Terça-feira, 16 de junho de 2015 - 08h31
Quase extintas na década de 1970, as ariranhas (Pteronura brasiliensis) são animais que historicamente já ocuparam quase todos os biomas brasileiros. Atualmente, as populações estáveis da espécie estão limitadas à Bacia Amazônica e ao Pantanal. A fim de conhecer a dinâmica populacional e espacial desses animais, o Instituto Mamirauá realiza pesquisa com com a espécie há mais de dez anos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Amazonas.
Como parte da iniciativa está o estudo da dinâmica espacial, que investiga a distribuição dos animais, as áreas de vida, os locais utilizados por eles, a fidelidade e temporalidade de uso desses sítios e a movimentação dos animais nas diferentes épocas do ano, na cheia e na seca, por exemplo. Outro foco é o estudo populacional, que prevê a identificação dos animais que ocorrem na região, registrando dados como número de indivíduos e grupos, casais dominantes, número de fêmeas e machos e faixa etária (número de adultos, jovens e filhotes).
André Giovanni Coelho, pesquisador do Instituto Mamirauá, destaca a importância de se conhecer a biologia dos animais, sua distribuição geográfica e dados populacionais para o desenvolvimento de estratégias de conservação. “Essas são questões apontadas como metas no Plano Nacional de Conservação da Ariranha, elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com 42 metas que abrangem desde a parte de genética e ecologia até zoonoses e outros pontos”, afirma.
O esforço do Instituto para acompanhar a reocupação da espécie na região iniciou em 2003. O monitoramento populacional na Reserva Amanã realizado entre 2004 e 2008 registrou 711 indícios da presença de ariranhas, entre animais observados e vestígios, como marcas no substrato, ou seja, camada de terra sob o solo superficial, e vocalizações. Foram identificados 167 indivíduos da espécie. Entre esses, 75 faziam parte de 12 comunidades sociais, e os demais foram avistados individualmente.
“Essa pesquisa é importante porque é um levantamento dez anos depois do primeiro registro de reocupação dos animais nessa região, pretendemos continuar acompanhando o possível crescimento populacional da espécie. Conforme a população aumenta, o conflito com as pessoas também pode aumentar, principalmente pela disputa do recurso pesqueiro”, afirmou o pesquisador.
Para monitorar a ocorrência da espécie, desde o início do projeto nos anos 2000, a equipe percorre os principais cursos d’água ao longo do Lago Amanã de lancha ou canoa em busca de indícios da presença de ariranhas, como rastros ou latrinas e locas, que são abrigos utilizados pelos animais. As localizações dos sítios encontrados são marcadas pelo GPS e os locais avaliados se estão ativos ou inativos, e é observada a continuidade de utilização pelos animais. Uma novidade do projeto realizado atualmente é a instalação de armadilhas fotográficas na área, visando o registro remoto de atividades. As câmeras são ferramentas que auxiliam na identificação dos animais, do tamanho do grupo, da frequência de utilização das áreas e outras informações.
De acordo com o pesquisador, a utilização dos sítios de ocupação por esses animais é muito dinâmica, assim como a movimentação deles dentro das áreas de vida. “Essa variação acontece principalmente em função da disponibilidade do recurso, ou para marcar território”, ressaltou. As fotografias também são feitas nos momentos de encontro da equipe de pesquisadores, técnicos e assistentes de campo e os grupos de animais. As fotografias ajudam na identificação individual de cada animal avistado, pelas marcas que possuem no pescoço.
A espécie sofreu grande redução populacional em meados da década de 1970, principalmente em função da caça para venda de peles, além de outros conflitos com humanos. Atualmente, é considerada ameaçada pela International Union for Conservation of Nature (IUCN)e vulnerável pela lista nacional de espécies ameaçadas do ICMBio e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A espécie também faz parte da lista Cites CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção) desde 1973.
O estudo já registrou a ocupação de novas áreas da Reserva Amanã por ariranhas. Grupos de animais foram avistados nos igarapés do Ubim, Açu e Samaúma. As áreas já haviam sido monitoradas anteriormente e, embora na época houvesse algum vestígio da presença dos animais, esses grupos nunca foram avistados durante os quatro anos de monitoramento de sua presença nessa área.
“Esses são indícios de que a população continua crescendo. A região tem ambientes adequados para a espécie ocorrer, mas os grupos ainda não tinham chegado até lá”, ressaltou André. O registro de nova ocupação foi uma contribuição dos comunitários, que informaram aos pesquisadores da recente presença dos animais na localização, confirmada posteriormente com o registro por meio de armadilhas fotográficas.
Os dados levantados nos anos anteriores servem como referência de comparação para o estudo atual. As imagens registradas na época contribuem para a identificação dos animais, possibilitando que os pesquisadores verifiquem se os mesmos grupos continuam ocupando essas áreas, com as mesmas características, o mesmo casal dominante ou mesmo número de indivíduos, por exemplo.
O projeto prevê capturas na próxima estação de seca. Com a captura e marcação de alguns indivíduos será possível monitorar, por meio de telemetria, os padrões de movimentação dos animais pela região.
Fonte: Amanda Lelis
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