Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Amazônias - Gente de Opinião
Amazônias

Plano de controle do desmatamento na Amazônia terá nova fase ainda este ano


Plano de controle do desmatamento na Amazônia terá nova fase ainda este ano - Gente de Opinião
Parcerias internacionais para o financiamento de projetos de proteção das florestas brasileiras estão
entre os objetivos do governo na COP22 -Arquivo/Agência Brasil

O desmatamento das florestas brasileiras aumentou no ano passado. O país havia freado os níveis de desmatamento em torno de 5 mil a 6 mil quilômetros quadrados por ano e em 2015 passou de 6 mil. “Estamos preocupados, porque está difícil sair desse patamar e continuar a reduzir o nível de desmatamento”, comentou o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Everton Lucero.

“As instituições fiscalizadoras ficaram fragilizadas por falta de orçamento, recursos e pessoal. O orçamento foi recomposto, bem como os meios necessários. Mas sabemos que apenas fiscalização não basta. Precisamos criar instrumentos financeiros que valorizem os ativos florestais e permitam que as pessoas que vivem nas florestas desenvolvam suas atividades econômicas e sejam remuneradas por isso. para que seja mais econômico manter a floresta em pé do que derrubá-la”.

Para o secretário, as parcerias internacionais são fundamentais para financiar projetos de proteção das florestas brasileiras e esse é um dos objetivos do governo na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças climáticas (COP 22), que começa hoje (7) em Marrakesh, Marrocos. Ele informou que o governo está realinhando as políticas de controle e prevenção do desmatamento. “Deveremos lançar, ainda neste ano, uma nova fase do Plano Nacional Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia com foco no viés mais econômico da questão”, informou o secretário.

Financiamento privado

Coautor do livro Crítica à economia verde, o sociólogo alemão Thomas Fatheuer trabalhou em projetos de proteção das florestas na região amazônica durante anos e argumenta que a precificação da natureza não conseguiu frear a devastação. O cientista político esteve no Rio de Janeiro há duas semanas para o lançamento do livro e participou de uma palestra sobre o tema. Para ele, projetos de comercialização de créditos de carbono florestal apenas expandem a lógica do mercado em territórios que antes não estavam inseridos dentro do sistema capitalista de mercadoria.

“A economia verde acaba por dar continuidade ao modelo de urbanização, industrialização e desenvolvimento que causou e continua causando alterações climáticas extremas”, disse ele. “A indústria automobilística na Alemanha priorizou o diesel e atingiu as metas de diminuição de CO², mas polui mais e não diminui a produção de carros”, acrescentou Fatheuer. Ele acredita somente o fortalecimento de mecanismos democráticos de participação e políticas de erradicação da pobreza e diminuição de desigualdades podem realmente reverter o quadro alarmante das mudanças climáticas.

Redd

O mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd), que incentiva o manejo sustentável das florestas e estoque de carbono florestais, por meio de um valor financeiro para o carbono estocado, também é assunto controverso entre ambientalistas e países.

Everton Lucero explicou que o governo brasileiro é contrário à geração de créditos pelo Redd, como querem alguns países e organizações. “Somos contrários pela integridade ambiental, pois se manteria um estoque de carbono aqui no Brasil, autorizando emissões em outros países pela queima de combustíveis fósseis. Isso não resolveria o problema”, disse ele. “Estamos trabalhando para resolver um problema global, não há necessidade de envolver transferência de créditos de carbono para os doadores”, acrescentou.

O diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), André Guimarães, tem posição diferente da que é defendida pelo ministério. Ele acredita que os esforços brasileiros de preservação das florestas devem, sim, se beneficiar dos mercados internacionais - o Redd deveria gerar créditos de carbono. “Menos de 10% dos esforços brasileiros na redução do desmatamento foram remunerados. Cuidar das florestas tem um custo. Por isso, crédito de carbono deveria fazer parte do Redd”, disse ele. “Espero que o Brasil mude sua posição na COP22, porque as florestas brasileiras precisam de investimento para serem preservadas, esse investimento custa caro e é do mundo inteiro, portanto o mundo inteiro tem que participar desse processo”.

Carlos Hittl, secretário executivo do Observatório do Clima, que reúne mais de 40 organizações da sociedade civil, acredita que o mecanismo pode ser útil se houver participação das populações afetadas durante todo o processo.

“O pressuposto básico de um projeto como esse deve ser o consentimento, a compreensão e o engajamento das populações que vivem nos territórios que podem ser objeto de políticas e iniciativas que levem à redução de emissões”, opinou Hittl.

Ele acredita que com participação social e transparência, é possível mudar a lógica da produção predatória e de violência por conflitos de terra como existe hoje. “O Brasil é o país que mais mata ambientalistas no mundo. Metade dos ambientalistas que morreram defendendo a biodiversidade, as florestas, as comunidades foi no Brasil nos últimos dez anos. Hoje, a partir do olhar sobre o carbono há oportunidades de empoderar essas populações na proteção de seu território e garantia de direitos”.

O mecanismo internacional Redd prevê o repasse de recursos, por parte dos países desenvolvidos, para financiar projetos de redução de emissões de CO² em países em desenvolvimento. O Fundo Amazônia é um exemplo de projeto que recebe financiamento a fundo perdido para implementar projetos de desenvolvimento social. O fundo é administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e tem mais de U$2 bilhões de recursos provenientes da Alemanha e da Noruega. São financiados pelo fundo mais de 80 projetos na Amazônia de monitoramento e controle ambiental, ordenamento fundiário e territorial e fomento a atividades produtivas sustentáveis.

Tanto o Redd quanto o mercado de carbono têm críticos severos entre ambientalistas, acadêmicos e ativistas sociais que consideram essas práticas parte de um processo de "financeirização" da natureza, extremamente prejudicial ao planeta e a seus habitantes.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, a partir das 9h, começa o 2º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha, com mais de 80 seringueiros

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia chega aos Diálogos Amazônicos, da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), nos dias 4 a 6 agosto, com sua terce

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

A 'Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia' reunirá, na cidade de Belém, no Pará, entre os dias 4 e 8 de agosto, representações regionais e naci

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

A Cúpula da Amazônia acontece nos próximos dias 8 e 9 de agosto, pela primeira vez, em Belém do Pará. O encontro é um marco das relações entre o Bra

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)