Segunda-feira, 26 de agosto de 2019 - 16h19
Realizar partos é
um conhecimento milenar transmitido de geração em geração pelos povos
amazônicos. Com o objetivo de identificar os usos e espécies de plantas
utilizadas pelas parteiras tradicionais da Amazônia, uma pesquisadora do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do Instituto
Mamirauá realizou um levantamento junto a parteiras da região do Médio
Solimões, no estado do Amazonas.
Para o trabalho,
foram realizadas entrevistas com 31 parteiras participantes do 12º Encontro das
Parteiras Tradicionais, evento organizado pela Associação de Parteiras
Tradicionais do Estado do Amazonas Algodão Roxo na cidade de Tefé, onde está
sediado o Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
O encontro contou
com a participação de mulheres dos municípios de Tefé, Maraã, Uarini, Alvarães
e Japurá. Além disso, a pesquisadora também realizou visitas às comunidades
Bugaio e São Francisco.
"Uma das
metas da pesquisa foi proporcionar mais reconhecimento e valorização do
trabalho das parteiras tradicionais. A associação das parteiras foi uma grande
conquista para elas e com esse estudo foi possível acompanhar e identificar os
conhecimentos tradicionais das parteiras na questão dos cuidados com as
parturientes com uso de plantas ", explica a autora do trabalho e
estudante de biologia da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Maria Cecília
Rodrigues.
As plantas
medicinais, defende a pesquisadora, tem reconhecida importância na qualidade de
vida de grande parte da população mundial e o seu uso também tem sido
estimulado por instituições promotoras de cuidados à saúde mundiais e
nacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da
Saúde.
Resultados
Foram
identificadas 53 espécies de plantas, que foram descritas como denominadas
pelas parteiras. As mais utilizadas são: alfavaca, cibalena, chá preto, capim
santo, erva cidreira, algodão roxo, mutuquinha, pobre velho, cuminho, boldo,
quebra pedra, mulata catinga, hortelãzinho, crajirú, chicória, coentro, cipó
tuíra, cravo de defunto ou de anjo, ajuricam, vassourinha, sucubinha, sara
tudo, algodão branco, urupê, pimenta do reino, alfazema, mamona, aeda, arruda,
mucuracaá, pluma, gergelim, amor crescido, azeitona, açaí, mangarataia,
copaíba, jatobá, pracanaúba, urtiga, carrapateira, mamão, mastruz, taperebá,
abil, caju, acapurana, abacate, andiroba, sena, jambu, manjericão e malvarisco.
Os métodos mais
comuns de uso das plantas são chás feitos por meio de fervura e infusão de
folhas, mas também se utiliza cascas e sementes o sumo ou a planta crua.
As utilizações
visam tratar e amenizar problemas e sintomas variados e comuns na gestação,
parto e pós-parto, como inflamação no útero, hemorragia, infecções, hepatite,
dores, contração e dilatação.
Além de remédios
para diversas enfermidades, as plantas e seus compostos têm sido utilizadas há
séculos pelas populações tradicionais como de grande importância em rituais e
práticas espirituais e religiosos.
“O conhecimento da
parteira tradicional refere-se a posturas, posições, óleos, toques, massagens,
ervas para chás, banhos, simpatias, rezas e cantos”, define o trabalho
intitulado “Uso das Plantas Medicinais pelas Parteiras Tradicionais do Médio
Solimões”.
Os partos
tradicionais também se tornaram são referências em técnicas cada vez mais
reconhecidas pela ciência – com utilização de métodos não invasivos e de parto
humanizado.
Algodão roxo
A associação das
parteiras foi batizada inspirada no algodão roxo, planta cujo uso foi
identificado em 77% das parteiras entrevistas no trabalho.
As folhas do
algodão roxo são consideradas diuréticas e digestivas e as parteiras recomendam
o uso para hemorragias e inflamações em geral. Também serve para ajudar na
produção de leite materno. Geralmente, é ingerido o seu sumo.
Conhecimentos ribeirinho e indígena aliados a cuidados médicos
Uma das questões
investigadas pela pesquisa também foram as diferenças nos usos e espécies por
parte de parteiras indígenas e parteiras ribeirinhas.
“Foram abordados os dois tipos de saberes, das
parteiras indígenas e das parteiras ribeirinhas, para investigar se havia
grandes discrepâncias entre as espécies e usos pelos dois. A pesquisa mostrou,
entretanto, que o número de similaridades é grande”, afirma a orientadora do
projeto, Marília Sousa. A coorientação do trabalho foi da pesquisadora líder do
Grupo de Pesquisa em Territorialidades e Governança Socioambiental na Amazônia,
Ana Claudeíse Nascimento.
Por fim,
concluiu-se que por estarem presentes em diversas comunidades do interior, o
trabalho das parteiras tem papel fundamental na saúde básica com atendimento às
parturientes e aos bebês em localidades distantes dos grandes centros urbanos.
A pesquisa também
atestou que as parteiras recomendam que as gestantes façam consultas rotineiras
ao médico, ou seja, o pré-natal, como forma de garantir a saúde dela e do bebê.
“Com esta recomendação, nota-se o diálogo entre conhecimento tradicional e
conhecimento biomédico e/ou medicina convencional”.
O trabalho de
iniciação científica foi apresentado no 16º Simpósio sobre Conservação e Manejo
Participativo na Amazônia (Simcon), em Tefé, e no ‘Seminário Internacional de
Ecologia Política: Justiça Socioambiental e Alimentar na Tríplice Fronteira
Amazônica’, em Tabatinga.
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