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Telégrafo volta a funcionar no primeiro dia de visitas ao Memorial Marechal Rondon, em Porto Velho


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Netas de Rondon, Maria Cecília e Beatriz ouvem o som do telégrafo, revivendo a epopeia das comunicações de cem anos atrás em Santo Antônio do Rio Madeira

Com olhar atento, Maria Cecília Rondon Amarante e Beatriz Rondon Amarante assistiram na manhã desta sexta-feira (11) o reviver do funcionamento da Estação Telegráfica de Santo Antônio do Rio Madeira.

Depois de 100 anos, o telégrafo funcionou novamente no primeiro dia de atividades do Memorial Rondon, inaugurado na véspera (10) pela 17ª Brigada de Infantaria de Selva e pelo Governo de Rondônia. Não estava novo em folha, nem enferrujado, porém, bem conservado.

Maria Cecília e Beatriz, residentes no Rio de Janeiro, são netas do marechal Cândido Mariano Rondon, o mato-grossense que no século passado estendeu 5.500 quilômetros de cabos telegráficos, integrando as regiões então inexploradas do Pantanal Mato-Grossense e Floresta Amazônica

No primeiro ano do memorial, que já é considerado o mais completo do País, governo estadual e Exército Brasileiro administrarão o espaço, transferindo em seguida para a Universidade Federal de Rondônia (Unir), que recebeu da superintendência regional do Serviço de Patrimônio da União ordem para assumir a obra.

Rba = receba – pediu o telegrafista Jorge Ruá ao seu colega telegrafista Apolônio Neto.  Este respondeu: K = pode mandar. Som e mensagem percorreram desta vez apenas 30 metros, entre uma barraca e a sala construída para simbolizar a antiga estação.

Os caracteres transmitidos de um telégrafo original datado de 1900 traduziram o agradecimento à Superintendência Estadual de Turismo (Setur) e às presenças das ilustres visitantes. Compondo o romantismo daquele período, Ruá colocou ao lado do aparelho algumas réplicas dos cadernos de anotação usados por Rondon. “Nessas cadernetas, ele anotava o dia a dia da expedição”, disse.

Ao final do encontro, Beatriz e Maria Cecília posaram para fotos. “Lá fora, nas matas de Santo Antônio, ainda existem nove postes telegráficos originais”, informou Patrícia Civelli, diretora da Memória Civelli, empresa responsável por montar o memorial.

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Memorial Rondon: um espaço para Rondônia conhecer e entender o seu descobridor

RÉPLICAS

A velha canoa lembra “os caminhos que andam”. A roda na qual se amarravam os fios telegráficos tem ao lado a inscrição “a sonda do progresso”, conforme definira o marechal. Para os índios, essa tecnologia da época era mesmo “a língua de Mariano”.

O salão de postos telegráficos mostra réplicas de postos originais que funcionaram ao longo da estrada que mais tarde seria BR-29 e depois BR-364. No mesmo espaço há uma tela original a óleo pintada por Giuseppe Boscagli, doada pela família Rondon Amarante, e diversas referências a etnias.

Patrícia dirige o filme documentário [que agora será exibido diariamente] do qual participa o pai dela, o cineasta Mário Civelli, que durante 35 anos pesquisou o acervo do marechal e dele era amigo pessoal. Mário, autor do primeiro filme em cores do País, morreu em 1993, deixando sua obra “O gigante”, na qual narrando a epopeia da expedição.

Daqui para frente, Rondônia se redescobrirá. Seu descobridor pode ter sido por um tempo esquecido, mas agora, escolas, faculdades, instituições, entidades e o povo em geral, se quiserem, poderão estudar a identidade e a vida desse homem que foi engenheiro, militar, professor de matemática, ciências físicas e naturais, descobridor de rios, montanhas, jazidas minerais e depósitos de metais.

É pouco? Anote mais: foi ele quem completou e retificou mapas, construiu os postos telegráficos [“polos de desenvolvimento em plena selva”] que se tornaram cidades. É consagrado o mais importante indigenista, geógrafo, cartógrafo, botânico, etnólogo, antropólogo e ecologista que o Brasil conheceu no século passado.

