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Planta da Amazônia é testada no combate ao mosquito Aedes aegypti


Foto: Felipe Rosa

 

Uma planta nativa da Amazônia, de nome científico Piper aduncum, pode se tornar mais uma alternativa para combater o mosquito Aedes aegypti, que transmite doenças como dengue, febre amarela, chikungunya e zika vírus. Pesquisas realizadas em Manaus (AM) com essa planta, numa parceria entre a Embrapa Amazônia Ocidental e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), têm contribuído com estratégias para desenvolver bioprodutos para controle do mosquito Aedes aegypti.

Um dos focos de interesse na Piper aduncum é seu alto teor de dilapiol, substância com efeito inseticida já conhecido. Essa substância, definida na química como um fenilpropanoide, vem sendo testada em vários estudos científicos e tem demonstrado também atividade fungicida, moluscida, acaricida, bactericida e larvicida para diversos organismos.

A pesquisa com piperáceas já apresenta resultados promissores, como o estudo realizado pela pesquisadora e química Ana Cristina da Silva Pinto, que culminou com a elaboração de derivados semissintéticos obtidos de princípios ativos isolados da planta Piper aduncum. Desde 2002, Ana Pinto vinha trabalhando com piperáceas no mestrado em Química de Produtos Naturais e no doutorado em Biotecnologia, finalizado em 2008, ambos cursados na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Nesses estudos, Ana contou com orientação do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Adrian Pohlit, doutor em química, e com a co-orientação do pesquisador do Inpa Wanderli Tadei, doutor em ciências biológicas, e do pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Célio Chaves, doutor em agronomia que trabalha com plantas medicinais. 

Eficácia

No decorrer dessas pesquisas, a química isolou princípios ativos da planta Piper aduncum e modificou a combinação de algumas moléculas, transformando-os em derivados semissintéticos, uma estratégia que permite acrescentar vantagens em relação à forma natural da substância como, por exemplo, aumentar a sua forma de ação.

A partir desses compostos foram feitos testes em larvas e em insetos adultos do mosquito Aedes aegypti e em larvas do mosquito Anopheles darlingi (que transmite malária). Os melhores resultados de Piper aduncum foram contra o Aedes aegypti, segundo Ana Pinto. De 15 substâncias derivadas de Piper aduncum, cinco foram selecionadas com melhor efeito no controle do mosquito.

Depois, a pesquisadora elaborou formulações com esses derivados de Piper aduncum e testou várias concentrações da dosagem até perceber que com algumas delas os mosquitos adultos morriam em 15 minutos.  Com o uso dessas formulações-base, foi desenvolvido um creme repelente e iniciada a elaboração de um spray para ambiente e de um produto larvicida.

“O repelente é o que está mais adiantado”, explica Ana Pinto, acrescentando que fez alguns testes preliminares em laboratórios do Inpa. A pesquisadora relata que já foram percorridas várias etapas, que correspondem a aproximadamente 50% do trabalho. “Porém, precisaria repetir alguns dos testes em laboratórios credenciados pela Anvisa para finalizar como produto”, destaca.

De acordo com ela, faltam ainda algumas análises físico-químicas e estudos de prateleira para saber o tempo de duração da atividade repelente, entre outras informações. “Para levar um produto ao mercado demora de cinco a dez anos e precisaria de recurso financeiro para dar continuidade às pesquisas”, afirma a pesquisadora.

Nanotecnologia

Outra estratégia dos pesquisadores para aproveitar o efeito da Piper aduncum contra o mosquito é o uso da nanotecnologia, que permite manipular as substâncias numa escala muito pequena, a partir de átomos, e com isso criar novas estruturas e materiais. O pesquisador Wanderli Tadei, do Laboratório de Malária e Dengue do Inpa, aposta na nanotecnologia para prolongar o efeito da repelência.

“O problema desses óleos essenciais é que eles evaporam muito facilmente, então ele tem um poder de repelência, mas não tem um poder de durabilidade no local de aplicação. Só com o óleo a repelência é de 15 minutos, não mais que isso”, comenta Tadei. “Nós temos um experimento com cápsulas nanoestruturadas e conseguimos a permanência por mais de duas horas, no estado de óleo”, conta o pesquisador.

Mas esse tempo ainda não atende às necessidades do mercado. Por isso, a intenção é avançar nas pesquisas. A estratégia é testar formas de encapsular os óleos para que permaneçam mais tempo ativos, eliminando gradativamente seu conteúdo, e assim se alcance mais tempo de proteção com esses repelentes. “E isso é conseguido aplicando a nanotecnologia”, revela o pesquisador do Inpa. A ideia é aplicar o mesmo princípio também a outros óleos essenciais.

Produção em larga escala

Por se tratar de uma planta bastante promissora, a Embrapa Amazônia Ocidental (AM) vem realizando pesquisas agronômicas com a Piper aduncum para adaptar seu cultivo em escala, assim como vem realizando estudos com o óleo essencial para seu uso contra pragas na agricultura e também para combater mosquitos transmissores de doenças.

Os estudos envolvem também outras plantas da mesma família das piperáceas.  “As pesquisas têm como objetivo obter melhores condições de cultivo e processamento, que permitam preservar os princípios ativos e qualidade de interesse para a elaboração de bioprodutos”, explica o pesquisador e agrônomo Francisco Célio Maia Chaves, que coordena esses estudos na Embrapa Amazônia Ocidental e é responsável por um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Piper spp.

As atividades são desenvolvidas em campo experimental e em laboratório. No campo, são conduzidos  estudos agronômicos sobre técnicas de propagação, adubação, espaçamentos, época de corte, secagem e a influência dessas técnicas na qualidade química do óleo essencial de Piper aduncum. No Laboratório de Plantas Medicinais e Fitoquímica, é feita a extração do óleo essencial, que é repassado a pesquisadores de instituições parceiras para análise da atividade dos compostos químicos presentes na planta.  

Cultivo

A Piper aduncum é conhecida popularmente como pimenta-de-macaco, jaborandi-do-mato ou aperta-ruão. A planta é nativa da região Amazônica, onde pode ser localizada em áreas de borda da floresta, mas também ocorre em outras regiões brasileiras tropicais. A exemplo de outras plantas, o nome popular varia nas regiões e às vezes um mesmo nome se refere a plantas diferentes, o que pode levar a erros de identificação. 

Na possibilidade de vir a ser utilizada para elaboração de bioprodutos, seria necessário o cultivo para a produção em escala e para garantia da matéria-prima correta e com rendimento adequado em óleo. Em um dos estudos agronômicos do pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Célio Chaves, foram identificadas, por exemplo, definições de tempo de colheita que influenciam no teor de óleo. 

Segundo esse estudo, para obter mais óleo essencial da Piper aduncum  e maior porcentagem de dilapiol, o corte da planta deve ser feito aos 12 meses de idade após o plantio, com espaçamento de 1,0 m x 1,0 m a 1,0 m x 1,5 m, e outros cortes podem ser repetidos a cada quatro meses após o primeiro corte. 

Fonte: Siglia Souza (MTb 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental

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