Sábado, 23 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Amazônias - Gente de Opinião
Amazônias

Primeira lei fundiária de Rondônia foi aprovada em 2020; estado tem quase 30% de terras não destinadas


Foto: Vinicius Mendonça/Ibama - Gente de Opinião
Foto: Vinicius Mendonça/Ibama

O estado de Rondônia aprovou a primeira lei que trata de regularização fundiária apenas em 2020, mas ainda falta regulamentação do dispositivo legal para garantir que haja destinação para conservação e usos sustentáveis das florestas públicas não destinadas. É o que concluiu o relatório "Leis e Práticas de Regularização Fundiária no Estado de Rondônia", liderado e publicado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Com um território composto, predominantemente, por áreas pertencentes à União, até dezembro de 2020 a atuação do estado para a regularização fundiária em áreas federais ocorria por meio de convênio com a União, seguindo as regras federais.

A nova lei de terras, que será aplicada em terras que serão transferidas da União para o governo estadual, inovou ao prever a proibição de regularização fundiária para ocupantes e seus cônjuges ou companheiros que tenham cometido crime de grilagem. Segundo pesquisadores do Imazon, no entanto, o crime de grilagem não existe na legislação brasileira e por isso será necessário definir em decreto como esse requisito será implementado.

Mesmo com esse requisito ligado à proibição de grilagem, os pesquisadores avaliaram que a lei estadual deixou de pautar um tema relevante, pois não proíbe a titulação de áreas desmatadas recentemente. "Emitir títulos de terra para imóveis que continuam desmatando é um prêmio, e não uma punição ao desmatamento ilegal", ressalta Brenda Brito, coordenadora do estudo. "Além de permitir a titulação para quem está desmatando, a lei estadual também falha ao não exigir, antes da titulação, a assinatura de compromisso para regularização ambiental de todos os imóveis que possuem desmatamentos ilegais anteriores", completa Brenda.

De acordo com o estudo, 27% do território de Rondônia não estão destinados ou não há informação sobre sua destinação fundiária. Desse total, 42% já estavam inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR), porém, devido à ausência de informações públicas sobre a situação fundiária desses imóveis (se posse ou titulados), não foram considerados no relatório na categoria de imóveis privados (titulados), pois é possível que muitos sejam ocupações em terra pública sem titulação.

Amazônia Legal

Os pesquisadores estimam que os estados sejam responsáveis por 60% das áreas ainda sem clareza fundiária na Amazônia Legal. Por essa razão, é fundamental considerar como as terras públicas estaduais são geridas e quais as lacunas e oportunidades de investimento e apoio para aumentar a eficiência dos órgãos fundiários estaduais e na legislação.

O trabalho do Imazon também incluiu o lançamento do relatório "Dez fatos essenciais sobre Regularização Fundiária na Amazônia Legal", com análises que ajudam a compreender como as leis e práticas fundiárias atuais acabam estimulando o desmatamento e a grilagem na região.

Entre as principais conclusões, ainda está o fato de que 43% das áreas sem destinação fundiária possuem prioridade para conservação, mas que esse dado não é levado em consideração nos processos de regularização fundiária, o que pode levar à privatização associada ao desmatamento.

"O tema da indefinição fundiária na Amazônia está sendo discutido hoje por diferentes públicos e fóruns nacionalmente, devido à relação entre desmatamento e grilagem de terras. Porém, é necessário compreender como as leis e práticas fundiárias contribuem com o desmatamento. Com esse relatório, auxiliamos esse processo de compreensão dos desafios e recomendamos o que pode ser feito para que a União e os estados adotem leis e práticas fundiárias que contribuam com a conservação e redução de conflitos no campo", explica Brenda Brito, pesquisadora do Imazon e coordenadora do estudo.

Para acessar o relatório completo da Amazônia Legal, clique aqui .
Para acessar os dados do estado de Rondônia, clique aqui.

Gente de OpiniãoSábado, 23 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, a partir das 9h, começa o 2º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha, com mais de 80 seringueiros

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia chega aos Diálogos Amazônicos, da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), nos dias 4 a 6 agosto, com sua terce

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

A 'Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia' reunirá, na cidade de Belém, no Pará, entre os dias 4 e 8 de agosto, representações regionais e naci

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

A Cúpula da Amazônia acontece nos próximos dias 8 e 9 de agosto, pela primeira vez, em Belém do Pará. O encontro é um marco das relações entre o Bra

Gente de Opinião Sábado, 23 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)