O memorial apresenta exposições divididas em partes: na cinefotobiográfica, há painéis fotobiográficos, fotos raras de família, a carta do cientista Einstein indicando Rondon para o Prêmio Nobel da Paz, máquinas fotográficas antigas, livros raros, um quadro e fotos de jogos indígenas.

ORGULHO

Sons de pássaros [uirapuru, bem-te-vi e outros] são ouvidos permanentemente em todo o recinto. A parte 2, cenográfica, mostra o posto telegráfico, barraca de comando, um telégrafo, mastro com bandeira brasileira, maquetes de postos telegráficos, maquete de caminhão com lagartas (Tacos do Amarante) e artefatos indígenas.

“Ele é um orgulho para o povo brasileiro e muita gente ainda não se deu conta disso”, afirmou compenetrado o soldado Tiago Melo, da 17ª Companhia de Infantaria. Um dos escalados para receber visitantes, enquanto mostrava os painéis ele e o colega Cleidison Nunes da Silva se admiravam de alguns feitos do marechal que, em apenas um ano (1989) estudou três séries, ingressando na Escola Militar.

MERIDIANO 52

“Veja o Meridiano 52”, sugeriu Tiago. É o círculo imaginário conhecido desde 1938, que atravessou a região centro-oeste brasileira. O Congresso Internacional de História das Ciências, em Lisboa (Portugal) nominou-o “Meridiano Rondon”.

O painel “Rondon em Ouro” lembra que a Sociedade de Geografia de Nova Iorque (EUA) imortalizou o marechal com outros quatro grandes desbravadores, fundindo seu nome numa placa de ouro.

Além de rios serras e localidades, a única projeção policômica americana da “Carta do Estado de Mato Grosso e regiões circunvizinhas” [um grande mapa] no País, mostra em escala de 1:1 milhão o trajeto da linha telegráfica.

“Ninguém tem outra no País, é única”, comentou Mário César Cabral, um dos responsáveis pela concepção da exposição. Ele mostrou documentos de fé de ofício, um dos quais lembra a morte do major Amarante, em 1929, cujos restos mortais, não se sabe a razão, estão no Cemitério dos Inocentes, quando poderiam ter sido sepultados no mais antigo cemitério da região, em Santo Antônio. Amarante era um dos homens de confiança de Rondon durante a instalação das linhas telegráficas.

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O memorial fica aberto para visitação de terça a domingo, das 10 às 16h

ÍNDIOS E CAMINHOS

Na vitrine também se encontra um raríssimo exemplar do livro “Índios do Brasil”, editado em três volumes pelo Ministério da Agricultura.

Em destaque, um painel com mais de cinco metros reconstitui a histórica foto de 1927 da fronteira Brasil-Venezuela, durante a última inspeção de fronteiras feita pelo marechal. Feita pelo filho dele, Benjamin.

O Parque Nacional do Xingu, diversas fases da construção e inauguração da extinta Estrada de Ferro Madeira-Mamoré estão expostos em painéis bem feitos pela Memória Civelli Produções Culturais. As fotografias são de Dana Merril (EFMM) e de do tenente Luiz Thomaz Reis, que integrava a expedição.

A coordenadora do Projeto Educacional da Memória Civelli, Magali Feliciano, capacitará por dez dias a equipe de atendimento ao público. A empresa se dedicou plenamente ao visual, ao mesmo tempo respeitando as minúcias de datas dos acontecimentos na floresta. O Espaço Cenographico [na grafia original] mostra o cotidiano de Rondon, sua alimentação, utensílios de cozinha e outros.

“O marechal costumava almoçar, e pouco, em companhia dos seus cachorros. Nenhum oficial comia antes dele”, lembrou Mário César Cabral, da Memória Civelli. “Ele dizia: o rancho para os soldados e o chá para o Estado Maior”, mencionou.                                                                                 

VISITAÇÃO

De terça a domingo, das 10 às 16h. Visitantes podem marcar horário pelo telefone 69 – 3216 2438. O Memorial situa-se na Estrada de Santo Antônio, no Largo da Capela, em Porto Velho.

Veja a galeria de fotos

Veja especial sobre Rondon


Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Daiane Mendonça
Secom - Governo de Rondônia

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