Luciano, um paulista com alma amazônica, artista da madeira, colaborador da Universidade Federal de Rondônia em seus primeiros dias, costumava ironizar nossas conversas, dizendo: “Rondônia é a terra sem limites, onde tudo se admite”.

São rondonienses inesquecíveis para mim e, felizmente, para muitas pessoas.

Esteja em paz, Paraguassu, e nas próximas reuniões de vocês, conversem a respeito de tudo e de todos, liberando a voz que não é a do discurso vazio, mas aquela que, na lida, nos encantos e desencantos da vida, obedece ao equilíbrio entre a força da mente e a do coração.

 

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