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Suruís decidem como será a 'revolução verde' para 50 anos


 

Suruís decidem como será a 'revolução verde' para 50 anos - Gente de Opinião
 Agamenon, 47 anos, mostra o café conillon colhido desde 1987 em terras Suruí, no município de Cacoal /FOTOS MONTEZUMA CRUZ

  

MONTEZUMA CRUZ
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ALDEIA LAPETANHA, Linha 11, Reserva Sete de Setembro, Rondônia – Nem queimadas, nem derrubadas ou caça desnecessária. Os índios Suruí Paíter se esforçarão para mudar antigos hábitos e se candidatarem ao cobiçado crédito de carbono em 151 mil hectares de um território de 249,43 mil há, herdados do contato com os brancos em 1969 do século passado.

 

Um único mapa ambiental debatido democraticamente, durante quatro dias por homens, mulheres e jovens brotou da discussão em quatro grupos. Com a tecnologia do Programa Google Earth, esse mapa define uma autêntica “revolução verde” capaz de garantir a floresta em pé, a produção de alimentos e o direito a receber créditos de carbono.

 

Uma tonelada de gás carbônico (CO2) equivale a um crédito de carbono. O preço do crédito tem variado muito, mas é calculado em torno de 13 euros (aproximadamente R$ 30).

 

Há relativa pressa na aplicação das medidas aprovadas esta semana. Até 2009 as diversas aldeias dessa etnia que fala a língua Tupi-mondé acumulavam 20,5 mil ha de áreas desmatadas, conseqüência das invasões muito comuns ao seu território, no final dos anos 1970, quando Rondônia recebia levas de migrantes.

 

Os 17 mil ha destinados à conservação de espécies nativas e ao reflorestamento situam-se num raio de oito quilômetros das 25 aldeias e a dois quilômetros da divisa com fazendeiros e com a Terra Indígena Zoró, outra etnia tupi que com eles brigavam desde antes do contato. A produção de grãos e frutas ocupará um total de 96 mil ha.

 

Entre outras espécies serão plantadas mudas de mogno, cerejeira, ipê, açaí, cupuaçu e pupunha. Relatórios das atividades do projeto serão apresentados de três em três anos. É a mais extensa área amazônica e nacional, apta à conservação. Após o contato, ocorrido há 41 anos, a população Suruí diminuiu de cinco mil para 250 pessoas. A reserva só foi homologada em 1983.

 

O desmatamento é responsável por quase 20% das emissões globais de carbono e a maioria das emissões do Brasil. Estima-se que a floresta conservada depois de 2012 seja uma inspiração para um novo acordo de clima que substitua o atual Protocolo de Kyoto, a expirar-se naquele ano.

 

Suruís decidem como será a 'revolução verde' para 50 anos - Gente de Opinião
 Cartolinas na parede com as lições do dia: em 48 horas, indígenas de Rondônia estudam a proteção de seu território, invadido desde meados dos anos 1970

  
 

 

Café, arroz, banana.
A terra indígena produz bem.

 

 

ALDEIA LAPETANHA – Da porta do armazém à debulhadora de café, Almir Suruí acompanha a instalação da balança. Ao meio-dia de sexta-feira, dia em que visitei o Posto Indígena Sete de Setembro, vê-se um movimento bem parecido ao do pátio de uma cooperativa.

 

Para Almir, os 420 mil pés de café conillon (variedade robusta) cultivados desde 1987 precisam render “o justo”. A cotação da safra 2009/2010, colhida entre junho e julho não satisfaz. O problema se agrava desde a crise internacional entre 2008 e 2009, que também causou a diminuição do consumo de café.

 

Esse volume deve render entre 1,5 mil e 2 mil sacos beneficiados, de 60 quilos, o equivalente a R$ 225 mil, na cotação do grão na Zona da Mata de Rondônia, onde se concentram os maiores compradores.

 

– O valor de R$ 150 o saco é pouco. Precisamos negociar melhor – ele diz. Mas não prevê “segurar’’ o produto até o final do ano. Se alcançasse R$ 180, preço pago na safra 2008/2009, os Suruí obteriam até R$ 270 mil. Rondônia é o maior produtor da Amazônia e um dos cinco maiores do País. Obteve 1,54 milhão de sacos do café conillon beneficiado na safra 2009/2010, num percentual de 21% a mais que a safra anterior e, este ano deve ultrapassar novamente aquele volume.


Ao lado do café está a máquina de beneficiamento de arroz, cujo plantio é de subsistência. Pesquisadores e representantes de entidades circulam pelo armazém, organizando máquinas e produção agrícola.

 

O dia é especial. Almir elogia a mãe dele Veitã, 88 anos, e o pai Marimop, da mesma idade, que retornou no sábado de uma viagem à Suíça, onde cumpriu agenda pelo meio ambiente, acompanhado do filho Arildo, 29, irmão mais novo de Almir. Marimop é filho de Iañabi, cacique Suruí antes do contato.

