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Projeto Aripuanã perdeu para os 'bravos migrantes da motoserra'


 

Projeto Aripuanã perdeu para os 'bravos migrantes da motoserra' - Gente de Opinião
Construção pioneira da Uniselva na Floresta da Pré-Amazônia está abandonada. Hoje é usada para o consumo de álcool e drogas /SANDRA CARVALHO

 
 

SANDRA CARVALHO
24horasnewsBlog


CUIABÁ, Mato Grosso – Se as propostas do Projeto Aripuanã defendidas há 38 anos pela então Universidade da Selva (Uniselva) – hoje UFMT – fossem totalmente atendidas, Mato Grosso seria outro. Aquele que seria o momento histórico de conquista racional da Amazônia Norte do Estado foi perdido para os “bravos migrantes da motoserra”.

É assim, desacreditado na revitalização de um projeto que dê prioridade à pesquisa, que o ex-jardineiro, médico e fundador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Gabriel Novis Neves se refere ao Projeto Aripuanã, por ele defendido com a mesma força de um bravo guerreiro logo após a fundação da Uniselva.

Segundo Gabriel Novis, o projeto Aripuanã, que criava um núcleo de pesquisas ambientais no município de Aripuanã, a 1.251 km de Cuiabá, foi interrompido por uma série de problemas externos e internos. “O maior problema externo foi a 2ª crise mundial do petróleo. Todos os projetos de longa distância nos países ditos em desenvolvimento, e que eu os chamo de subdesenvolvidos, foram mortalmente atingidos. Quanto aos internos, pode depositar na conta dos nossos políticos chamados de estadistas!”, observa ele.


 
 

Projeto Aripuanã perdeu para os 'bravos migrantes da motoserra' - Gente de Opinião

Estudantes de enfermagem do campus de Sinop assistiram às aulas com máscaras em 2007, para protestar contra o aumento de queimadas no "Nortão" e a baixa qualidade do ar /ESTUDANTES NET


 

Alunos pobres que não sabem ler

Um dos motivos que leva Gabriel Novis a não acreditar na retomada do Uniselva está em evidência na imprensa esta semana. “Em um país cuja recente avaliação seu ensino fundamental demonstra que nos últimos 10 anos os alunos pobres continuam sem saber ler... Nas classes ricas houve uma melhora, bem inferior, proporcionalmente aos pobres do Chile!”.

Sem medo de errar, o ex-reitor da UFMT e seis vezes secretário de Estado, diz que nutre hoje um sentimento de desolação em relação às políticas públicas nacionais e aos seus políticos. “Vivemos de publicidade e endeusamento do nada, tão referenciado por uma população que perdeu a sua auto-estima!”, completa.

Projeto Aripuanã perdeu para os 'bravos migrantes da motoserra' - Gente de Opinião
Cachoeira das Andorinhas, um espetáculo de águas limpas na floresta, fazia parte do roteiro científico do Projeto Aripuanã /SANDRA CARVALHO



 

Um projeto ao lado das cachoeiras

Foi no município de Aripuanã, marco zero da rodovia Cuiabá-Santarém, na zona de transição entre o cerrado e a maior concentração de florestas tropicais do mundo, que o projeto Aripuanã deu seus primeiros passos. Em agosto de 1972, o primeiro reitor da UFMT, Gabriel Novis, defendeu o projeto que acabou não vingando.

No local, que fica num cenário deslumbrante, bem ao lado das cachoeiras Dardanelos e Andorinhas, resta apenas uma casa de madeira tipo palafitas, usada para o consumo de álcool e drogas.

O Projeto Aripuanã buscava a implantação da Cidade Científica de Humboldt cuja finalidade era a criação da tecnologia nacional que viesse ao encontro das reais necessidades do Brasil e respeitasse o meio ambiente.


 

Projeto Aripuanã perdeu para os 'bravos migrantes da motoserra' - Gente de Opinião

O médico e indigenista Noel Nutels estimulava a prática da medicina no interior, com apoio permanente aos profissionais formados na área /CEARENSES INTERNACIONAIS

 
 

Noel Nutels, consultor científico

Como a região sofria com a ameaça da malária, da existência de grandes espaços insalubres e da importação crescente de doenças de outras regiões, trazidas pela mão-de-obra migratória, Gabriel Novis Neves defendeu a instalação, naquela região, de um centro de pesquisas de doenças de massa e de doenças ambientais.

As metas operacionais do centro, planejadas pelo consultor científico da Universidade, Dr. Noel Nutels, incluíam estimular vocações à prática da medicina no interior e apoiar permanente e dinamicamente o trabalho diário dos profissionais formados na área.


UFMT, que em 1972 era a mais nova Universidade pública do Brasil, reconhecia, ao defender o Projeto Aripuanã, a necessidade da organização de um polígono de conhecimento da Amazônia e que seria constituído pela integração dos sistemas de pesquisas e ensino de todas as Universidades e centros de pesquisas localizados na área.

“Acredito ser a alternativa mais rápida, sólida e racional para o desenvolvimento das atividades educacionais em nível superior”, disse Gabriel Novis Neves, primeiro reitor da UFMT, em seu discurso no I Encontro de Reitores das Universidades Públicas, em Brasília no dia 17 de agosto de 1972 (leia o texto de Gabriel neste site).


 

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Agora, rendendo-se ao progresso a um alto custo socioambiental, o Aripuanã "ganha" a Hidrelétrica de Dardanellos /SANDRACARVALHO


 

Seria um bem para o Planeta

E continuou em seu discurso: “Este grande polígono de forças científicas educacionais resultaria da interligação planejada e programada das Universidades num sistema geral de complementação de atividades de pesquisa e de Ensino Superior na Amazônia” (...).

O projeto não saiu dos primeiros passos. Visionário, hoje Gabriel Novis não esconde o descrédito na retomada de um projeto semelhante ao Aripuanã e que, se tivesse vingado, poderia ter construído um Estado muito mais promissor e com muito mais qualidade de vida para o seu povo, para o País, para o planeta.

 

Originalmente publicado no Blog de Sandra Carvalho, no site 24HorasNews, em Cuiabá. Visite-o

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