 
 
 

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 Até bebês Suruí prestigiam a assembléia tribal para decidir o futuro do primeiro povo indígena brasileiro a usar imagens de satélite na conservação da floresta

 

“A floresta prestará serviços à Humanidade”

 

ALDEIA LAPETANHA – À frente da Associação Metareilá do Povo Suruí Paíter, o líder Almir fará 36 anos de vida no próximo dia 19 de agosto, mas já ganhou um grande presente de aniversário: parcerias firmadas para tornar realidade um projeto arrojado, voltado para a proteção da biodiversidade, acompanhamento de políticas públicas e desenvolvimento de ações voltadas para o chamado desenvolvimento sustentável.


Metareilá significa lugar de se organizar. E nesse lema, Almir se transforma num embaixador de seu povo. Na divisa entre Rondônia e Mato Grosso, os Suruí agora lutam pela floresta pé. Os investimentos obtidos serão aplicados em um plano de desenvolvimento capaz de garantir pelo menos meio século de sobrevivência da etnia.

 

A etnia se compromete a evitar o desmatamento, que foi grande durante o Programa de Desenvolvimento Integrado do Noroeste Brasileiro (Polonoroeste) elevou os líderes jovens, hoje muito mais bem informados, a refletir a respeito da situação. Em troca, receberá os recursos oriundos da não-emissão de CO2 na atmosfera.

 

São estes os principais parceiros da Associação Metareilá, alguns deles, desde 2005: Kanindé – Associação de Defesa Etno-Ambiental, Associação Suíça de Proteção à Natureza (SBN, sigla em alemão), Usaid – Agência de Desenvolvimento Internacional), IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, ACT – Amazon Conservation Team, Coiab – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, CSF – Conservation Strategy Found.

 

Suruí-Paíter significa “gente de verdade, nós mesmos”. Almir tem um discurso antenado com as alternâncias climáticas no planeta:

 


 

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Amazônias – Quais os primeiros resultados do uso das imagens de satélite para planejar o manejo da terra Suruí?

 

Almir Suruí – Esse trabalho começou há um ano e já ensina muita coisa para nós. É uma experiência muito boa. Temos o tempo todo consultores a serviço do nosso povo e com eles planejamos o nosso desenvolvimento ambiental com produção de alimentos para os próximos 50 anos. Acho possível fortalecer a economia verde não apenas com a responsabilidade sobre a floresta, mas usando os serviços que ela prestará para toda a Humanidade.

 

Como avalia a mudança entre o período do contato com o branco, da luta em defesa da posse da terra indígena, e o atual?

 

Nós tivemos muita interferência em nossa vida.  Nos costumes, na roupa, na alimentação. Precisamos recuperar as tradições e aquilo no que acreditamos, a nossa religião. Ao mesmo tempo, queremos que o atual projeto proporcione emprego e renda para todo o entorno do Parque do Aripuanã. Então, os povos indígenas devem ser reconhecidos e, sobretudo, recompensados.

 

De que maneira os Suruí se situam dentro dos conceitos de conservação ambiental?

 

A gente vê que o Brasil tem legislação bem redigida para o índio e para o meio ambiente. Tudo isso está começando a ser visto de maneira mais ampla. O que falta na política indigenista é compromisso que implemente essas garantias constitucionais. Neste momento esperamos contar com o apoio do Poder Judiciário.

 

O que você espera dessa união das aldeias de seu povo para cumprir as metas desse projeto?

 

Espero um trabalho comum que compatibilize as nossas necessidades, a qualidade de vida, com o meio ambiente. Isso vem fortalecer a economia local, com amplos reflexos na economia nacional e no mercado internacional. Queremos passar noções de conservação da floresta para filhos e netos.

 

Quem apóia esse projeto?

 

O Povo Suruí nada faz sozinho. Nós estamos nos organizando em parcerias  (mencionadas acima) e com certeza levaremos os resultados desta primeira fase para a compreensão mundial. Temos apoio financeiro para enfrentar o grande desafio de sermos os primeiros a conservar a floresta em pé, com o auxílio das imagens de satélite. Esse desafio é encarar o desmatamento.

 

E a política partidária, Almir? Tivemos um índio deputado federal e agora temos Marcos Terena disputando uma vaga da Câmara. Você crê nessa representatividade?

 

Eu penso que essa participação garante o reconhecimento do papel político do indígena, da sua cultura, de todas as etnias, para que o Brasil receba essa diversidade de povos e todos trabalhem juntos. Não basta estar presente no Parlamento apenas para fazer número, porque hoje a política atende a determinados setores. Muito mais que ser mais um lá, o indígena precisa obter soluções para problemas da nossa gente, e eles estão em diferentes regiões brasileiras.

 

Suruís decidem como será a 'revolução verde' para 50 anos - Gente de Opinião
 O líder Almir Suruí observa a instalação da balança eletrônica para pesar a safra de café



 

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A próxima reportagem mostrará de que maneira os Suruís esperam cumprir as metas para a conservação da floresta.

 

 

 

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